Professor e líder indígena, cacique da etnia Huni Kuin no Acre morre com Lúpus: ‘grande perda’


José Benedito Ferreira, mais conhecido como Bené, morreu no Pronto-Socorro de Rio Branco após ficar sete dias entubado. Cacique da Terra Indígena da Praia da Carapaña, em Tarauacá, recebeu diagnóstico de Lúpus há oito meses e estava em tratamento Casa de Apoio à Saúde Indígena (Casai). Cacique Bené morreu no Pronto-Socorro de Rio Branco
Arquivo pessoal
Uma das lideranças indígenas mais conhecidas e importantes do Acre, José Benedito Ferreira, mais conhecido como Bené, cacique da Terra Indígena da Praia da Carapaña, em Tarauacá, interior do Acre, morreu vítima de Lúpus no Pronto-Socorro de Rio Branco na última quarta-feira (14).
Além de cacique e líder do Povo Huni Kuin, Bené atuou como professor por mais de 20 anos na educação indígena e sua morte gerou uma comoção nas redes sociais. A Secretaria de Educação, Cultura e Esporte do Acre (SEE-AC), a Fundação Nacional Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), a secretária de Povos Indígenas do Estado, Francisca Arara, entre outras autoridades, lamentaram a morte da liderança. (Veja notas abaixo).
Ao longo de sua atuação como educador, Bené trabalhou no fortalecimento da cultura e na luta dos direitos dos povos indígenas na região do Vale do Juruá. Ele tinha 50 anos, era casado, pai de cinco filhos e dois netos.
Ao g1, o presidente da Federação do Povo Huni kuin do Acre (Fephac), Ninawá Inu Huni kuin, disse que o cacique descobriu que estava com Lúpus há cerca de oito meses e a doença estava avançada. Na época, Bené veio para Rio Branco para fazer exames e recebeu o diagnóstico.
“Ele sentia os sintomas, veio para uns exames e estava em um estado bem delicado. Fez exames particulares para receber o diagnóstico concreto e há 90 dias foi desenganado pelos médicos. Ele continuou fazendo os exames porque não conseguia voltar para a aldeia, estava com o pulmão bem comprometido, não podia pegar sol, nem fica muito tempo sentado”, explicou Ninawá.
O indígena acrescentou que o cacique não conseguiu tomar remédios mais fortes no combate do Lúpus por conta do comprometimento do pulmão. “Não sei bem o que ele tinha no pulmão, mas estava bem comprometido, com mais de 50% comprometido. Ele ficou entre sete a oito meses na Casai. Não teve condições de fazer o tratamento completo”, lamentou.
O presidente contou também que o professor esperava uma vaga na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) quando morreu enturbado no PS.
“Professor Bené era parte do segmento de liderança hereditária, como eu, e era cacique geral. Foi assessor de assuntos indígenas em Tarauacá, foi presidente de associação, trabalhou na coordenação dos professores indígenas e a principal bandeira de luta dele era a educação indígena na tentativa de criar programas de educação específica para os povos na intenção de manter o fortalecimento cultural, trazer um desenvolvimento alternativo para as comunidades através da educação. Era uma liderança muito importante”, concluiu.
Notas de pesar pela morte do cacique
SEE-AC
A Secretaria de Estado de Educação, Cultura e Esporte (SEE) manifesta o pesar pelo falecimento do Professor e líderança indígena José Benedito Ferreira, conhecido como Bené, ocorrido na última quarta-feira (14), na cidade de Rio Branco, aos 50 anos de idade.
Liderança do povo Huni Kuin, da Terra Indígena Kaxinawá da Praia do Carapanã, aldeia Água Viva, em Tarauacá, onde atuou por mais de 20 anos contribuindo com a construção da educação escolar indígena no estado do Acre.
Que Deus dê o consolo necessário a toda família, amigos e colegas de trabalho neste momento de dor e saudade. E que se renovem a Fé e a Esperança para continuar a caminhada nesta terra com o coração em paz.
Funai
Com profundo pesar, a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) recebe a notícia do falecimento do professor e líder indígena José Benedito Ferreira, conhecido como Bené, ocorrido na última quarta-feira (14), na cidade de Rio Branco, aos 50 anos de idade.
Liderança do povo Huni Kuin, da Terra Indígena Kaxinawá da Praia do Carapanã, em Tarauacá, no estado do Acre, Bené desempenhou um importante papel para sua comunidade e para o movimento indígena.
Cacique Bené atuou como professor por mais de 20 anos e contribuiu imensamente para o fortalecimento da cultura e na luta dos direitos dos povos indígenas do Vale do Juruá. O líder e educador indígena deixa um legado de luta que perdurará nas memórias daqueles que tiveram a honra de conhecê-lo
A Funai expressa profundo pesar pela perda e solidariza-se com sua esposa, cinco filhos, três netos, amigos e com o povo Huni Kuin do território Kaxinawá da Praia do Carapanã neste momento de tristeza.
Que o seu legado siga sendo fonte de inspiração para todos que lutam pela defesa dos direitos dos povos indígenas, em especial na luta pela educação escolar indígena de qualidade. O sepultamento acontecerá hoje (15) na Aldeia Água Viva, Terra Indígena Kaxinawá da Praia do Carapanã.
Secretaria Extraordinária dos Povos Indígenas (Sepi-AC)
Externamos o mais profundo pesar pelo falecimento do cacique José Benedito Ferreira, mais conhecido como Bené, uma das lideranças indígenas mais reconhecidas do Acre.
Bené deixa um sentimento de perda irreparável ao Povo Huni Kuī e um legado para a educação, que será sempre lembrado devido seu compromisso com a cultura e educação de seu povo.
Expressamos nossas condolências à família, amigos e toda a comunidade indígena neste momento de luto e dor. Que seu legado de dedicação e sabedoria perdure entre nós.
Francisca Arara
Secretária de Povos Indígenas
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