‘Vitória coletiva’, diz paciente com câncer que teve remissão em um mês após terapia celular em MG

Aline é a primeira paciente a passar pelo tratamento Car-T Cell no estado. Entenda como a técnica atua no organismo humano. Aline no hospital para transplante de medula óssea, em 2018 (esquerda); Aline realizando “Car-T Cell”, em 2023 (direita).
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“Eu tenho um sentimento muito grande de gratidão pela equipe médica, pela minha família, pelos meus amigos. Vejo como uma vitória coletiva. Eu, sozinha, não daria conta”.
A cientista política Aline Bruno Soares, de 44 anos, comemora a remissão de um câncer após um mês de terapia celular. Ela é a primeira paciente a passar pelo novo procedimento, o Car-T Cell, em Minas Gerais.
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Aline luta contra a doença desde 2015, quando foi diagnosticada com linfona não Hodgkin (LNH), um tipo de câncer do sangue que ataca os glóbulos brancos, responsáveis pelo sistema de defesa do organismo.
Durante oito anos, ela realizou vários tratamentos considerados agressivos, apresentou melhoras, teve recaídas e até fez transplante de medula óssea. No entanto, o linfoma voltou com força total em 2022.
“Na época, minha médica tentou a última linha de quimioterapia possível. Foi uma adaptação de uma medicação para câncer de mama. E fui vivendo o que dava para viver”, contou Aline.
Passaporte
A cientista política chegou a emitir um passaporte para tentar uma chance de tratamento experimental fora do Brasil, pois todos os métodos possíveis no país haviam sido descartados para o caso dela.
Foi quando, ainda no ano passado, surgiu a possibilidade de testar o Cart-T Cell. A tecnologia é considerada revolucionária e, em Minas Gerais, está disponível no Hospital Oncobio, do Grupo Oncoclínicas, em Nova Lima, na Grande BH.
“O Car-T Cell é uma terapia de medicamento biológico, em que as células do próprio paciente, os linfócitos T, são colhidas, manipuladas geneticamente e ensinadas a procurar pelo tumor. Quando essas células retornam para esse paciente, elas identificam e acabam destruindo completamente o tumor”, explica Leonardo Gomes, coordenador do Centro de Transplante de Medula Óssea e Terapia Celular do Grupo Oncoclínicas-RJ.
Após os trâmites judiciais para que o plano de saúde custeasse o procedimento, Aline se internou em março deste ano. Depois de 19 dias no hospital, ela recebeu alta.
“Cheguei do hospital na semana da Páscoa e pude aproveitar mais esta data feliz ao lado deles [a filha Bruna, de 10 anos, e o filho Arthur, de 8]”, disse Aline.
Arquivo pessoal
A terapia foi autorizada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para estudo clínico em julho de 2022. Atualmente, a técnica só existe na rede privada brasileira, ao custo de ao menos R$ 2 milhões por pessoa.
Para que um paciente de câncer seja considerado “curado”, é preciso permanecer cinco anos sem apresentar sinais da doença. Apesar disso, exames recentes mostraram que os linfomas de Aline tiveram remissão e que a terapia está funcionando.
“Eu me acho uma pessoa com muita sorte. Parece incoerente, né?! A pessoa tem câncer e fala que está com sorte. Mas ainda que seja uma doença gravíssima, dolorosa, sofrível, tem um outro extremo: o de uma solidariedade absurda, de eu ter família, amigos e uma rede até de desconhecidos incrível”, afimou Aline.
Agora ela segue com acompanhamento médico e consultas de rotina. A esperança é de que receba o diagnóstico de cura definitiva em 2027.
Como funciona o tratamento

O médico Leonardo Gomes explica que a terapia Car-T Cell no Brasil é liberada pela Anvisa para três indicações:
Linfoma difuso de grandes células do tipo B (o tipo mais comum de linfoma não Hodgkin);
Leucemia linfoide aguda (LLA) em pacientes de até 25 anos de idade;
Mieloma múltiplo (apesar de aprovado, ainda não foi precificado comercialmente).
“Infelizmente não é possível aplicar para todos os tipos, mas salva aqueles pacientes que não tinham nenhuma opção. O que a gente tem visto nos pacientes que foram tratados é que as respostas são muito rápidas, em um cenário em que não tinha o que fazer”, explicou o médico.
A produção da terapia tem início com a coleta dos linfócitos de defesa do tipo T do paciente, que são como “soldados” do sistema imunológico, e que são levados para o laboratório e modificados geneticamente.
Essas células são modificadas geneticamente para reconhecer o câncer, são multiplicadas em milhões e devolvidas ao paciente, onde circulam, encontram e matam o tumor sem afetar as células normais.
As próprias células do paciente são “treinadas” para combater o câncer.
“Um cenário que era sombrio, hoje em dia a gente tem uma luz no fim do túnel – e eu diria que é uma luz bem forte”, concluiu Leonardo.
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