Cozinhas de hospitais que ensinam como ter uma dieta saudável, saborosa e que não pese no bolso

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As chamadas ‘teaching kitchens’ mostram a pacientes e alunos de medicina que comida de boa qualidade ajuda a prevenir doenças. Sempre que vou a um hospital como acompanhante ou para fazer uma visita, fico impressionada com a qualidade duvidosa de alguns alimentos oferecidos aos pacientes. Gelatina industrializada ou sorvete com gordura hidrogenada, ambos de baixo valor nutricional, chegam nas bandejas junto com biscoitos e queijinhos ultraprocessados. É possível fazer algo bem melhor e o movimento “comida como remédio” sabe como: através das chamadas “teaching kitchens”, ou seja, cozinhas onde se ensina como a alimentação saudável pode prevenir doenças, ser saborosa e não pesar no bolso. O conceito foi criado pelo médico David Eisenberg, professor de nutrição da Universidade Harvard, com o objetivo de mostrar que a simples mudança de hábitos na mesa melhora as condições de saúde das pessoas, além de diminuir os custos de operadoras do setor e governos.
Aula de medicina culinária: futuros médicos aprendem a importância dos alimentos para evitar doenças crônicas
Divulgação: University Commons
Eisenberg é filho e neto de padeiros e sua longa cruzada, que teve início na década de 1990, finalmente vem ganhando um número cada vez maior de adeptos. Quando menino, costumava passar os fins de semana ajudando o pai, até este ter um infarto fulminante com apenas 39 anos. Na sequência, três dos seus avós morreram num intervalo de um ano, selando o destino do garoto, que decidiu ser médico para entender por que perdera os entes queridos tão cedo. Já em Harvard, interessou-se pela medicina chinesa e transformou dois ensinamentos milenares em seu mantra: o primeiro é de que a prevenção é sempre melhor que a intervenção; o segundo é de que a soma do que comemos, como nos exercitamos e controlamos nossos pensamentos afeta nossa saúde e determina nossa capacidade de recuperação.
No começo, foram muitos seminários sobre “healthy kitchens” (cozinhas saudáveis), o embrião do projeto. Eisenberg contou com a ajuda de chefs que elaboravam pratos nutritivos, rápidos, gostosos e baratos, até convencer diretores de hospitais a instalar tais unidades, que poderiam funcionar como laboratórios de aprendizado e centros de pesquisa. Foi assim que surgiu a Teaching Kitchen Collaborative, hoje uma rede global que dá o passo a passo para deslanchar essa pequena revolução. Em entrevista recente, o professor se disse feliz por ter conseguido viabilizar cozinhas desse tipo em locais tão diversos quanto bibliotecas públicas e jardins botânicos, mas sonha em poder tê-las em instituições de longa permanência e escolas de Ensino Fundamental, para que as crianças entendam a importância de se alimentar bem.
Nos EUA, centros de referência que atendem crianças com dificuldade para se desenvolver – a maioria com baixo peso – foram os primeiros a se mobilizar. No Boston Medical Center, mães aprendem receitas que vão além do macarrão instantâneo e cabem no bolso, mas talvez o movimento mais relevante seja o de incorporar a experiência nas universidades. A médica Michelle Hauser, que também é chef formada pela escola de gastronomia Le Cordon Bleu, tem fila de espera de alunos para assistir a seu curso de medicina culinária na Universidade Stanford. Eles já sabem que, para o sucesso de qualquer tratamento, é fundamental que o paciente se alimente corretamente – e saber acrescentar um pouco de prazer a uma refeição faz toda diferença. Quem sabe chegaremos a uma dieta hospitalar sem ultraprocessados?

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