Uma chance para o criminoso, nenhuma para a vítima

Em abril deste ano, ela procurou a delegacia para alertar sobre a crescente agressividade do marido, que a espancava, e ameaçava até mesmo os filhos pequenos.

Noticiamos na semana passada mais um caso de violência extrema contra mulher. Suzane Chaves, 29 anos, uma jovem mãe de dois filhos, foi vítima de feminicídio na cidade de Medianeira. Ela lutou incansavelmente para escapar das ameaças e agressões do seu ex-marido (40 anos), porém, lamentavelmente, sua luta terminou de forma trágica nas mãos do homem com quem teve um relacionamento por mais de 11 anos.

Suzane, moradora de Francisco Beltrão e de Salto Lontra, havia se mudado para a região Oeste há menos de dois meses, justamente para escapar das ameaças do ex-companheiro. O casal se separou em abril deste ano, quando Suzane foi para a casa de sua mãe em busca de proteção. Ela chegou a denunciar o ex-marido à polícia, relatando ter sido agredida com chutes. No entanto, apesar das diversas denúncias, o relacionamento violento teve um desfecho trágico.

É preciso questionar por que este caso em particular chama atenção em meio a tantos outros crimes semelhantes no país. Vivendo em uma sociedade marcada pela violência, onde as vítimas são apenas números sem rosto e sem nome, a situação de Suzane é absurda e revoltante.

Ela foi vítima recorrente de violência física e psicológica, tendo feito diversas denúncias e registros de ocorrência na Polícia Militar. Ou seja, fez tudo o que estava ao seu alcance para pedir ajuda e proteção. Suzane contava com uma medida protetiva em seu favor, que foi violada pelo ex-marido. E aqui cabe a pergunta: qual a eficácia dessas medidas protetivas? Quantas mulheres morrem com medida protetiva em vigor?

Em abril deste ano, ela procurou a delegacia para alertar sobre a crescente agressividade do marido, que a espancava, e ameaçava até mesmo os filhos pequenos, de 10 e 6 anos. Ela expôs toda a situação, revelando o medo pela própria vida. O Ministério Público e o Juízo da Comarca de Salto do Lontra reconheceram a gravidade do caso e decretaram prisão preventiva do agressor em 24 de abril deste ano. O magistrado local entendeu que a prisão era necessária para garantir a ordem pública, considerando a agressividade e a periculosidade do acusado, que já havia cometido crimes de violência contra a mulher, estava constrangendo ilegalmente seus filhos e tinha violado a ordem para não se aproximar da vítima.

No entanto, diante da complexidade do sistema judiciário brasileiro que, muitas vezes, transforma o que é fácil em algo difícil, o homem foi colocado em liberdade pelo Tribunal de Justiça através de um habeas corpus em 12 de maio. O desembargador responsável alegou: Apesar da gravidade do descumprimento de ordem judicial e de qualquer tipo de violência contra a mulher, as circunstâncias especiais do caso permitem que ao acusado seja “concedida uma última chance”, substituindo sua prisão cautelar por medidas alternativas.

Uma última chance? Infelizmente, era tudo que o ele precisava. E o homem aproveitou a última chance para matar a mulher. “Uma chance para o criminoso, nenhuma para a vítima”.

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