(Re) descobrindo Juiz de Fora: a crônica de uma repórter ao lado do tio pelo Centro da cidade

A Princesinha de Minas completa 173 anos nesta quarta-feira (31), e deles eu ainda só vivi 26 por aqui. Ao lado do meu tio, uma geração à frente da minha, eu Victória Jenz conheci histórias que agora já fazem parte da minha memória e que eu quero mantê-las vivas por muitos anos ainda. Calçadão em Juiz de Fora
Pedro Emerenciano/g1
Dos 173 anos que Juiz de Fora completa nesta quarta-feira (31), eu Victória Jenz ainda conheço apenas 26. Cheguei com as ruas já movimentadas, o Calçadão da Halfeld lotado, asfalto e concreto pelos quatro cantos…Mas um dia essa diferença de idade sumiu e eu (re) descobri a Princesinha de Minas.
Avenida Rio Branco Parque Halfeld Calçadão
Pedro Emerenciano/g1
Esse dia foi na verdade uma tarde de março ao lado do meu tio Érico Jenz. Enquanto descíamos pelo Centro, ele me mostrou Juiz de Fora pelos olhos dele. E como jornalista adora uma história, a conversa fluiu fácil e o caminho compartilhado foi um verdadeiro mergulho pelo passado da cidade onde nasci e vivo. Ficou tão marcado em mim, que decidi compartilhar.
“Você sabia que aqui no meio tinha uma biblioteca? E que após essa escadaria – lotada de adolescentes uniformizados naquele dia, tinha um lago?”
Foi assim que eu soube como era o Parque Halfeld no passado, o coração da cidade. Coração diverso, que leva dentro todos os juiz-foranos e agregados, dos mais jovens aos velhos, dos ricos aos pobres, dos pretos aos brancos.
À esquerda, prédio que abrigou a Biblioteca Municipal no Parque Halfeld em Juiz de Fora; À direita, Parque Halfeld atualmente
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Logo depois foi a vez de descobrir mais sobre o Edifício Santa Helena — que sempre chamei de “O Prédio da Arpel”, ali bem na esquina da Avenida Barão do Rio Branco com a Halfeld. A construção é de 1935 e foi considerada um monumento até que, em 1958, do outro lado da esquina, nasceu a nova versão prédio do Edifício Clube Juiz de Fora.
“Os dois prédios eram parecidos, construídos pela família Pantaleone Arcuri e por isso eram chamados de gêmeos. Até que um dia um incêndio condenou o prédio da esquerda e, agora, os cavalinhos de Portinari se fazem presentes”.
À esquerda, os prédios do Edifício Clube Juiz de Fora e Santa Helena; À direita, edificações atualmente
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Logo no início do trajeto eu já me vi surpresa com as velhas memórias do meu tio, mas novas para mim, e me peguei pensando nas fases da vida, nas grandes mudanças e de como é bom saber que mesmo com o passar dos anos o passado se faz presente.
Cavalinhos ; Edifício Clube Juiz de Fora ; Portinari ; patrimônio ; Halfeld ; Fellype Alberto/g1
Fellype Alberto/g1
Enquanto descíamos o calçadão, ele me falou sobre os tipos de arquitetura da época e sobre as cafeterias que ficavam na frente do lindo Cine-Theatro Central. Consegui sentir o cheirinho do café e senti uma inveja de quem teve a sorte de sentar ali para tomar um cafézim.
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E quando chegamos na esquina do calçadão com a Batista de Oliveira, trecho que ficou conhecido nacionalmente por causa da facada em Bolsonaro, ele me contou da Boate Barril e de como dançou por ali. Da lanchonete que tinha no primeiro andar do prédio que hoje abriga feirinhas de artesanato e da absurda segregação das classes sociais.
No vídeo abaixo o meu tio contou um pouco das memórias dele:
Médico relembra momentos vividos em Juiz de Fora
Na esquina da Batista de Oliveira com a São João, um prédio cinza escuro: “Na época da 2ª guerra pintaram os prédios assim, com cores escuras e com uma espécie de brita, para que à noite os inimigos não conseguissem enxergar.” Descobri que Juiz de Fora seguiu a tendência, mesmo sem a guerra ter chegado por aqui.
Enquanto seguíamos para os nossos destinos, eu rumo ao Bairro Poço Rico para buscar a filha na escola, e ele para o Granbery para uma consulta com a dentista, passamos pelo – infelizmente – destruído Palácio dos Fellet.
O imóvel foi construído no século XX por João Fellet e herdado por sua filha Olinda. Em 1993, o palacete foi vendido a uma construtora, que começou a demolir o prédio no ano seguinte.
“Olinda abria o palácio para dar aulas de pintura e desenho livre. Igual sua avó fazia lá em casa”.
À esquerda, Palacete dos Fellet em 1989; À direita, edificação em 2016
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Terminamos o passeio na Espírito Santo, na linda Villa Iracema, construída em 1914 pelo arquiteto Rafael Arcuri para a Senhora Olympia Peixoto – portuguesa enriquecida residente na cidade e que deu ao imóvel o nome de Villa Olympia, inicialmente.
Dez anos depois foi alugado para o casal José Raphael e Iracema de Souza Antunes que após três meses residindo no solar optou pela compra do imóvel que, passou a ser chamado de Villa Iracema em homenagem à nova proprietária.
Curiosamente, foi a primeira residência em Juiz de Fora que tinha piscina desde a construção. Hoje, ao invés de água tem carros, já que parte dela se transformou em um estacionamento.
“A casa tá vazia, mas ainda sim dá pra enxergar a beleza dela. Pelo menos esse ainda não derrubaram”.
Falei para ele que a Sofia, minha filha, acha o local lindo e sempre fala que quer morar ali. E ele me contou que minha avó Iréa Jenz tinha uma foto na varanda da casa. Infelizmente a foto se perdeu ao longo dos anos, mas a história ficará para sempre na memória.
Terminei a (re) descoberta de parte da minha Juiz de Fora com o coração quentinho. Sei que meu tio e outros juiz-foranos têm muita, mas muita história mesmo para contar da nossa cidade. Eu, com 26 anos, ainda não tenho tantas, mas espero viver várias para pode compartilhar com a minha filha lá no futuro e, quem sabe, em outro texto também.
E Juiz de Fora, nos seus 173 anos, conheci pouco de você, mas sei que ainda iremos viver boas histórias juntas. E se um dia eu me for, carrego você comigo.
A repórter Victória Jenz e o tio Érico
Arquivo Pessoal
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