São Paulo tenta se libertar de nomes de ruas ligados à ditadura, mas alguns persistem; veja lista

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Levantamento do g1 encontrou ao menos oito citações a agentes do Estado apontados como responsáveis por crimes cometidos durante a ditadura militar. Ruas de São Paulo continuam homenageando nomes ligados à ditadura
A cidade de São Paulo, que completa 470 anos nesta quinta-feira (25), luta há décadas para reparar algumas das marcas mais dolorosas de sua história recente: apagar das ruas os nomes ligados à ditadura militar.
A maior cidade do Brasil foi palco de diversos acontecimentos relevantes da repressão que começou em 1964 e terminou em 1985, como a morte de Carlos Marighella, executado na alameda Casa Branca, no Jardim Paulista, ou a morte do jornalista Vladimir Herzog, no Doi-Codi, órgão de tortura e repressão durante o período da ditadura.
Em 2010, os paulistanos iniciaram uma luta contundente contra homenagens feitas no passado a agentes que atentaram contra os direitos humanos ocorridos no período da ditadura. A Câmara Municipal aprovou naquele ano o projeto de lei que permitia a alterações de nomes nas ruas que serviam de homenagem a nomes ligados a violações de direitos humanos. Cinco anos depois, foi a vez do programa Ruas de Memória que passou, de fato, a fazer a mudança gradual nos nomes vistos nas placas da cidade.
A primeira troca que teve que passar pela Câmara Municipal e sanção do prefeito foi a do nome do Minhocão. A via deixou de se chamar Elevado Costa e Silva, em homenagem ao presidente militar, e passou a se chamar Elevado Presidente João Goulart, ex-presidente deposto no golpe militar de 1964.
Minhocão, no Centro de SP.
Reprodução/ Tv Globo
Na apresentação do projeto, foram sugeridos 22 nomes de ruas a serem alterados, incluindo o Minhocão. Muitos desses logradouros já mudaram de nome:
Em 2016, a rua que homenageava o delegado do Dops Alcides Cintra Bueno Filho foi renomeada Zilda Arns;

Em 2021, uma das alterações mais recentes, uma rua na Zona Oeste que homenageava o delegado do Dops Sérgio Fleury, apontado como torturador do frei dominicano Tito de Alencar Lima, recebeu o nome do rua Frei Tito, vítima de Fleury.
Apesar do avanço, um levantamento do g1 aponta que ainda restam, ao menos, oito nomes de pessoas que foram apontadas pela Comissão da Verdade como responsáveis por crimes cometidos durante a ditadura, além de uma rua que celebra o dia do golpe: 31 de março.
🛣 Veja, mais abaixo nesta reportagem, o que é necessário para mudar o nome de uma rua
Cinco desses nomes estavam na lista dos 22 apresentados pela prefeitura em 2015. Um deles, porém, entrou depois, em 2017, quando a Ponte das Bandeias passou a se chamar Ponte das Bandeiras – Senador Romeu Tuma.
Ponte das Bandeiras passou a homenagear Romeu Tuma em 2017
TV Globo/Reprodução

, na lista abaixo, quem são os homenageados em vias de São Paulo que foram apontados pelo relatório final da Comissão Nacional da Verdade como responsáveis por crimes durante o regime militar:
📍Avenida Presidente Castelo Branco (Marginal Tietê) — Zona Norte/Centro
Avenida Presidente Castelo Branco
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🪖 Marechal de Exército, foi o primeiro presidente da República após o golpe militar, entre 15 de abril de 1964 e 15 de março de 1967. Criou o Serviço Nacional de Informações (SNI).
📍 Ponte das Bandeiras (Senador Romeu Tuma) — Zona Norte/Centro

Ponte das Bandeiras passou a homenagear Romeu Tuma a partir de 2017.
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🚨Foi um delegado da Polícia Civil do estado de São Paulo. Atuou no Departamento de Ordem Política e Social de São Paulo (DOPS/SP) de 1969 a 1982, período em que o órgão teve grande envolvimento com atividades de repressão política. Foi seu diretor de 1977 a 1982. Em 1982, assumiu a superintendência da Polícia Federal em São Paulo e, em 1985, tornou-se diretor-geral.
📍 Rua Alberi Vieira dos Santos — Zona Norte
Rua Alberi Vieira dos Santos
Reprodução/Google Street View
🪖Foi um sargento da Brigada Militar (como é chamada a PM no estado) do Rio Grande do Sul, colaborador do Centro de Informações do Exército (CIE). Teve participação em detenções ilegais, execuções, desaparecimento forçado de pessoas e ocultação de cadáveres. Foi assassinado em 1979.
📍 Rua Dr. Mario Santalucia — Zona Norte
Rua Doutor Mario Santalucia
Reprodução/Google Street View
👨🏻‍⚕ Médico legista do Instituto Médico Legal do estado de São Paulo (IML/SP). Teve participação em caso de emissão de laudo necroscópico fraudulento.
📍 Praça Augusto Rademaker Grunewald — Zona Sul
Praça Augusto Rademaker Grunewald
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🪖 Almirante de esquadra, integrou a junta militar que governou o país entre 31 de agosto e 30 de outubro de 1969. Foi ministro da Marinha em duas ocasiões e vice-presidente da República no governo do presidente Emilio Garrastazú Médici, entre 1969 e 1974.
📍 Rua Délio Jardim de Matos — Zona Sul

Rua Délio Jardim de Matos
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🪖Tenente-brigadeiro do ar, foi ministro da Aeronáutica de março de 1979 a março de 1985. De acordo com a descrição oficial do logradouro, em 1964, quando servia na Inspetoria Geral de Aeronáutica, foi um dos principais articuladores do movimento que depôs o presidente João Goulart e, no governo do marechal Humberto Castelo Branco, integrou o gabinete militar da presidência da República.
📍 R. Dr. Octávio Gonçalves Moreira Júnior — Zona Oeste
R. Dr. Octávio Gonçalves Moreira Júnior
Reprodução/Google Street View
🚨 Delegado de polícia, serviu no Departamento de Ordem Política e Social de São Paulo (DOPS/SP) e, posteriormente, no Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI) do II Exército. Foi morto no Rio de Janeiro em 1972. Teve participação em casos de detenção ilegal, tortura, execução e ocultação de cadáver.
📍 Avenida General Enio Pimentel da Silveira — Zona Sul
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A rua fica dentro de um condomínio fechado e aparece com seu histórico “em revisão”. O homenageado é um coronel que serviu no Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI) do II Exército de maio de 1970 a fevereiro de 1976. Teve participação em casos de tortura, execução e desaparecimento forçado.
📍 Rua Trinta e Um de Março, dia do golpe — Zona Sul
Rua Trinta e Um de Março
Google Street View
Além de nomes dos envolvidos com a ditadura militar, uma rua no bairro do Morumbi, na Zona Sul de São Paulo, leva como nome o dia do golpe militar de 1964 – 31 de março.
Na descrição da época, a justificativa apresentada foi que seria uma ‘”homenagem à Revolução Redentora de 1964″.
Nunes veta retirada de nome de praça no Itaim Bibi que homenageia ministro da ditadura militar que apoiou o AI-5
O que diz a prefeitura?
Ao g1, a coordenadora do núcleo de memória urbana do Arquivo Histórico Municipal, Gabriela Almeida, diz que os nomes das de envolvidos com a ditadura ruas não foram alterados todos ao mesmo tempo para cumprir previsto no programa Ruas da Memória por conta de uma questão burocrática, que exige, também, a participação dos moradores.
“Além das alterações de ruas terem que cumprir alguns dos critérios, precisa também da anuência dos moradores quando se tratar de uma via que existe em lotes. Então, precisa de uma anuência de 3% desses moradores para que a alteração do nome da via seja feita”, explica.
Em vias que não possuem moradores, como é o caso do Elevado João Goulart, o processo é mais rápido.
Sobre os novos nomes escolhidos, ela explica que a tendência tem sido por pessoas que viviam naquele bairro e que participaram de lutas locais.
“Antigamente, eram homenageadas, principalmente até o início do século passado, pessoas da elite paulistana, que não necessariamente tinham algo a ver com aquele local específico. […] Hoje em dia é mais comum, se a gente pegar, por exemplo, as denominações de 2023, que se homenageie pessoas que moravam naquele bairro, que participaram de lutas locais”, diz.

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