“NY Times” lança newsletter gratuita sobre clima extremo

Por Sophie Culpepper*

E se você recebesse um e-mail curto que alertasse sobre a probabilidade de climas extremos e explicasse o nível e o tipo de risco onde sua filha está trabalhando no verão, ou onde seu pai mora em uma comunidade de aposentados, ou onde você está planejando viajar no fim de semana? E se você pudesse receber um único e-mail que resumisse qualquer risco de clima extremo em nível baixo, moderado ou alto para todos esses lugares?

O New York Times acredita que esse sistema pode ser útil para você. Nesta semana, a organização lançou uma newsletter que permite aos leitores selecionar até 4 lugares nos Estados Unidos e receber um e-mail matinal caso haja risco de qualquer um dos 4 tipos de clima extremo –chuva excessiva, tornados, ventos fortes ou chuva de granizo– para os próximos 3 dias.

Os leitores não precisam ser assinantes do Times para receber a newsletter “Your Places: Extreme Weather”. O serviço é o exemplo mais recente de investimento do veículo em boletins personalizados. Também é um exemplo de experimentação e ênfase do Times em dados meteorológicos.

The New York Times has launched Your Places: Extreme Weather, a newsletter about extreme weather risks in places important to you. Sign up today and we’ll let you know when forecasters see a risk of tornadoes, hail, high winds or excessive rain. https://t.co/kNq0ixXLbc pic.twitter.com/ki0V6FlDbO

— The New York Times (@nytimes) May 31, 2023

Os leitores só recebem um e-mail se houver risco “baixo” (sinalizado em amarelo), “moderado” (laranja) ou “alto” (vermelho) de clima extremo em um ou mais dos locais escolhidos. Eles podem alterar os 4 locais selecionados sempre que quiserem.

As categorias de cores consolidam e simplificam as designações do Serviço Meteorológico Nacional, que variam conforme o tipo de fenômeno climático. Elas também se baseiam nos dados do serviço e na detecção de riscos, razão pela qual o alcance geográfico é limitado aos Estados Unidos contíguos (a região abrange somente os 48 Estados norte-americanos e o Distrito de Colúmbia. Não considera o Alasca e o Havaí).

Você pode inserir um endereço específico, o que resultará em alertas meteorológicos para uma área de 2,5 km2 ao redor desse local (com base nas classificações do censo), ou uma cidade inteira.

O boletim informativo é uma criação da equipe de dados meteorológicos do Times. A organização desenvolveu o grupo no ano passado ao contratar, no último verão, John Keefe como editor de dados meteorológicos para liderar “uma nova equipe na redação focada em tornar o Times um meio para cobertura de clima extremo”.

Keefe, que anteriormente era editor-sênior de dados e visuais da CNN e que também escreveu para o Nieman Lab, disse-me que se lembra de ter conversado com o meteorologista do Times Judson Jones sobre as “perspectivas diárias” do Serviço Nacional de Meteorologia, que a agência usa para prever clima severo no que Keefe chamou de “bolhas” de regiões em todo o país.

“Conversamos sobre como eles são incrivelmente precisos e como ninguém está realmente usando esses dados em todo o seu potencial”, disse Keefe.

Embora qualquer pessoa no setor meteorológico dependa constantemente desses dados –e o Times os usaria internamente para determinar se e quando entrar em contato com repórteres em todo o país– eles não estavam sendo analisados e levados diretamente a não especialistas, explicou Keefe. “Nós apenas pensamos: ‘ei, isso seria ótimo para trazer aos leitores’”, disse.

“Até onde sabemos, não tínhamos conhecimento de ninguém fazendo isso –onde você poderia dizer: ‘Ei, me avise quando um dessas bolhas [de clima severo], basicamente, estiver sobre uma cidade que me interessa’”, acrescentou Keefe.

Quando apresentou a ideia ao Times, Keefe disse que usou um exemplo de Nova Orleans, onde o Serviço Nacional de Meteorologia mostrou ter um risco elevado de tornados naquele dia. Várias horas depois que ele fez a apresentação, um tornado atingiu os arredores da cidade.

“Foi apenas um exemplo perfeito para dizer: ‘olha, eles são bons em prever essas coisas. Podemos ajudar a levar essas informações aos nossos leitores’”, disse.

O objetivo da newsletter é informar o planejamento e aumentar a “consciência situacional” dos riscos climáticos extremos em qualquer combinação de lugares de interesse dos leitores, “seja seus locais de férias, seja onde eles têm filhos, pais ou entes queridos”, afirmou Keefe.

Ele enfatizou que esses e-mails não substituem alertas de emergência com alto nível de urgência, como os que você receberia em seu telefone. Como o e-mail é enviado apenas uma vez por dia nos dias em que um risco é detectado, os leitores não receberão alertas sobre a evolução dos padrões climáticos no final do dia, embora possam verificar o painel de clima extremo do Times para obter informações atualizadas.

“Não é um imediato ‘oh, eu preciso ir para o porão’. É um ‘temos este piquenique planejado para depois de amanhã, talvez eu deva reconsiderar isso’ ou viagens, ou o que quer que seja. É somente para estar ciente”, disse Keefe.

“Mas esses alertas, ao aumentar a conscientização geral, podem tornar o leitor mais propenso a ficar atento aos desenvolvimentos no final do dia ou a aguardar uma notificação de emergência”, acrescentou.

A equipe decidiu permitir a seleção de no máximo 4 lugares para tentar alcançar um equilíbrio “entre o que poderíamos projetar para a página, para o e-mail e para o celular, versus dar uma seleção suficiente” que fosse útil, disse Keefe.

Para definir e padronizar os 3 níveis de risco climático, o Times consultou especialistas sobre quais termos usar e pesquisou como os fatores contribuem para as mais variadas categorias do Serviço Nacional de Meteorologia.

A equipe tentou tornar suas 3 categorias de nível de risco “um pouco mais simplificadas” e fáceis de entender pelos leitores, disse Keefe. Essencialmente, o nível inferior significa “pelo menos alguma chance de clima extremo”. O médio significa “é provável que condições climáticas adversas ocorram”. E o mais alto significa “tempo extremo e perigoso é esperado” em uma determinada área, conforme o painel do Times.

A equipe de dados meteorológicos do Times trabalhou “intensamente nas últimas semanas” para desenvolver a newsletter em colaboração com outras equipes, incluindo a de gráficos, design de notícias digitais e equipes de notícias interativas, bem como a equipe de mensagens e personalização do produto, disse Keefe.

O boletim informativo é “100% automatizado”. O “cruzamento geoespacial” de padrões climáticos extremos identificados em qualquer um dos locais selecionados pelo usuário aciona automaticamente um e-mail personalizado. Mas Keefe enfatizou que o serviço não depende de nenhuma inteligência artificial.

“O conceito básico é ser bastante direto”, disse Keefe. “Escolha um lugar. É um dos lugares com risco, envie os e-mails”. 

Mas “operacionalmente, é muito mais complicado” em termos de infraestrutura e desafios de design. O serviço exige grandes quantidades de dados, distribuir resumos personalizados para um “público do tamanho do New York Times” e tornar dados meteorológicos, às vezes complexos e densos, compreensíveis.

Os e-mails são todos assinados por Jones, o meteorologista. Como parte da preparação para a criação deste produto, Jones elaborou vários descritores que poderiam ser inseridos no e-mail por meio do processo de automação —por exemplo, descritores para um risco menor em um local e maior em duas outras regiões.

O único ajuste manual desses e-mails automatizados, disse Keefe, virá para os padrões climáticos de alto risco. Jones pode adicionar manualmente o contexto sobre eles e vincular a reportagens do Times, porque é onde os leitores provavelmente desejam e precisam de informações adicionais.

O conceito da newsletter também se baseia no e-mail de rastreamento de covid geograficamente personalizado do Times, disse Keefe. Embora esse e-mail tenha sido enviado regularmente, independentemente dos níveis de covid em cada lugar, a equipe meteorológica está “enviando e-mails apenas para pessoas onde o risco existe” e é detectado pelo Serviço Nacional de Meteorologia. Isso apresentou seus próprios desafios de implementação e “acabou sendo um quebra-cabeça que precisava ser resolvido”, disse Keefe.

Ele descreveu o novo e-mail como uma “próxima etapa na personalização”, na qual a programação de envio é determinada pelas condições dos dados, e não, por exemplo, quando um escritor termina uma coluna.

A equipe espera expandir o serviço para incluir dados de lugares além dos Estados Unidos contíguos e de regiões internacionais. Também planeja rastrear outros tipos de clima extremo, disse Keefe. Mas o foco era colocar o serviço em funcionamento agora e expandir mais tarde.

Os alertas meteorológicos, observou Keefe, há muito são da alçada das organizações de notícias locais. Mas “muitos leitores, em todo o país, estão em situações em que… as notícias locais disponíveis para eles estão diminuindo”. Nesse contexto, a equipe concordou que “fornecer mais diversidade geográfica em nosso serviço” é um grande benefício deste projeto.

*Sophie Culpepper é redatora do Nieman Lab. 

Texto traduzido por Jessica Cardoso. Leia o original em inglês

O Poder360 tem uma parceria com duas divisões da Fundação Nieman, de Harvard: o Nieman Journalism Lab e o Nieman Reports. O acordo consiste em traduzir para português os textos do Nieman Journalism Lab e do Nieman Reports e publicar esse material no Poder360. Para ter acesso a todas as traduções já publicadas, clique aqui.

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