CPM 22 e João Rock: como trajetória da banda se mistura com a história do festival em Ribeirão Preto

Primeira a subir no palco na primeira edição do evento, ainda em 2002, se tornaria uma das atrações mais assíduas do evento em duas décadas. ‘Caiu como uma luva’, afirma Badauí. CPM 22 se apresentou neste sábado (11), na edição 2022 do João Rock, em Ribeirão Preto, SP
Érico Andrade/g1
Músicas liderando as paradas nas rádios, trilha sonora em novelas e videoclipes premiados marcavam uma fase que acabaria por representar um divisor de águas na carreira do CPM 22 há 20 anos, no mesmo período em que o João Rock dava seus primeiros passos antes de se tornar um dos maiores festivais de música do país.
Desde o início, a trajetória da banda de Barueri, hoje uma das mais assíduas entre as atrações que já estiveram em Ribeirão Preto (SP), se confunde com a do evento de pop rock nacional no interior de São Paulo.
“A gente tocou em quase todos [os anos]. Fomos a primeira banda a subir no palco do festival, foi a primeira banda do primeiro dia, da primeira edição do festival, só tinha quatro bandas na época”, lembra o vocalista Badauí, ao referir-se ao João Rock 2002, quando apenas quatro atrações tocaram no evento então realizado no estádio do Comercial, para um público bem inferior ao contabilizado atualmente.
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É dessa mesma época que o grupo de hardcore saía da cena underground paulistana e ganhava o grande público.
Em 2002, quando estreou no festival, a banda já tinha canções como “Regina Let’s Go’, “Tarde de Outubro” e “O Mundo Dá Voltas” estourando nas rádios, como repercussão do sucesso do álbum CPM 22, lançado em 2001, considerado o primeiro trabalho produzido com uma gravadora depois do independente “A Alguns Quilômetros de Lugar Nenhum” (2000).
Além disso, os músicos ampliariam ainda mais sua presença entre os jovens com “Dias Atrás” e “Ontem” a partir da gravação, ainda naquele ano, do projeto “Chegou a Hora de Recomeçar”, com turnê a partir de 2003. Um período considerado determinante para outras conquistas que ocorreriam mais tarde, segundo Badauí.
“Esse disco foi como botar gasolina no fogo, porque a gente já vinha de três singles muito bem sucedidos do primeiro disco, o público só crescendo, saindo em tudo quanto é mídia na época, aparecendo em um monte de programa de televisão. (…) Aí vieram mais quatro singles que emplacaram também, foram até maiores. Dias Atrás foi um negócio muito grande, entrou na trilha sonora da Malhação”, lembra o vocalista.
Em entrevista ao g1, Badauí lembra dos marcos da carreira da banda, ao mesmo tempo em que analisa a evolução do João Rock ao longo dos últimos anos. Confira, nos tópicos a seguir:
Underground no palco: um estilo em evidência
Um álbum produzido na estrada
Bastidores, encontros e memórias de um festival
Rock, pop, ecletismo: o que permanece e o que muda
Tempo de estrada e novos projetos
Badauí liderou o CPM 22 durante o show no João Rock 2017
Igor do Vale / G1
Underground no palco: um estilo em evidência
Badauí se lembra que, depois dos CDs “Alguns Quilômetros de Lugar Algum” e “CPM22”, o CPM estava ganhando notoriedade fora da cena underground quando recebeu o convite para figurar entre as quatro bandas – ao lado de Ira!, Titãs e Cidade Negra – que tocariam no incipiente festival de música no interior de São Paulo.
“Já estava com uns quatro singles na rádio, então o show já tinha uma consistência. A gente já vinha tocando por uns dois anos de show direto, então já estava mais entrosado no palco, claro com muita coisa pra aprender ainda”, conta.
Diante das milhares de pessoas que foram conferir o evento, o vocalista avalia que o CPM surgia com uma proposta diferente, com uma pegada punk rock e um comportamento no palco que chamaram atenção.
“A gente veio com uma estética diferente, com uma música atrás da outra, sem falar muito no show, então rolou um impacto. (…) A nossa estética de show era underground, isso chamou atenção da mídia, porque era uma banda nova, da nova geração”, diz.
Ele acredita que a energia compartilhada aquele dia seria essencial para “fincar a bandeira no festival”. “O CPM veio com sua identidade melódica e rápida ali e caiu como uma luva no festival. A galera adora, eu fico muito contente com isso, de a gente tocar ao lado de grandes bandas.”
Show do CPM 22 em 2017 no João Rock
Igor do Vale / G1
Um álbum produzido na estrada
Foi durante uma agenda lotada por compromissos como o João Rock, país afora, que a aposta definitiva dessa fase tão especial para a banda tomaria forma com o lançamento, ainda em 2002, do álbum “Chegou a Hora de Recomeçar.”
“A gente estava na estrada fazendo 15, 20 shows por mês, só que a gente estava com aquela pegada, aquela vontade, aquele tesão do jovem, queria fazer show, fazer disco, fazer tudo.”
Apesar da empolgação, o vocalista conta que não foi fácil concretizar o projeto, que foi sendo desenhado nas folgas entre as apresentações. “A gente fazia as músicas na estrada mesmo, levava o violão pro quarto, se juntava e fazia as músicas.”
De tudo que foi escrito, 14 músicas foram as escolhidas para fazer parte do álbum, gravado em cerca de dois meses, segundo o vocalista.
“O disco ficou até mais legal que o primeiro, mas não teve muito tempo de compor com calma, foi uma coisa imediata, de gravadora, com a gente também empolgado, querendo fazer, também regravamos mais duas músicas do disco independente que não tinham ido pro primeiro, então foi meio na raça ali.”
A conquista do disco de ouro, por conta do volume de vendas, ajuda a exemplificar o sucesso que ocorreu com hits como “Desconfio”, “Dias Atrás”, que foi tema de “Malhação”, “Não Sei Viver Sem Ter Você” e “Ontem”, entre outras gravações.
“A gente gravou esse disco e metemos mais quatro singles na rádio que foram muito bons. A banda só foi crescendo, e a gente começou a lotar mais ainda [os shows], começamos a segurar as datas, a gente tinha que fazer divulgação do disco também.”
Badauí celebra os 20 anos de carreira do CPM 22, em Ribeirão Preto, SP, no João Rock 2015
Érico Andrade/G1
Tamanho foi o retorno positivo que a turnê do disco se estendeu até 2005. “Ficamos três anos tocando a tour desse disco, tocamos no Brasil inteiro, pra depois começar a trabalhar no [álbum] ‘Felicidade Instantânea.’”
Uma linguagem mais solta, para falar de um jeito direto com os jovens, em combinação com guitarras distorcidas e arranjos acelerados, são características que, na visão do fundador do CPM, podem explicar a repercussão dessas músicas até hoje.
“Acho que é a estética toda, porque tem músicas que falam de sentimentos, boa parte delas, músicas que falam do cotidiano do jovem, sobre frustrações, conquistas, superação, só que de uma forma alternativa que é o grande lance: falar dessas coisas sem ser meloso, piegas.”
Bastidores, encontros e memórias de um festival
Dali em diante, o CPM 22, que ainda colecionaria outros sucessos como “Um Minuto Para o Fim do Mundo” e “Irreversível”, se estabeleceu com um público fiel, grande parte dele assíduo frequentador do João Rock, na medida em que esse se tornou obrigatório no calendário de festivais do país.
Nessa relação cada vez mais próxima, Badauí afirma que foram poucas as vezes que se ausentou do evento em Ribeirão Preto, que passaria a ter um lugar especial nas memórias do grupo, da alegria nos bastidores – com direito a campeonato de futebol entre bandas, em 2019 – aos encontros no palco.
Rogério Flausino, Badauí e Alexandre Carlo em encontro no palco do João Rock 2011
Rodolfo Tiengo
Um deles foi em 2011, quando Badauí cantou “Three Little Birds”, de Bob Marley, ao lado de Alexandre Carlo, do Natiruts, Rogério Flausino, do Jota Quest, e Logan Bell, da banda neozelandesa Katchafire.
“Fui eu e o [Rogério] Flausino com o Natiruts, isso aí foi muito legal, foi uma coisa muito espontânea. A gente estava assistindo no canto do palco e o Alexandre chamou a gente, então foi bem divertido.”
Em 2013, a troca das distorções pelo som da turnê do DVD acústico também ficou marcada na história da banda e do festival. “Foi bem legal fazer uma vez, foi diferente poder tocar para 70 mil pessoas, de forma acústica, no meio de um monte de banda, não é tão simples de fazer, mas a gente foi com o show completo, foi bem legal.”
Alexandre, do Natiruts, e Badauí, do CPM, em disputa de bola pelo João Rock Futebol Clube em Ribeirão Preto
Rodolfo Tiengo/G1
Rock, pop, ecletismo: o que permanece e o que muda
Quando olha para o festival ontem e hoje, Badauí identifica que o João Rock conseguiu manter a sua essência sem deixar de estar atento às novidades.
“Acho que eles mantiveram a proposta inicial, que foi valorizar as bandas brasileiras, as bandas de rock, de pop rock, e você vê que, por mais que tenha dois palcos grandes e alguns alternativos, eles mantiveram essas bandas, com Capital, Pitty, e foram inserindo aos poucos novos estilos”, analisa, ao citar expoentes que se tornariam presença garantida no interior de São Paulo, como Emicida e Criolo.
Por essa valorização da música brasileira, o evento também cresceu ao valorizar a diversidade sonora do país, com representantes de outros estilos como Alceu Valença e Zé Ramalho, por exemplo. “É um privilégio fazer parte desse contexto todo do João Rock”, afirma Badauí.
Tempo de estrada e novos projetos
Assim como o festival mudou e cresceu, a banda da Grande São Paulo também se transformou e amadureceu, com uma trajetória que também acumula shows no exterior e em grandes festivais como o Rock in Rio. “Eu vou fazer 48 anos, eu sou um tiozão, tenho muita experiência”, brinca Badauí.
Com mudanças na formação desde o período da pandemia, o grupo segue fazendo em média 15 shows por mês, enquanto lança novas apostas, como “Tudo Vale a Pena”, com participação de Sérgio Britto (Titãs) e se prepara para gravar um novo álbum ainda este ano.
CPM 22
CPM 22/Divulgação
Assim como o João Rock, segundo ele, o movimento musical que o inspira segue muito bem, obrigado. “Estou muito satisfeito com essa fase, a gente está com uma conexão muito forte com o nosso público. A gente tem tocado em shows muito cheios. (…) O rock vem com uma fase boa.”
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