Um em cada quatro domicílios não tem acesso à rede de esgoto, aponta IBGE


Segundo o Censo sobre as características de moradia dos brasileiros, cresceu a fatia da população que mora em edifícios de apartamento. O IBGE divulgou nesta sexta-feira (23) dados do Censo sobre as características de moradia dos brasileiros.
São números que falam de um Brasil que avançou. Em um intervalo de pouco mais de duas décadas, a proporção de brasileiros vivendo em domicílio com sistema de esgoto adequado subiu de 59,2% para 75,7%. A cobertura cresceu em todos os estados. No entanto, 49 milhões de brasileiros seguem sem acesso ao saneamento básico.
Proporção de brasileiros vivendo em domicílio com sistema de esgoto adequado subiu
JN
Mas o que está faltando para o Brasil resolver de vez esse problema? O direito à saúde está na Constituição, é direito de todos. Além disso, existem marcos legais falando especificamente sobre saneamento básico. É claro que os avanços das últimas duas décadas são positivas. Mas do lado de cá do muro da desigualdade, existem milhões de brasileiros que ficaram para trás. Basta olhar para as margens do Rio Botas, em Belford Roxo, Baixada Fluminense, para ver.
“O nosso esgoto aqui é na rua principal. Aqui, todo mundo joga lixo aí, vem de lá para cá”, conta o laminador metalúrgico Luís de Moura.
As casas jogam o esgoto no rio, que transborda e joga o esgoto de volta para as casas.
“Tudo de ruim, né? Inseto, ratos, enchente, como você vê aí. Aqui nesse local já chegamos a ter água, no meu caso, na altura do pescoço”, diz o aposentado Ronaldo Brandão.
Apesar de representarem 55% da população, pretos e pardos são quase 70% dos brasileiros sem esgoto
JN
Apesar de representarem 55% da população, pretos e pardos são quase 70% dos brasileiros sem esgoto.
“Qual é o retrato de quem não tem saneamento no nosso país hoje? São pessoas jovens, de até 20 anos de idade; crianças de 0 a 4 anos sendo prejudicadas por doenças sucessivas de diarreias, doenças associadas à falta de saneamento básico. São pessoas autodeclaradas pardas, pretas, indígenas. Então, a gente está falando de uma parcela da população que precisa do mínimo, do básico para poder se desenvolver e ter um futuro melhor e garantido”, afirma Luana Pretto, diretora-executiva do Instituto Trata Brasil.
Desigualdades regionais também são imensas no país em relação ao saneamento básico
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As desigualdades regionais também são imensas: 90% dos domicílios de São Paulo têm rede de esgoto; no Amapá são apenas 11%.
“O esgotamento sanitário, em relação aos outros serviços saneamento, é de expansão mais difícil, mais custosa, demanda mais investimento. O investimento tem um certo tempo de maturação. Então, a cobertura do serviço saneamento, de esgotamento, é inferior, por exemplo, ao que a gente verifica na coleta de lixo, no abastecimento de água”, explica Bruno Perez, analista do Censo.
Em todo o Brasil, quase 5 milhões tem que se virar com baldes e bicas porque não tem água encanada. Na casa do vendedor ambulante Bruno Tavares, o fornecimento é tão irregular que, se não fosse o poço, a família passava sede.
“Água que a gente bebe é bastante suja também, água não é limpa. Vira e mexe a gente tem dor de barriga, febre, essas coisas todas. E a gente sabe que é devido à água que não tem sua devida qualidade”, diz.
Em três municípios brasileiros têm mais gente vivendo em prédios
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A pesquisa que trata das características dos domicílios brasileiros também revela que mais de 80% dos brasileiros vivem em casas, mas a quantidade de pessoas vivendo em apartamentos quase dobrou em 20 anos. Em três municípios brasileiros têm mais gente vivendo em prédios: Santos e São Caetano do Sul, em São Paulo, e Balneário Camboriú, em Santa Catarina.
São grandes construções que não fazem parte da paisagem de um bairro quase rural na Baixada Fluminense, onde o líder comunitário Luiz Renato Rodrigues faz o alerta: comunidade que não tem esgoto também carece de cidadania.
“O saneamento é a ponta que aparece. Mas a gente não tem oportunidade, nossos adolescentes não têm perspectiva de muita coisa. Nós estamos abandonados pelo poder público”, lamenta.
O g1 fez um mapa interativo onde você pode encontrar os dados da sua cidade; confira.
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