Conar abre processo por propaganda que recriou Elis Regina com IA

O Conar (Conselho Nacional Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária) instaurou nesta 2ª feira (10.jul.2023) um processo ético para apurar a propaganda da Volkswagen que recriou a cantora de MPB (música popular brasileira) Elis Regina (1945-1982) usando técnicas de deepfake e de IA (inteligência artificial).

Intitulada “VW Brasil 70: O novo veio de novo”, a campanha produzida pela agência AlmapBBDO mostrou a artista que morreu em 1982 dirigindo uma Kombi enquanto canta a música “Como nossos pais” com sua filha, a também cantora Maria Rita, que dirige um ID.Buzz. O filme foi feito em comemoração aos 70 anos da Volkswagen no Brasil.

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Em nota sobre o processo (leia abaixo), o Conar mencionou “queixa de consumidores” que questionam “se é ético ou não” o uso de ferramenta tecnológica e inteligência artificial para trazer pessoa morta de volta à vida. “Adicionalmente, questiona-se a possibilidade de tal uso causar confusão entre ficção e realidade para alguns, principalmente crianças e adolescentes”, disse.

Assista à propaganda (2min): 

A propaganda foi denunciada pelo advogado Gabriel de Britto Silva e pede a interrupção da veiculação do anúncio e a advertência pela peça publicitária. Afirmou ser necessária “a limitação do uso da IA em publicidade e o estabelecimento de diretrizes para o seu uso”. Eis a íntegra (95 KB).

“A emoção veio na mesma proporção do desconforto. Tal fato permite reflexões sobre questões de natureza ética, já que se está diante de pessoa humana falecida e que não pode reivindicar o uso da própria imagem. Não se sabe sequer se viva fosse, a Elis autorizaria a imagem, ainda mais para fabricante de automóveis e para fins estritamente comerciais”, disse.

No documento, o advogado citou artigos do Código do Conar para embasar a denúncia, como o 27 (“O anúncio deve conter uma apresentação verdadeira do produto oferecido”) e o 34 (“Este Código condena a publicidade que […] ofenda […] outras suscetibilidades daqueles que […] sejam de qualquer outra forma relacionados com pessoas já falecidas cuja imagem […] figure no anúncio”).

Segundo informou o Conar, a representação será julgada nas próximas semanas por uma das Câmaras do Conselho de Ética do conselho. O julgamento deve ser realizado em 45 dias depois da abertura da representação.

O OUTRO LADO

O Poder360 procurou a empresa Volkswagen e a AlmapBBDO nesta 2ª feira (10.jul) por e-mail às 21h27min para questionar a respeito da instauração do processo ético do Conar por conta da peça publicitária. Até a conclusão e publicação deste texto, nenhuma resposta foi recebida. Quando e se desejar expressar sua posição, este post será alterado para incluir a declaração da montadora de carros e da agência a respeito do caso.

Eis abaixo a íntegra da nota do Conar: 

“O Conar abriu hoje, 10 de julho, representação ética contra a campanha ‘VW Brasil 70: O novo veio de novo’, de responsabilidade da VW do Brasil e sua agência, AlmapBBDO, motivada por queixa de consumidores.

“Eles questionam se é ético ou não o uso de ferramenta tecnológica e Inteligência Artificial (IA) para trazer pessoa falecida de volta à vida como realizado na campanha, a ser examinado à luz do Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária, em particular os princípios de respeitabilidade, no caso o respeito à personalidade e existência da artista, e veracidade.

“Adicionalmente, questiona-se a possibilidade de tal uso causar confusão entre ficção e realidade para alguns, principalmente crianças e adolescentes.

“A representação será julgada nas próximas semanas por uma das Câmaras do Conselho de Ética do Conar, garantindo-se o direito de defesa ao anunciante e sua agência. Em regra, o julgamento é efetuado cerca de 45 dias após a abertura da representação.

“O Conar aceita denúncias de consumidores, assim como outras manifestações sobre a peça publicitária, bastando que sejam identificadas. Em obediência à LGPD a identidade dos denunciantes é protegida.”

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