Ação contra Ramagem é revés para bolsonarismo, mas aliados reforçam sua candidatura no Rio

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A operação da Polícia Federal (PF) desta quinta-feira, 25, contra o deputado federal e ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) Alexandre Ramagem (PL-RJ) representa um novo desgaste para sua pré-candidatura à Prefeitura do Rio de Janeiro, mas não tem forças para lhe tirar da corrida, avaliam líderes do Partido Liberal (PL) e até mesmo opositores.

Antes de Ramagem, outro pré-candidato do PL à Prefeitura do Rio de Janeiro também já havia sido atingido por uma operação da Polícia Federal. Em setembro do ano passado, a PF realizou uma investigação contra desvios de R$ 4,6 milhões na intervenção federal no Rio de Janeiro, sob o comando do general Walter Braga Netto, que foi ministro e candidato a vice de Bolsonaro na campanha eleitoral de 2022. Um mês depois, ele foi definitivamente tirado da disputa ao ser tornado inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por usar eventos do 7 de Setembro para difundir sua campanha eleitoral.

Para o presidente do PL, o ex-deputado Valdemar Costa Neto, a operação desta semana pode acabar ajudando a pré-candidatura de Ramagem. “O eleitor do Rio é muito esperto”, disse Valdemar ao Estadão.

A Operação Vigilância Aproximada investiga suposta organização criminosa na Abin que teria monitorado ilegalmente adversários políticos do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) por meio de um software espião. Entre os alvos estariam os ministros Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes, o ex-governador Camilo Santana e o ex-deputado Rodrigo Maia. A Abin paralela também teria produzido provas em favor de dois filhos do presidente, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e o influenciador Renan Bolsonaro.

No total, foram cumpridos 21 mandados de busca e apreensão. Segundo a Polícia Federal, Ramagem teria autorizado as investigações paralelas, sem autorização judicial e sem indícios mínimos de materialidade que justificassem as apurações.

Ramagem foi escolhido por Bolsonaro para disputar a Prefeitura do Rio. Os dois têm uma relação bastante próxima de amizade. Nas redes sociais, o ex-presidente afirmou que a operação é uma “implacável perseguição” e publicou um vídeo de seu ex-diretor da Abin se defendendo das acusações levantadas pela Polícia Federal.

O presidente do PL do Rio de Janeiro, deputado federal Altineu Côrtes, afirmou que a candidatura de Ramagem é “irreversível”. Ele reconhece, no entanto, que a operação poderá afetar a imagem do ex-diretor da Abin entre os eleitores cariocas.

“Todos que conhecem a história de Ramagem sabem da sua retidão e honestidade”, disse Côrtes. “Mas será que não poderia ter sido usado outro instrumento jurídico que não fosse a busca e apreensão? Aí faz esse espetáculo todo e, depois, os assuntos não avançam, mas acabam prejudicando a imagem e a pré-candidatura. Isso não deixa de confundir o processo eleitoral”, avaliou o presidente do PL fluminense.

Segundo ele, os mandados cumpridos pela Polícia Federal contra Ramagem representam, mais uma vez, uma “falta de respeito” ao Congresso Nacional. Na última semana o deputado federal Carlos Jordy (PL-RJ) também foi alvo de buscas no âmbito de operação da PF que investiga os ataques do dia 8 de Janeiro à Praça dos Três Poderes.

O presidente do PL nacional, o ex-deputado Valdemar Costa Neto, é mais otimista. Para ele, a operação poderá favorecer a candidatura de Ramagem.

“Está claro que mais essa operação da PF de hoje contra o deputado Alexandre Ramagem é uma perseguição por causa do Bolsonaro. Esse negócio de ficar entrando nos gabinetes é uma falta de autoridade do Congresso Nacional. Rodrigo Pacheco deveria reagir e tomar providências. Isso é pura perseguição e pode acabar elegendo o Ramagem com mais facilidade no Rio de Janeiro”, escreveu ele, numa rede social. Pacheco reagiu dizendo que Valdemar quer “iludir seus adeptos” e que não consegue reunir a oposição.

Preterido por Bolsonaro para ser o candidato do PL no Rio, o senador Carlos Portinho diz que Ramagem é uma pessoa qualificada, mas ressalta que o próprio partido é quem deverá fazer uma avaliação sobre os riscos da operação na pré-candidatura do delegado. “É uma avaliação que cabe a Valdemar e ao Bolsonaro. É lógico que qualquer caso desse abala, mas o Ramagem continua sendo o pré-candidato do PL. Por ora não há nenhum fato concreto que o macula”, afirmou ao Estadão.

“Eu, como membro e líder do PL, sigo o meu partido, mas sem dúvida não vou deixar de discutir a cidade e a necessidade que eu tenho destacado do campo da centro-direita de conversar com todos os partidos. Temos seis partidos, Solidariedade, Novo, PSDB, Republicanos, PP e União Brasil, e qualquer candidato que queira ser competitivo precisa ter uma interlocução com esses partidos”, explica.

Pré-candidato do PSOL, o deputado federal Tarcísio Motta acredita que a operação poderá ‘remexer’ na disputa. “Como as pesquisas apontavam a existência de três pré-candidaturas fortes no Rio de Janeiro, essa operação fortalece as duas outras pré-candidaturas”, disse. Pesquisa Atlas Intel divulgada no fim do ano passado apontou Eduardo Paes (PSD) liderando a corrida pela Prefeitura do Rio com 36,2% das intenções de voto, seguido de Ramagem (19,1%) e de Motta (17,8%).

O deputado federal Marcelo Queiroz (PP-RJ), que articula sua pré-candidatura à Prefeitura pelo PP, afirma que a operação não muda em nada do ponto de vista político. “O PL vai ter candidato em qualquer circunstância”, disse Queiroz. “E quando se coloca chamas mais nacionais numa eleição municipal, polarizando no plano federal, o voto vai ser ideológico, muito arraigado, então acho que a operação também não afeta o eleitor do Ramagem”.

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