‘Como se eu fosse uma atração de circo’: empresário revela preconceitos que já sofreu por conta de tatuagens

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Matheus Hooks tem mais de 65 tatuagens pelo corpo – o que lhe deu mais coragem, mas também o tornou alvo de bastante preconceito “Comecei a fazer tatuagens como forma de expressão. Hoje, tenho mais de 60 tatuagens, algumas no rosto e na cabeça”
Reprodução
Diego Matheus Carlota Rocha cresceu imerso em um mundo de bom gosto e criatividade: seu pai era decorador, e seu avô, alfaiate. Sempre que podia, visitava o ateliê do avô e, assim, nasceu seu interesse pela moda.
Mais conhecido como Matheus Hooks, o empresário e jornalista, criador da revista internacional Hooks Magazine, também teve contato com outros elementos durante a juventude que definiram sua personalidade, como a sua sexualidade e a religião da família.
Além de decorador, o pai de Matheus era também pastor de uma igreja evangélica, fator que o fez demorar a aceitar a orientação sexual do filho. Hooks tinha apenas 16 anos quando passou por um episódio aterrorizante de homofobia, e não pôde encontrar na família o apoio que esperava.
Ao completar 18 anos, decidiu que não queria mais ser visto como frágil. Por isso, começou a se tatuar. “Comecei a fazer tatuagens como forma de expressão. Hoje, tenho mais de 60 tatuagens, algumas no rosto e na cabeça”, disse.
Ele conta que sua primeira tatuagem foi uma árvore na mão direita – uma homenagem à família. O pai, que tentou resistir ao desejo do filho de se tatuar, o acompanhou até o estúdio. Ali, viu que a aplicação de tinta na pele era algo normal, e também uma arte.
Para Matheus, esse é um dos sinais que mostram como sua família passou a aceitá-lo com o tempo. “Foi um processo longo até eu sentir que meus pais realmente me aceitavam. Mas quando finalmente senti essa confiança, foi como se tivesse nascido de novo”, conta.
Preconceitos por conta das tatuagens
“Foi um processo longo até eu sentir que meus pais realmente me aceitavam. Mas quando finalmente senti essa confiança, foi como se tivesse nascido de novo”,
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Apesar de ser aceito pela família, Hooks precisou – e ainda precisa – encarar olhos tortos pela rua devido ao grande número de tatuagens que tem no corpo. Ele revela que, conforme mais tattoos fez, mais o tratamento que recebia das pessoas mudou.
“Lembro como se fosse hoje quando fiz minha primeira tatuagem na cabeça. Foi um peixe na parte direita da cabeça. Naquele mesmo dia, depois da tatuagem, fui ao mercado com meus pais. Foi como se eu fosse uma atração de circo; todo mundo me olhava com espanto. Foi nesse dia que vi como era ser o ‘diferente’ do lugar”, lembra.
O empresário e jornalista não se esquece de seus privilégios quando fala sobre o preconceito que sofre. Ainda assim, vê como “incrivelmente desafiador” lidar com esse ódio diário.
“Mesmo me considerando hoje um homem privilegiado, com orgulho das minhas conquistas e de quem sou como pessoa, às vezes um olhar preconceituoso em um ambiente, como um mercado, pode arruinar meu dia”, desabafa.
A discriminação é histórica
O preconceito contra as tatuagens nasceu praticamente junto com a arte de aplicar tinta sob a pele. Ao menos no Ocidente, as primeiras pessoas a se tatuarem (como conhecemos a tattoo hoje) foram os marinheiros, fuzileiros navais, piratas, errantes e rebeldes – ainda durante as décadas de 1920 a 1940, quando nem mesmo mostrar o corpo era algo comum.
Com isso, cresceu um estigma em torno da tatuagem, associando a arte de tatuar a “marginais” e pessoas “vulgares”. O preconceito, no entanto, perdura até os dias de hoje.
Uma pesquisa realizada pela Tattoo2me, em março de 2018, com 5.390 pessoas, apontou que 57,96% dos entrevistados relataram ter sofrido algum tipo de preconceito por terem tatuagem. Desses, 73,89% relataram ter sofrido preconceito dentro da própria família e outros 22,26% sofreram preconceito no trabalho.
Outro dado importante é que quanto mais tatuagens maior o preconceito, assim como Matheus relatou. A pesquisa revelou que 41% das pessoas com apenas uma tatuagem sofreram algum tipo de preconceito. Já 55% das pessoas dizendo ter 5 tatuagens sofreram discriminação, e 77% das pessoas com 12 tatuagens passaram por algum episódio de rejeição.
Protegidos por lei
A discriminação contra pessoas com tatuagem é coibida pela legislação brasileira. A Lei N.º 1.582 de 2007, por exemplo, proíbe a discriminação de pessoas portadoras de tatuagem e piercing.
Além disso, o artigo 482 da CLT (Consolidação das Leis de Trabalho) define que as tatuagens não devem e não podem ser motivos para a demissão por justa causa. Há ainda a Lei Nº 9.029 de 1995 que diz que é crime a discriminação de pessoas com tatuagens no ambiente de trabalho.
“A tatuagem me deu mais coragem”
Matheus Hooks afirma que assumiu sua personalidade aos 18 anos quando fez sua primeira tattoo, e tem seguido seu próprio caminho desde então. “Tudo o que conquistei com certeza foi impulsionado pela coragem que tento transmitir por meio do meu estilo”, disse.
Para ele, ter estilo é simplesmente ser quem você é, o que significa transmitir sua essência para o seu dia a dia.
“Parece muito fácil falar isso, mas na prática é fácil mesmo. É você mentalizar o que você se sente bem em usar, em fazer, se sente confortável. E consequentemente, se você se sente bem, vai estar confortável e mais feliz consigo mesmo para lutar pelo que quer e acredita. Por isso, a personalidade e o estilo dizem muito sobre uma pessoa”, destaca o empresário e jornalista.

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