Traficante FB vai a júri popular, 14 anos após helicóptero da PM ser abatido e matar 3 PMs; relembre

Fabiano Atanásio, o FB, é a única liderança do CV apontada nas investigações como mandante do ataque ao Morro dos Macacos, em Vila Isabel, que resultou no confronto e na derrubada da aeronave. Até hoje não se sabe exatamente quem, de fato, atingiu o veículo da PM. Helicóptero em chamas ao ser abatido, em 2009
Agência O Globo/Fabiano Rocha
Em 17 de outubro de 2009, três policiais militares do Grupamento Aeromóvel da Polícia Militar (GAM) foram mortos durante uma guerra entre traficantes, depois que o helicóptero da corporação foi abatido a tiros e caiu na Vila Olímpica do Sampaio, na Zona Norte do Rio.
Passados quase 14 anos, três criminosos foram condenados pelo crime. O quarto — e último formalmente acusado — sentará no banco dos réus nesta terça-feira (20), a partir das 9h, no 3º Tribunal do Júri. Fabiano Atanásio da Silva, o FB, é a única liderança do Comando Vermelho apontada nas investigações como mandante do ataque ao Morro dos Macacos, em Vila Isabel, que resultou no confronto e na derrubada da aeronave.
A favela, por sinal, foi alvo de nova investida da facção na noite da última sexta-feira (16), mostrando que, de lá para cá, muito pouco mudou no cenário de violência do Rio de Janeiro.
Penas de mais de 200 anos
Em setembro do ano passado, outros dois traficantes foram condenados pelo mesmo crime: Magno Fernando Soeiro Tatagiba de Souza, o Magno da Mangueira, e Leandro Domingos Berçot, conhecido como Lacoste.
Condenados por três homicídios qualificados e seis tentativas de homicídio, eles tiveram suas sentenças estipuladas em 193 anos, um mês e dez dias.
Em 2019, outro réu do mesmo processo, Luiz Carlos Santino da Rocha, o Playboy, foi condenado a 225 anos. Um quinto acusado, Michel Carmo de Carvalho, morreu antes de seu julgamento.
Fabiano Atanásio da Silva está preso preventivamente no presídio federal de Catanduvas, no Paraná, desde janeiro 2012. Ele foi levado para fora do Rio logo depois de ser capturado pela Polícia Civil em uma mansão em Campos do Jordão (SP).
À época, FB era o traficante mais procurado do estado. Responsável pelas bocas de fumo da Vila Cruzeiro, no Complexo da Penha, ele foi apontado pela Secretaria de Segurança à época como o mentor da invasão ao Morro dos Macacos.
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Disque Denúncia oferecia R$ 10 mil por informações que levassem a encontrar traficante FB, preso em 2012 em SP
Divulgação/Disque-Denúncia
A guerra e a queda da aeronave
Na virada de 16 para 17 de outubro de 2009, mais de uma centena de bandidos do Comando Vermelho de várias favelas da cidade se reuniram no Morro do São João (vizinho aos Macacos) e no Morro da Mangueira (a cerca de três quilômetros), para atacar a favela controlada à época pela facção Amigos dos Amigos (ADA).
A PM invadiu a região para tentar conter a guerra que aterrorizava a população. Pela manhã, a aeronave Fênix da PM foi atingida por disparos e acabou caindo na Vila Olímpica do Sampaio com seis tripulantes.
Os policiais militares Izo Gomes Patricio, Marcos Standler Macedo e Edney Canazaro morreram. O piloto Marcelo Vaz de Souza (queimaduras na mão esquerda), o copiloto Marcelo Mendes (levou um tiro no pé) e o cabo Anderson dos Santos (queimaduras graves) ficaram feridos.
A investigação do caso ficou a cargo da 25ª DP (Engenho Novo), que indiciou 26 traficantes. Até hoje, no entanto, não se sabe exatamente quem, de fato, atingiu a aeronave.
À época, Ilan Nogueira Sales, um integrante da quadrilha de Manguinhos, era apontado pelos órgãos de inteligência como principal suspeito de ter feito os disparos. Ele nunca respondeu por isso.
Na denúncia apresentada pelo Ministério Público contra os quatro réus, e recebida pela Justiça, a promotoria descreve a conduta de FB neste trecho:
“…organizou e liderou a empreitada criminosa de invasão da comunidade conhecida como Morro dos Macacos, determinando previamente a seus comparsas que empregassem violência consistente em efetuar disparos de armas de fogo contra todos os opositores à ação do grupo, além de ter participado diretamente da invasão e estar presente no local, também armado, reforçando a atuação e fornecendo seu apoio moral aos comparsas ainda não identificados, para que estes praticassem o crime acima descrito”.
FB era, de fato, uma das principais lideranças do Comando Vermelho em liberdade na época da guerra, mas bandidos acima dele acabaram ficando longe do banco dos réus.
Marcio dos Santos Nepomuceno, o Marcinho VP, principal nome da facção, e Elias Pereira da Silva, o Elias Maluco, assassino do jornalista Tim Lopes e dono do Complexo da Penha, por exemplo, sequer foram citados no inquérito. VP segue preso e Elias cometeu suicídio em 2020.
Fábio Pinto dos Santos, o Fabinho São João, chefe do tráfico do São João e de Manguinhos, e Alexander Mendes da Silva, o Polegar, então chefão da Mangueira, chegaram a figurar entre os acusados, mas nunca responderam como mandantes do ataque.
Fabinho chegou a ser preso, foi solto e preso novamente. Ele entregou suas favelas para a cúpula da facção e largou o crime. Assim como Polegar, que foi preso no Paraguai em 2011 e, depois que foi solto, em 2013, abandonou a vida do crime por meio do AfroReggae.
O próprio MP, na cota da denúncia, em 2010, entendeu que as investigações da Polícia Civil deveriam continuar, já que “não trouxeram aos autos um suporte probatório mínimo acerca de suas efetivas participações na empreitada criminosa, não autorizando, nesta oportunidade, a deflagração da pretensão punitiva estatal”.

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