Em dois segundos, inteligência artificial identifica incêndios e ajuda no combate às queimadas no DF

Plataforma foi criada em parceria entre Organização Social e Universidade de Brasília. Nos primeiros 10 dias de julho, DF teve mais incêndios florestais que em todo mês de maio. Focos de incêndio identificados no sábado (8) pela inteligência artificial.
Divulgação/SemFogo-DF
Redes de alta velocidade, inteligência artificial e big data unidos para mitigar o impacto ambiental, econômico e social do período da seca provocado por queimadas. Assim funciona um projeto desenvolvido no Distrito Federal que, em 2 segundos, é capaz de identificar incêndios florestais.
O trabalho foi desenvolvido em uma parceria entre a Associação Gigacandanga – uma organização social sem fins lucrativos, ligada à ciência e tecnologia – e o Departamento de Ciência de Computação da Universidade de Brasília (UnB).
“O principal objetivo é gerar alertas de incêndios automáticos, que não necessitem da intervenção humana, como uma ligação, por exemplo”, diz a estudante Natalia Oliveira Borges que participa do projeto.
Responsável pelo modelo computacional que gera os alertas e pelo banco de dados e vídeos, Natalia, de 25 anos, faz pós-graduação em Engenharia Elétrica na UnB. Segundo ela, o “SemFogo-DF” consiste no tratamento de situações de emergência que podem ser catastróficas se não forem tratadas com agilidade.
De acordo com o Corpo de Bombeiros do Distrito Federal, nos primeiros 10 dias de julho, o número de incêndios florestais em Brasília quase ultrapassou o total de maio. Foram 360 ocorrências em 10 dias e 374 ao longo do mês anterior inteiro. Confira mais informações no gráfico abaixo:
Número de ocorrências e total de área queimada no Distrito Federal
Como funciona o ‘SemFogo-DF’
A ferramenta foi criada para trazer uma percepção visual da situação do incêndio para os bombeiros, que contam somente com o relato das pessoas que viram a fumaça, explica a coordenadora do projeto, a professora da Universidade de Brasília Priscila Solis.
“Os bombeiros recebem as notificações somente por telefone, pelo 193. Na maioria das vezes, eles não têm noção do tamanho do incêndio, se é alarme falso ou trote e também tem somente uma informação parcial da localização”, diz a professora.
O projeto, desenvolvido com o investimento de R$ 750 mil reais da Fundação de Apoio à Pesquisa do DF (FAP-DF), em dois anos de pesquisa, contou com o desafio de inserir as características do bioma Cerrado na plataforma para melhorar a análise, como explica a professora.
“Quando começamos o projeto descobrimos que existiam alguns modelos no exterior para identificação do fogo, mas nenhum que considera-se as características do Cerrado brasileiro. Então um dos desafios que nosso projeto teve foi adaptar o modelo a esse bioma, que tem algumas características bem definidas, por exemplo, na época da seca muita poeira e neblina, que muitas vezes pode ser confundida com fumaça”, afirma.
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Como funciona a inteligência artificial?
Uma das câmeras colocada no topo da Torre de TV Digital, no Lago Norte.
Divulgação/SemFogo-DF
A plataforma utiliza quatro câmeras de alta resolução instaladas na parte mais alta da Torre de TV Digital de Brasília, a 120 metros do chão. As câmeras captam imagens de um em um minuto do DF e arredores com a visão panorâmica de 360°.
Os vídeos são enviados por meio de uma rede óptica direto para o Campus Darcy Ribeiro da Universidade de Brasília (UnB), na Asa Norte. No local, onde fica a sede do GigaCandanga, são aplicados modelos de inteligência artificial nas imagens que identificam o movimento da fumaça nos vídeos.
Assim, o sistema define a probabilidade da fumaça ser de fato a origem de fogo e dispara um alarme. A imagem fica dividida em quadrados, que têm as bordas verdes, quando há pouco risco de incêndio, ou amarelas, laranjas e vermelhas, com focos com mais de 30% de risco.
No Centro de Gerenciamento Ambiental do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF), onde é feita a gestão do combate de incêndios, o painel com as imagens permite um zoom, ou a aproximação, em 30 vezes do local identificado e os bombeiros podem verificar a complexidade do incêndio.
Desta forma, os militares planejam em poucos minutos a quantidade de pessoal e equipamentos que devem ser enviadas ao local. A coordenadora do projeto, professora Priscila Solis, destaca que a tecnologia pode cada vez mais contribuir para a preservação da natureza.
“Reduzir as perdas de fauna e flora com o uso da tecnologia é algo que traz o benefício da ciência a cada morador (inclusive os não humanos) do Cerrado”, diz a professora.
Uso da plataforma pelos bombeiros
Os bombeiros de Brasília estão utilizando a plataforma há quatro semanas. Em julho, período com aumento do número de queimadas, a ideia é aperfeiçoar a ferramenta para melhorar o desempenho, segundo a professora Priscila Solis.
“O SemFogo-DF está em um período de aprimoramento, pois ao utilizar um sistema de inteligência artificial, é necessário um período de treinamento e aprimoramento, de tal forma que o sistema fique mais especialista que um ser humano”, diz Priscila.
Segundo ela, a partir de agosto, quando a situação das queimadas fica mais grave, é preciso fazer a contabilização e entender como o sistema pode contribuir no trabalho dos bombeiros.
Para os militares, com as imagens é possível realizar um planejamento mais eficiente do combate dos incêndios florestais.
“Conseguimos visualizar a dimensão mais ampla do incêndio e enviar recursos adequados para o local. A gente consegue acompanhar do nosso Centro de Gestão Ambiental, o desenvolvimento do combate e verificar o andamento, mandar mais recursos se for necessário, como aviões, drones, viaturas diferenciadas e pessoal, e também é possível monitorar possível reignição” [recomeço dos focos de fogo], dizem os bombeiros.
Ideias para aprimorar o projeto
Imagem captada por uma das câmeras instaladas na Torre de TV Digital, no Lago Norte.
Divulgação/SemFogo-UnB
Para o futuro do projeto, a ideia, de acordo com a professora Priscila Solis, é ampliar o número de câmeras de monitoramento — incluindo drones — e também utilizar tecnologias como 4G e 5G para expandir o “SemFogo” para além do Distrito Federal.
Além disso, utilizar métodos para definir a localização exata da queimada e também permitir o envio de imagens de celulares por pessoas que observaram a fumaça são outros dois planos para melhorar o desempenho da inteligência artificial.
Dicas para prevenção de incêndios
Segundo o Corpo de Bombeiros, a melhor forma de combater as queimadas é a prevenção. A corporação dá dicas de como evitar incêndios florestais:
Sempre capinar em volta e tirar o mato do local onde for fazer uma fogueira ou colocar velas;
Fazer aceiros ao redor de casas, currais, galpões, etc, e mantê-los bem roçados;
Não fazer a queima de lixo nem de restos de vegetação para limpeza de terreno.
Em caso de emergências, ligar 193.
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Projeto usa inteligência artificial para monitorar incêndios
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