Lula critica sanções internacionais impostas ao regime ditatorial da Venezuela

Nesta segunda-feira (29), o presidente brasileiro recebeu o venezuelano Nicolás Maduro em Brasília. Lula afirmou que bloqueios econômicos são piores que a guerra. Lula critica sanções internacionais impostas ao regime ditatorial da Venezuela
O presidente Lula recebeu nesta segunda-feira (29), em Brasília, o venezuelano Nicolás Maduro. O presidente brasileiro criticou as sanções internacionais impostas ao regime ditatorial comandado por Maduro e afirmou que bloqueios econômicos são piores que a guerra.
Foi uma visita de chefe de Estado e o aperto de mão foi no topo da rampa do Palácio do Planalto. Nicolás Maduro não vinha ao Brasil desde 2015, quando esteve na posse do segundo mandato de Dilma Rousseff.
Primeiro, Lula e Maduro tiveram uma reunião fechada. Depois, ampliada, com a participação de ministros dos dois governos. Momento histórico, segundo Lula.
No poder desde 2013, Nicolás Maduro se reelegeu em 2018, depois de proibir que os dois principais rivais participassem da eleição. A ONU se recusou a enviar observadores internacionais e a oposição denunciou fraudes e compra de votos. Grande parte da comunidade internacional considerou ilegítima a eleição de Maduro.
Na época, o então presidente da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, se autodeclarou presidente da Venezuela e foi reconhecido por mais de 50 países – inclusive o Brasil.
Nesta segunda-feira (29), sem citar o nome de Guaidó, Lula criticou o apoio internacional dado a ele e defendeu a legitimidade do governo de Maduro.
“Eu achava a coisa mais absurda do mundo para pessoas que defendem democracia era as pessoas negarem que você (Maduro) era presidente da Venezuela tendo sido eleito pelo povo, e o cidadão que foi eleito para ser deputado fosse reconhecido como presidente da Venezuela”, disse Lula.
O presidente venezuelano disse que o país está de portas abertas.
“Hoje se abre uma nova época nas relações entre nossos países, entre nosso povo. E essa nova época deve corresponder, então, à construção de um novo mapa de cooperação, de trabalho conjunto, que passa a abranger todas as áreas, todas as áreas da economia, todas as áreas do comércio, a educação, a saúde, a cultura, a agricultura”, afirmou Maduro.
Em agosto de 2019, uma portaria do então presidente Jair Bolsonaro proibiu Maduro de entrar no Brasil. O próprio Bolsonaro revogou a medida no penúltimo dia do seu governo.
O Tribunal Penal Internacional de Haia, na Holanda, investiga o governo Maduro por crimes contra a humanidade; busca identificar os responsáveis. O promotor do tribunal afirma que o governo perseguiu, prendeu e torturou milhares de opositores desde 2017.
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Na entrevista coletiva após o encontro desta segunda (29), o presidente Lula criticou o que chamou de narrativa dos países que se posicionaram contra a Venezuela.
“Eu acho, companheiro Maduro, que você sabe qual é a narrativa que se construiu contra a Venezuela. Da antidemocracia, do autoritarismo. Então, eu acho que cabe a Venezuela mostrar a sua narrativa para que possa efetivamente fazer as pessoas mudarem de opinião. Eu acho que por tudo que nós conversamos, a sua narrativa vai ser infinitamente melhor do que a narrativa que eles têm contado contra você. É efetivamente inexplicável um país ter 900 sanções porque o outro país não gosta dele”, declarou Lula.
Entre os países que condenaram o governo Maduro estão os Estados Unidos, que impuseram sanções comerciais ao país. Atualmente, as sanções foram flexibilizadas, mas não suspensas totalmente. Lula culpou os Estados Unidos pela situação da Venezuela de Maduro.
“O Maduro não tem dólar para pagar as suas exportações. Quem sabe ele começa a pagar em yuan. Quem sabe a gente possa receber em outra moeda de um país para que a gente possa trocar. É culpa dele? Não, é culpa dos Estados Unidos, que fizeram um bloqueio extremamente exagerado. Eu sempre acho que o bloqueio pior do que uma guerra, porque a guerra, normalmente, morre soldado que está em batalha. Mas o bloqueio mata crianças, mata mulheres, mata pessoas que não tem nada a ver com a disputa ideológica que está em jogo”, afirmou o presidente do Brasil.
Depois da entrevista, Lula recebeu Maduro e sua comitiva para um almoço no Itamaraty.
A visita de Maduro ocorre na véspera do encontro dos líderes de países da América do Sul, promovido pelo governo Lula. Um marco na retomada das relações com os países vizinhos. E Maduro já antecipou que na terça-feira (30) vai propor aos países da região que peçam aos Estados Unidos para que suspendam as sanções contra a Venezuela.
Maduro está de olho no BRICS, o bloco que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Ele também compartilha a ideia de Lula de uma moeda comum para negócios na América do Sul, que substitua o dólar.
As tratativas dos dois países também incluem a compra de energia venezuelana para abastecer Roraima, único estado brasileiro que ainda não integra o sistema nacional. Essa compra poderia abater a dívida da Venezuela com o Brasil.
Repórter: “Alguém sabe dizer, precisamente, porque parece que essa é uma tarefa agora do ministro Haddad, o tamanho da dívida da Venezuela com o Brasil? Ou esse número ainda tem que ser levantado?”
Lula: “Você sabe qual é o tamanho da dívida?”
Maduro: “Se vai estabelecer uma comissão para estabelecer esse tamanho e retomar os pagamentos e… A comissão vai estabelecer a verdade”.
Esse trabalho está a cargo da equipe econômica do Brasil.
“No que diz respeito à Fazenda, vai se constituir um grupo de trabalho para consolidar a dívida da Venezuela frente ao Brasil e, a partir dessa consolidação dos números, reprogramar o pagamento”, disse o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Segundo o Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio, a dívida venezuelana passa dos R$ 6 bilhões.
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