Família de Gilberto Chateubriand transforma fazenda em SP em um museu de arte brasileira

Na primeira mostra das obras que ficavam na casa do colecionador, os visitantes têm acesso a 165 peças históricas, incluindo obras que, até então, eram inacessíveis ao público. Família de Gilberto Chateubriand transforma fazenda em SP em um museu de arte brasileira
Jornal Nacional/ Reprodução
A família de Gilberto Chateaubriand, um dos maiores colecionadores do país, transformou uma fazenda no interior de São Paulo em um museu dedicado à arte brasileira.
Pela entrada da antiga tulha de grãos: uma passagem para a história da arte nacional.
O ambiente rústico, que no passado serviu como depósito da fazenda em Porto Ferreira, contrasta com relevos, texturas e cores dos traços de nomes como Portinari, Di Cavalcanti, Pancetti, Glauco, Djanira. As obras fazem parte da coleção particular de Gilberto Chateaubriand, filho do Assis Chateaubriand e pai do Carlos Alberto, que foi quem decidiu compartilhar essa riqueza cultural com a criação do Instituto Gilberto Chateaubriand.
“Essa primeira exposição, eu dei o nome de ‘A casa do colecionador’, porque são obras que estavam na casa dele, que ele tinha na casa dele no Rio e que, depois do falecimento dele, a gente trouxe tudo para cá”, conta Carlos Gouvêa Chateaubriand, presidente do Instituto Cultural Gilberto Chateaubriand.
Entender a história de quem escolheu cada uma das obras faz do passeio um mergulho na cultura do nosso país. Empresário e fazendeiro, Gilberto Francisco Renato Allard Chateaubriand Bandeira de Melo nasceu em Paris. Herdou do pai a paixão pela arte. Participou da fundação do Museu de Arte de São Paulo e, ao longo da vida, reuniu uma das mais importantes coleções privadas de arte moderna e contemporânea do Brasil.
Morreu em 2022, na fazenda Porto Ferreira, aos 98 anos. O artista Armando Mattos conta que Gilberto tinha o hábito de visitar ateliês.
“Chegava lá, o artista tinha produzido uma pequena exposição para apresentar para o Gilberto e a gente via, Gilberto lá ouvia o artista explicar e, às vezes, chegava no final assim: ‘Vem cá, mas o que tem dentro das gavetas? O que está guardado? O que você não me mostrou?’”, conta o artista plástico Armando Mattos, coordenador do projeto educativo do instituto.
A neta e diretora-executiva do instituto explica que o avô gostava da convivência com artistas.
“Tinha sempre amigos, normalmente era da classe artística, seja artista mesmo ou museólogo, curador, das mais diversas idades. E as pessoas falavam: ‘Gente, é muito incrível conversar com ele, estar com ele, porque a cabeça dele é tão atual que todo mundo se encantava’”, diz Flávia Gouvêa Chateaubriand.
Na primeira mostra das obras que ficavam na casa do colecionador, os visitantes têm acesso a 165 peças históricas, como: “O Cavalo”, de Portinari; “O Acordeom”, de Djanira; “A Crucifixão” de Vicente do Rego Monteiro, de 1922.
Aos 11 anos, o bisneto do Gilberto conta que o quadro foi tema de um trabalho da escola dele e muitos duvidaram que ele conhecia a obra.
“Perguntaram se alguém sabia alguma coisa sobre o Vicente do Rego Monteiro. Eu falei que eu sabia sobre a crucificação. Então falei que eu tinha. (A professora) ficou um pouco surpresa porque não achou que iria ser meio assim, achou legal”, conta Vicente Gouvêa Chateaubriand.
A escolha da fazenda no interior de São Paulo permite aos brasileiros contato com obras históricas até hoje inacessíveis ao público, como, por exemplos, as esculturas que ficam ao redor da sede onde Gilberto Chateaubriand viveu seus últimos anos de vida. Só em volta da piscina tem mais de dez esculturas de artistas conhecidos mundialmente. Como uma série chamada “Cubo Vazado”, de Franz Weissmann.
As visitas ao museu são de graça e precisam ser agendadas na página do Instituto Cultural Gilberto Chateaubriand na internet.
A família Chateaubriand diz que este é um primeiro passo de um longo caminho para que todos os brasileiros conheçam de perto a riqueza da arte nacional.
“É uma missão que a gente está cumprindo, um sonho. Eu tenho absolutamente certeza que, se ele estivesse aqui, ele estaria também na maior felicidade com isso”, afirma Carlos Gouvêa Chateaubriand.

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