Jovens apostam no conserto e na customização de tênis por delivery: ‘Somos sapateiros gourmet’

Carlos Eduardo Demitrow e Rafael de Souza Medeiros fundaram o estabelecimento em 2019 em Curitiba e hoje têm o estabelecimento como fonte de renda; negócio está ligado ao consumo consciente, à economia ‘second hand’. Rafael de Souza Medeiros, Carlos Eduardo Demitrow e Lucas Henrique Ribeiro.
Giuliano Gomes/PR-Press
Em meio ao crescimento de posicionamentos mais conscientes em relação ao consumo, dois jovens de Curitiba conseguiram unir uma paixão ao trabalho e criaram um espaço especializado em conserto, lavagem e customização de tênis por delivery.
“A gente brinca que somos os ‘sapateiros gourmet’”, falou Rafael Medeiros, um dos idealizadores do serviço.
A ideia saiu do papel em 2019 e se concretizou nestes quase quatro anos como a fonte de renda de Rafael e Carlos Eduardo Demitrow, ambos com 24 anos.
Segundo Carlos, tudo começou com os amigos conversando sobre a necessidade de terem esse serviço para os próprios tênis.
Eles perceberam que muitas pessoas descartavam os calçados ou deixavam de usar por conta de pequenos problemas que poderiam ser reparados. Foi então que surgiu a proposta.
“Eu já gostava de cuidar do meu tênis, o Rafa também, deixar o tênis bonito, aí falamos de fazer o negócio”, disse.
A dupla buscou referências em uma empresa paulista e de outros lugares do mundo, começaram a consertar calçados dos amigos e familiares e transformaram o empreendimento em uma renda extra.
Então, conforme foram ganhando clientes, largaram os outros empregos para se dedicarem totalmente ao próprio negócio, que fica em uma casa cedida pela avó de Carlos no bairro Tingui.
Hoje, são microempreendedores.
Carlos Eduardo Demitrow, Lucas Henrique Ribeiro e Rafael de Souza Medeiros.
Giuliano Gomes/PR-Press
Em busca de serem o próprio chefe, assim como Rafael e Carlos, milhares de pessoas mergulham em projetos e decidem abrir micro e pequenas empresas no Brasil.
Nos três primeiros meses de 2023, foram criadas 214.413 micro e pequenas empresas no país. Esse volume é 9,2% maior do registrado no mesmo período em 2022, quando foram abertas 196.328, segundo o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).
O Paraná é o quarto estado em número total de aberturas, com 74.942 nos três primeiros meses, sendo 57.423 Microempreendedores Individuais (MEIs), 5.931 microempresas e 1.588 empresas de pequeno porte.
Consumo consciente, a economia “second hand”
De acordo com Lucas Hann, coordenador Estadual de Mercado e Varejo do Sebrae-PR, o serviço prestado por Carlos e Rafael está ligado a uma economia de consumo consciente, a economia “second hand”, um modelo econômico baseado na compra, venda, troca e reutilização de produtos usados, que tem como objetivo prolongar a vida útil dos produtos.
A economia “second hand” é considerada uma tendência entre os jovens e é diferente da economia criativa, que segundo o Sebrae é focada no potencial individual ou coletivo para produzir bens e serviços criativos.
“Acredito que essa tendência é uma tendência bem prósperas para os próximos anos”, disse.
O trabalho dos meninos, a rigor, não é inovador porque, conforme o professor de empreendedorismo e inovação na Universidade Federal do Paraná (UFPR), Cleverson Renan da Cunha, o serviço existe há muito tempo.
Contudo, a inovação também ocorre quando uma ação se mostra nova para uma geração, para um público diferente.
“Esse carinho que eles estão dando, principalmente na questão da customização… Porque, lavar, outras empresas lavam; consertar, outras empresas consertam, mas ele estão fazendo isso no nível pouco diferenciado”, afirmou o professor.
Rafael e Carlos trabalham com reparos, desde costuras e colagens, até substituições de peças como solas desgastadas. Além disso, oferecem um serviço de lavagem profissional, deixando os tênis com aspecto de novos.
Na customização, o cliente pode personalizar o par de acordo preferências e estilo próprios, escolhendo desde cores e estampas até detalhes mais elaborados.
Essa possibilidade de transformar um tênis comum em um modelo único é um grande diferencial.
Para o professor, o tênis deixou de ser simplesmente um calçado e virou um objeto de coleção e expressão da identidade de cada um.
Rafael de Souza Medeiros, fundador da MD Sneaker Company
Giuliano Gomes/PR-Press
Redes sociais X ‘boca a boca’
Carlos conta que os amigos buscaram divulgar o trabalho através de influenciadores digitais e com a internet, mas ressalta que, no caso deles, o “boca a boca” foi o mais eficiente.
Eles não trabalham sozinhos, a local conta com mais dois funcionários, o Walan Miranda e Lucas Henrique Ribeiro.
“A gente tinha 19 anos quando começamos, a gente não sabia praticamente nada e tudo fomos aprendendo conforme as coisas iam indo”, disse Rafael.
O serviço de delivery foi uma aposta acertada, na avaliação de Rafael. Com a comodidade de poder solicitar os serviços sem sair de casa, os clientes têm encontrado praticidade e agilidade no atendimento.
Basta entrar em contato por telefone ou através do site para agendar a coleta dos tênis e receber um orçamento personalizado e on-line.
Após o conserto ou customização, os calçados são devolvidos ao cliente no endereço indicado.
Carlos Eduardo Demitrow, fundador da MD Sneaker Company
Giuliano Gomes/PR-Press
Dupla consertou tênis de mais de R$ 20 mil
Em 2022, a dupla reformou 1.400 pares. Rafael contou que entre esses pares está um tênis que custava R$ 25 mil.
O calçado pertencia ao cantor Rodriguinho, que mora em São Paulo, mas mandou o tênis por um amigo em comum que fez a propaganda do trabalho dos jovens.
“Era uma linha bem famosa, a gente pegou e consertou, foi bem maneiro”, disse.
Por meio das redes sociais, o cantor elogiou o trabalho feito pelos curitibanos. No vídeo ele conta que o tênis estava com manchas e com a sola descolando.
“Eles deixaram zerados, zeradinho”, falou Rodriguinho. Assista ao vídeo abaixo.
Jovens apostam no conserto e na customização de tênis por delivery
Carlos conta que, muitas vezes, o orçamento para reforçar o calçado não compensa para o cliente. Então, se o cliente deseja se desfazer do objeto, eles aceitam o calçado velho, reformam e doam para outras pessoas que necessitam.
A dupla também ensina como manter os calçados com uma vida útil mais longa, além de venderem produtos especializados para limpeza.
FLucas Henrique Ribeiro, funcionário da MD Sneaker Company
Giuliano Gomes/PR-Press
Eles trabalham também com botas, sapatilhas e calçados em geral.
“Outras empresas tinham foco nos ‘sneakers’ de alto padrão, mais caros, mas a gente pensou em unificar. Vamos pegar tanto os tênis caros, quanto os baratos”, contou Rafael.
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