Número de baleados em operações policiais cresceu 66% em 2023 no Grande Recife, diz Instituto Fogo Cruzado

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Levantamento também mostra que foram registrados 99 tiroteios em ações policiais, 47,7% a mais do que em 2022. Briga de torcida deixou três pessoas baleadas, incluindo um policial, na PE-15, em Paulista
Reprodução/WhatsApp
Em 2023, 113 pessoas foram baleadas em operações policiais no Grande Recife, segundo dados do relatório anual do Instituto Fogo Cruzado, divulgado nesta segunda-feira (29). O número representa um aumento de 66% em comparação com o ano anterior, quando ações realizadas por agentes de segurança pública deixaram 68 feridos.
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De acordo com o levantamento, foram registrados 99 tiroteios resultantes de operações policiais, 47,7% a mais do que em 2022 (veja gráfico mais abaixo).
O documento registra, ainda, que em 2023 houve quatro chacinas ocorridas durante abordagens e intervenções da polícia, que resultaram em 13 mortes.
Um dos casos de maior repercussão foi o que morreram nove pessoas, incluindo cinco membros da mesma família, durante e após uma abordagem da Polícia Militar (PM) em Camaragibe, no Grande Recife. A chacina aconteceu em setembro e, três meses depois, policiais militares foram presos por envolvimento em crimes.
O levantamento do Fogo Cruzado também contabilizou 1.827 tiroteios no Grande Recife no ano passado (sem necessariamente envolver policiais), o que indica uma média de cinco ocorrências com troca de tiros por dia nesse período.
Desse total, 97% resultaram em mortos ou feridos — o maior percentual desde 2019, quando os dados do Grande Recife começaram a ser acompanhados pelo Fogo Cruzado.
Esse é o maior número de registros de assassinatos em série nos últimos cinco anos. Em 2022, foram identificadas duas chacinas com seis mortos. Em 2020, houve um caso com quatro vítimas. Já em 2019 e 2021, não houve ocorrências desse tipo.
O g1 entrou em contato com a Secretaria de Defesa Social (SDS) para se posicionar sobre os dados, mas, até a última atualização desta reportagem, não obteve resposta.
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Segundo o levantamento, os municípios que registraram mais confrontos no geral foram:
Recife: 673 tiroteios, 521 mortos e 241 feridos;
Jaboatão dos Guararapes: 347 tiroteios, 296 mortos e 103 feridos;
Olinda: 214 tiroteios, 173 mortos e 58 feridos;
Cabo de Santo Agostinho: 143 tiroteios, 123 mortos e 39 feridos;
Paulista: 91 tiroteios, 75 mortos e 18 feridos.
O relatório também faz um recorte dos dados por bairro e mostra que, das cinco localidades mais violentas, quatro ficam em Jaboatão:
Muribeca (Jaboatão dos Guararapes): 44 tiroteios, 34 mortos e 14 feridos;
Barra de Jangada (Jaboatão dos Guararapes): 39 tiroteios, 39 mortos e 8 feridos;
Prazeres (Jaboatão dos Guararapes): 39 tiroteios, 29 mortos e 14 feridos;
Iputinga (Recife): 36 tiroteios, 27 mortos e 11 feridos;
Cajueiro Seco (Jaboatão dos Guararapes): 34 tiroteios, 31 mortos e 8 feridos.
Aumento da violência
Nos últimos dias, outros dados, levantados pelo g1 com base nas estatísticas da Secretaria de Defesa Social (SDS), também apresentaram um aumento nos índices de violência policial, com um crescimento de 30,42% no número de mortes durante ações das forças de segurança em 2023.
De acordo com a coordenadora regional do Instituto Fogo Cruzado em Pernambuco, Ana Maria Franca, a escalada de violência, relacionada a uma maior frequência na realização de operações policiais, reflete uma tendência nacional, verificada também em outros estados, como a Bahia e o Rio de Janeiro.
“De um modo geral, a gente percebe que também existe um descompasso entre os problemas da segurança pública e as soluções pensadas para eles. A gente está vendo que o que se pensou até agora não está dando resultado. Então, os números tendem a crescer. […] A gente não tem um plano de segurança pública nacional, a gente não tem um protocolo fixo. Cada estado faz à sua maneira. Alguns estados nem têm plano de segurança implementado”, afirmou.
Na avaliação de Ana Maria Franca, em Pernambuco, que tem um programa de segurança, lançado em outubro do ano passado, a falta de planejamento e transparência tem afetado a execução das políticas públicas na área.
“A gente tem um plano que foi apresentado, mas a gente não sabe muito quais ações foram implementadas para conter essa violência. Isso vai mostrando que existe uma crise nessa pasta porque existe um problema de transparência no estado de Pernambuco, e dados que são publicizados não são os que a sociedade civil pede. Por exemplo, a gente não tem dados [oficiais] sobre bairros”, disse.
Além disso, na visão dela, há ausência também de explicações sobre as decisões políticas e os impasses referentes às políticas de segurança, como a troca no comando das polícias Civil e Militar, anunciada pela governadora Raquel Lyra (PSDB) a menos de três semanas do carnaval, e o desligamento das câmeras de videomonitoramento do estado.
“O que isso mostra para a gente é que tem uma ausência de planejamento no campo da segurança pública. Porque, se a gente tem um grande evento, com as proporções que o carnaval tem aqui, e acontecem situações que vão, por exemplo, dificultar o trabalho da segurança, a gente vê que não houve um planejamento para que isso acontecesse nesse momento”, afirmou Franca.
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