Brumadinho: há 5 anos, 270 pessoas desapareciam sob lama de barragem da Vale; ninguém foi punido

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Os corpos de três vítimas ainda não foram encontrados. Parte das famílias quer continuidade das buscas, e outra pede fim da operação. Brumadinho 5 anos: com dor e sem justiça
Brumadinho 5 anos: familiares de vítimas mortas convivem com dor e pedem justiça
O filho mais velho de Nathália de Oliveira Porto Araújo gosta de olhar para o céu e procurar por ela nas estrelas. A caçula pede que a família mostre fotos para guardar a imagem da mãe na memória.
Os dois tinham 4 e 3 anos quando a barragem da Vale rompeu em Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, no dia 25 de janeiro de 2019, e despejou 12 milhões de metros cúbicos de rejeito em instalações da empresa, comunidades e no Rio Paraopeba.

Estagiária da mineradora havia quatro meses, Nathália saiu atrasada de casa naquela manhã e correu para pegar o ônibus em direção à mina Córrego do Feijão. Estava no horário de almoço, conversando com o marido por telefone, quando viu a lama se aproximar e disse: “Deus, me dá o livramento”.
O corpo de Nathália nunca foi encontrado.
“Um dia, o filho dela perguntou na minha casa se, se ele morresse, ia encontrar a mãe dele. Eu não tive coragem de responder”, contou Tânia Efigênia de Oliveira Queiroz, 51, prima da vítima.
Nathália de Oliveira, vítima de rompimento de barragem da Vale, segue desaparecida
Arquivo pessoal
Cinco anos depois, o Corpo de Bombeiros de Minas Gerais mantém as buscas por Nathália e também por Tiago Tadeu Mendes da Silva e Maria de Lurdes da Costa Bueno, que seguem desaparecidos. Outros 267 mortos foram encontrados e identificados, incluindo duas mulheres grávidas.
“A gente ainda tem esperança de fazer um enterro digno, mas isso também depende muito do que os bombeiros vão falar. É muito triste, a gente espera encontrá-la, mas tem hora que eu penso que, pelo tempo que está passando… Tenho medo de ela ficar na lama”, afirmou Tânia.
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Tânia Oliveira, prima de Nathália
‘Eu suplico que parem com as buscas’
Na casa de Tiago Tadeu, a esperança se transformou, ano após ano, em angústia e sofrimento. A mãe dele, Lúcia Aparecida Mendes Silva, 58, acredita que vai voltar a ter paz quando as buscas pelos desaparecidos cessarem.
“Já são cinco anos de espera, de muito sofrimento, cinco anos esperando o telefone tocar. Imagina dormir e acordar esperando o telefone tocar. Já perdi as esperanças, a Vale não entregou nem nunca vai entregar o corpo do meu filho para mim. Eu suplico que parem com as buscas”, disse a mãe.
Tiago Tadeu Mendes da Silva
Reprodução/Redes sociais
Tiago era apaixonado pelo Clube Atlético Mineiro e era o mais velho de três irmãos. Engenheiro mecânico recém-formado, trabalhava em outra mina e tinha sido transferido para Brumadinho cerca de 20 dias antes da tragédia. Deixou a mulher e dois filhos – o caçula, com 8 meses.
Para Lúcia, a mina da Vale onde as buscas estão concentradas deveria ser transformada em um espaço arborizado e florido, para que as famílias pudessem se reunir, orar e visitar os pais, filhos, irmãos e netos mortos pela lama.
“Meu filho já está no céu, com Deus, longe da maldade do homem. As buscas só me trazem mais dor, eles não vão mais achar o corpo do meu filho. Vão achar um ossinho dele, e eu não aceito. Não aceito enterrar um pedacinho dele. Eu peço as autoridades que parem as buscas, é uma mãe que está pedindo”.

À espera de justiça
Alexandra Andrade perdeu o irmão Sandro Andrade Gonçalves, de 42 anos, e o primo Marlon Rodrigues Gonçalves, de 35, na tragédia. Os dois eram funcionários da Vale.
Sandro Andrade e Marlon Gonçalves, mortos na tragédia da Vale em Brumadinho
Arquivo pessoal
“Meu irmão tinha um horário certinho de dormir, a camisa dele tinha um cabide que ficava pendurado pra ficar bem passada. Ele tinha orgulho de trabalhar na empresa”, lembrou Alexandra. “A gente não imaginava o risco que eles estavam correndo”.
Mas, segundo as investigações, a Vale previa. Apesar de ter conhecimento dos problemas da barragem, a consultora Tüv Süd emitiu Declarações de Condição de Estabilidade da estrutura mesmo com o fator de segurança abaixo do recomendado por padrões internacionais. A mineradora sabia da situação e apresentou os documentos às autoridades.
Há um ano, Vale, Tüv Süd e 16 pessoas se tornaram rés no processo que corre na Justiça Federal. Até hoje, ninguém foi condenado, e não há previsão de início do julgamento.
“A gente não esquece dia nenhum. Por mais que a gente saia, às vezes está em outro lugar sorrindo, mas, no fundo, no fundo, tem a tristeza da falta deles, a saudade e também um sentimento de injustiça. Não foi uma perda normal, não foi um acidente, tudo isso é muito doloroso, e essa falta de justiça adoece ainda mais os familiares. Para matar, foi menos de um minuto”, afirmou.

O que diz a Vale
Em nota, a Vale destacou “seu respeito às famílias impactadas pelo rompimento da barragem” e afirmou que “segue comprometida com a reparação dos danos, o que vem avançando de forma consistente e nas bases pactuadas no acordo judicial de reparação integral e em outros compromissos firmados para indenização individual”.
“A empresa ratifica que sempre norteou suas atividades por premissas de segurança e que nunca se evidenciou nenhum cenário que indicasse risco iminente de ruptura da estrutura B1”, declarou.

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