‘Parece a Ucrânia’, diz morador ao rever casa abandonada após afundamento de solo em Maceió

Exploração de sal-gema por mineradora provocou rachaduras e destruição em parte da capital alagoana, que agora tem bairros totalmente desertos. ‘Parece a Ucrânia’, diz morador ao rever casa abandonada após afundamento de solo em Maceió
Ao ver uma sequência de casas em uma rua de Maceió enquanto andava junto com a equipe do Profissão Repórter, o aposentado Célio Lopes da Silva se entristeceu com o rastro de destruição provocado pelas mineradoras de sal-gema no local onde ele viveu boa parte da vida.
“Aqui morava a minha avó. Minha infância foi toda nessa casa 1391. Tudo abandonado agora”, lamenta o aposentado.
“Moramos aqui 29 anos eu e meus irmãos. Éramos seis, papai e mamãe. Infelizmente parece uma demolição geral, uma guerra, né. Parece a Ucrânia”, ressalta.
Célio Lopes da Silva lamenta ver o estado de conservação da casa onde viveu com a família por 29 anos
Reprodução/TV Globo
O Profissão Repórter desta terça-feira (6) exibiu mais um episódio da série “Pra Onde, Brasil”, sobre erradicação da pobreza, água limpa, fome zero e cidades sustentáveis – quatro dos 17 objetivos estabelecidos pela ONU para um mundo mais sustentável, desenvolvido e justo até 2030.
A exploração do sal-gema nas mineradoras da Braskem provocou rachaduras em vários imóveis da capital do Alagoas. Muitos dos moradores foram forçados a deixar suas casas e comércios para trás a contragosto, por segurança – mesmo sem recomendação dos órgãos competentes, como ocorreu com o frade franciscano Frei José Romildo Honorato.
“A gente saiu por precaução né, porque aqui é uma instituição religiosa. Começou com essas rachaduras, eram pequenas e começou a aumentar”, explica Honorato, revelando que a Braskem disse que não era necessário deixar o local. “Até agora disseram que não foi afetado ainda. E até agora estamos aqui esperando uma resposta”.
Frei José Romildo Honorato ainda aguarda para saber como ficará a situação da instituição religiosa que geria antes das rachaduras
Reprodução/TV Globo
O filho do padeiro Nijauro Ribeiro não consegue conter o choro ao ver a padaria do pai de portas fechadas. Ele faleceu há cerca de dois anos, depois que precisou encerrar o comércio de anos por conta das rachaduras – Nijauro era o último comerciante a manter as portas abertas naquela região.
“Eu sei o que ele passou, o que a gente passou também, para ter isso aqui e ir assim embora, do nada. Fechou as portas infelizmente”, relata Nijauro Ribeiro Filho.
Nijauro Ribeiro Filho fecha as portas da padaria que o pai manteve por anos, fechada por conta das rachaduras estruturais
Reprodução/TV Globo
O que diz a Braskem
A mineradora Braskem, apontada pelos moradores como responsável por provocar as rachaduras nas construções de Alagoas, não quis dar entrevista à equipe do Profissão Repórter.
A assessoria da empresa, então, enviou uma carta onde afirma que “a extração do sal-gema foi encerrada em 2019”, e que “a empresa tem tomado medidas para fechar definitivamente os poços de sal”.
Disse, ainda, que “até abril de 2023, 18.955 propostas de indenização foram apresentadas aos moradores das áreas de desocupação, em um número equivalente a 99% das áreas afetadas”, e que destas, “17.877 já foram aceitas, e 16.618 já foram pagas”. E, ainda, afirmou que “mais de 99% dos imóveis das áreas definidas pela Defesa Civil já foram desocupados”.
Veja a íntegra do programa abaixo:
Edição de 06/06/2023
Confira as reportagens do programa:

Adicionar aos favoritos o Link permanente.