Criada do Dia da Mulher por trio de educadoras, ONG implementa mais de 80 bibliotecas na Amazônia

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ONG Vaga Lume incentiva leitura por meio da abertura de bibliotecas no interior da Amazônia
ONG Vaga Lume/Divulgação
Belezas são coisas acesas por dentro. Há 22 anos, no dia 8 de março de 2002, Dia Internacional da Mulher, três jovens amigas iniciaram uma expedição pelo Norte do país. Era o começo de uma trajetória da ONG Vaga Lume que já implantou mais de 80 bibliotecas comunitárias em comunidades ribeirinhas, beiradeiras, rurais, quilombolas e indígenas em 22 municípios.
O projeto começou no Pará, onde foram semeadas as primeiras bibliotecas em Soure, no Marajó, e Alter do Chão, em Santarém. O Pará é o estado com mais espaços de leituras da Vaga Lume. Atualmente, há 28 bibliotecas no estado, sendo seis delas quilombolas e uma indígena.
Em 2024, mais de 14 mil livros serão distribuídos para os espaços de leitura implantados e apoiados pelo projeto, que trabalha para o fortalecimento da cidadania por meio do incentivo à leitura na Amazônia Legal, que possui apenas 13% das bibliotecas públicas brasileiras. Gigante, a região cobre 58,9% do Brasil e é o lar de 28,1 milhões de brasileiros. Dentro desse território, fundamental para a vida, está a maior floresta tropical do mundo e, também, a maior provedora de água doce do planeta. Ao mesmo tempo, concentra grandes desafios. Os dez municípios com os piores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) estão na região Norte e 20% de sua população é analfabeta funcional.
“A Amazônia é uma região com desafios gigantes, alvo de muitas tensões sociais e ambientais, e que atrai grupos que a veem como campo de exploração, e não propõem soluções. Nessa mesma região, há pessoas com potencial de transformação, de absorver as oportunidades, de criar e reinventar as coisas. É um paradoxo? É, mas eu continuo apostando. Acredito que as pessoas da região são as únicas que vão conseguir realmente equacionar essa solução para todos nós”, diz Sylvia Guimarães, cofundadora e presidente da Vaga Lume.
Equipe de voluntários da ONG no interior do Pará
Divulgação/Vaga Lume
Em mais de duas décadas de trabalho, a ONG já distribuiu 163 mil livros, implantou mais de 80 bibliotecas e formou mais de 5 mil mediadores de leitura, voluntários que leem para as comunidades – trabalho esse que já impactou a vida de 109 mil crianças e jovens. O seu propósito é incentivar, por meio da leitura, a formação de pessoas mais engajadas na transformação de suas realidades.
Para este ano, além de milhares de livros distribuídos, uma série de outras iniciativas está prevista, como a abertura de quatro bibliotecas; a doação de mais de 20 estantes, mobílias e esteiras para os espaços de leitura; a realização de cursos de formação presenciais para novas bibliotecas comunitárias e oficinas de produção de livros artesanais; e a promoção de intercâmbios com outras escolas e organizações sociais de São Paulo e oito comunidades com bibliotecas da Vaga Lume. O trabalho coletivo irá impactar cerca de 14 mil crianças e adolescentes.
Em 2023, a Associação Vaga Lume foi eleita pela terceira vez, sendo duas consecutivas, a Melhor ONG de Educação do Brasil pelo Prêmio Melhores ONGs do Instituto Doar. No mesmo ano foi contemplada pelo novo prêmio United Earth Amazônia, na categoria ESG, da sigla em inglês Environmental, Social, and Corporate Governance (Ambiental, Social e Governança) e, também, foi uma das organizações selecionadas em todo o mundo para receber uma doação da filantropa MacKenzie Scott. Em 2022 foi vencedora do Prêmio Jabuti na categoria Fomento à Leitura. Conheça o mini documentário Vaga Lume no YouTube e acesse o site da associação.
Sonhadoras
As amigas Sylvia Guimarães, Laís Fleury e Maria Teresa “Fofa” Meinberg em expedição pela Amazônia
Divulgação/Vaga Lume
Mulheres movidas a sonhos. Onde eles as podem levar? No desejo de conhecer o Brasil para além das cidades, as amigas Sylvia Guimarães, Laís Fleury e Maria Teresa “Fofa” Meinberg, saíram de São Paulo rumo à maior região do Brasil, a Amazônia. Jovens educadoras, elas tinham o propósito de aprender e compartilhar, e foi aí que tiveram a ideia de levar livros e formar mediadores de leitura pelos lugares onde passassem.
Então, em 2001, partiram para implementar um projeto piloto em municípios do Pará. A ação foi tão bem aceita pelas comunidades que, em 2002, elas fizeram uma viagem de nove meses por todos os estados da Amazônia Legal brasileira, levando livros e formações por 53 comunidades rurais.
Quando voltaram para São Paulo, onde ficava a pequena sala que haviam alugado para ser o escritório do projeto, elas encontraram muitas cartas pedindo para que voltassem, pois havia muitas outras comunidades querendo bibliotecas e pessoas querendo formações. Assim nasceu a Vaga Lume.
“A ONG começou como um sonho, como uma aposta na promoção da leitura como essa estratégia de transformação social. A educação é um investimento de longo prazo. É muito gratificante ver que a gente plantou sementes, as comunidades cuidaram, regaram e hoje a gente tem árvores que dão frutos, que são os mediadores de leitura, que antes eram crianças das bibliotecas, cresceram com esses espaços de leitura e hoje estão à frente dos trabalhos das bibliotecas e também ocupando outros espaços, indo para o ensino superior e atuando na vida acadêmica”, diz Sylvia Guimarães uma das fundadoras e presidente da Vaga Lume.

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