Brumadinho: cinco anos após tragédia, Bombeiros ainda trabalham nas buscas e famílias lutam por justiça

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270 pessoas morreram soterradas no rompimento da barragem em 25 de janeiro de 2019. Três ainda não foram encontradas. Bombeiros procuram por vítimas da barragem da Vale em Brumadinho, cinco anos depois do rompimento
Todo dia 25 de janeiro, Brumadinho relembra os mortos da tragédia. Os nomes de todas as vítimas são lidos um a um.
12h28, o toque da corneta marca o momento exato em que a barragem se rompeu.
“Meu Deus do céu, vai, vai, vai, sai, sai, sai… ô vei, todo mundo que estava lá embaixo com certeza morreu”.
“Estourou a barragem de rejeito na mina Córrego do Feijão em Brumadinho, estourou a barragem… estourou a barragem aqui na Vale…. a barragem estourou. Corpo de Bombeiros, emergência.”
Essas foram algumas das ligações feitas para os Bombeiros em uma ocorrência que até hoje não terminou.
O homem treinado para trabalhar no caos ficou em silêncio quando sobrevoou a região destruída pela lama da barragem da Vale, em Brumadinho. Naquele 25 de janeiro de 2019 não recebeu nem o abraço da mulher, nem o carinho das filhas. Só voltou pra casa uma semana depois.
“A gente fez uma comemoração, um almoço e foi emocionante, cara, porque realmente eu imagino me colocar no lugar delas, né, vendo aquilo tudo na televisão e só podendo falar comigo por telefone”, diz Rafael Cosendey, tenente-coronel do Corpo de Bombeiros.
Hoje o sargento Freitas troca a casa pelo QG da Operação Brumadinho uma semana por mês. Nesse tempo, ficou ausente em momentos importantes.
“Natais, Ano Novo, aniversários, dias datas importantes como Dia dos Pais, Dia das Crianças, aniversário dos meus filhos, então abdiquei de estar com eles para poder estar aqui junto com a equipe”, relata o sargento João Francisco Freitas, do Corpo de Bombeiros/MG.
No posto de comando da operação de resgate, o desenho no quadro é uma homenagem ao trabalho de quem continua firme na missão. A ilustração foi um presente da tenente Elen. Ela participou dos trabalhos em Brumadinho e desenhava nos momentos de folga. A arte foi um respiro para enfrentar tempos difíceis.
“Uma pergunta que eu sempre tinha pra mim desde o primeiro dia que é que podia tirar alguma coisa boa daquilo. (Chora). E eu acho que tudo aquilo que a gente viu naquele período, os familiares, bombeiros, voluntários, tudo que acontecia ali também era algo bom, sabe”, relata a tenente Elen Carvalho, do Corpo de Bombeiros/MG.
Ela não assinou o desenho, mas deixou escrita uma frase que cinco anos depois ainda faz sentido para os militares que se revezam na operação de buscas: “Que a fé nunca nos falte e o amor nos acompanhe.”
“Então não é meu. É de todo mundo. De cada bombeiro. De cada pessoa que tirou um tempo da própria vida para nos ajudar ali também”, diz a tenente.
Acordo de reparação
A Vale fez um acordo de reparação no valor de R$ 37 bilhões. A mineradora afirmou que já cumpriu 68% do acordo. 15,4 mil pessoas foram indenizadas. 270 pessoas morreram soterradas no rompimento da barragem.
Três ainda não foram encontradas. A corretora Maria de Lurdes da Costa Bueno tinha 59 anos e estava hospedada em uma pousada. Tiago Tadeu Mendes da Silva, de 34, era funcionário da Vale. E Nathália Porto, de 25 anos, fazia estágio na mineradora.
“Enquanto eles estão lá forte junto com a gente unidos, esperando para né fazer um enterro digno e atuando lá na área com maior fervor, a gente também tem essa esperança, né?”, diz Tânia de Oliveira, prima da Nathália
As buscas ao longo desses 5 anos
Nesses cinco anos, cerca de 6 mil bombeiros de Minas Gerais se revezaram nas buscas na área da tragédia. As estratégias também foram mudando com o passar do tempo. No início, os militares se jogavam na lama e encaravam os rejeitos.
Agora, grandes esteiras são usadas – são grandes estações de triagem do material. Elas funcionam 24 horas e o trabalho é totalmente visual. 75% dos 11 milhões de metros cúbicos de rejeito já foram vistoriados. A tecnologia aumentou a eficiência do trabalho dos militares.
“O material mais grosso é separado primeiramente e depois o material mais fino é retirado para que o bombeiro militar consiga focar sua atenção, a sua busca, a sua inspeção visual somente naquele material com mais de cinco centímetros de diâmetro que pode ser levado a partir da suspeita sendo material de interesse à perícia para identificação de novas vítimas”, pontua o tenente Henrique Barcellos – Porta-voz do Corpo de Bombeiros.
Um momento muito esperado pelas famílias e pelos bombeiros.
“Nós encontramos o corpo da Juliana. E ao encontrar o corpo dela no dia 942, foi algo que me marcou bastante e nós demos a notícia pro seu Geraldo aqui dentro da base Bravo e ele me deu um abraço que realmente me levou ao chão porque é algo que marca e isso me marcou bastante”, relata Rafael Cosendey.
E aquele abraço de alívio, o seu Geraldo nunca se esqueceu. E leva a foto da filha, Juliana, pra sempre no peito.
“Ele me ajudou muito, me abraçou com carinho. Se não fosse eles não encontrar o corpinho da minha filha”, diz Geraldo de Rezende.
Os parentes das vítimas viraram amigos dos bombeiros. Em cada abraço, um conforto. Nas homenagens, os balões vermelhos lançados ao céu representam as pessoas que morreram na tragédia. Dentro de cada um vão sementes de girassol.
“O girassol, ele é sinônimo de resiliência, de força, de resistência e é sinal também de amor. O girassol ele se mantém firme ainda em dias ensolarados ou chuvosos, ele se mantém lá”, afirma Andresa Rodrigues, Presidente da Avabrum.
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