Mercado bilionário: demanda cresce e moda plus size planeja R$ 15 bilhões de faturamento até 2027


Avanço é impulsionado por pequenos negócios, que representam mais de 90% do setor Marca Lambuzada vende roupas do PP ao G8.
Arquivo Pessoal/ Rodrigo Santos
Os debates sobre inclusão e aceitação aos corpos fora do padrão têm crescido no mercado de vestuário. E, impulsionado pelo alcance da internet e das redes sociais, o tema já começa a alterar as configurações do segmento de moda — principalmente no que diz respeito a roupas plus size.
Segundo os dados mais recentes da Associação Brasil Plus Size (ABPS), o segmento movimentou R$ 9,6 bilhões em 2021 e tem expectativa de alcançar os R$ 15 bilhões em faturamento até 2027.
De acordo com especialistas ouvidos pelo g1, o movimento não é de hoje, mas ganhou força durante a pandemia e tende a crescer ainda mais nos próximos anos — resultado de mudanças na percepção e comportamento dos consumidores que, mais empoderados, demandam uma maior diversidade de produtos e peças que atendam a diferentes estilos.
Lá fora, nomes como Dolce&Gabbana e Versace, por exemplo, já trabalham há anos com tamanhos maiores do que a grade convencional. Por aqui, no entanto, esse movimento é mais recente, e só agora o mercado plus size começa a dar passos mais largos rumo a uma participação maior no setor de vestuário.
O crescimento, no entanto, é gradativo. O segmento ainda sente os impactos da pandemia de Covid-19, que trouxe uma queda geral na produção do setor de vestuário. Dados do IEMI – Inteligência de Mercado apontam que a produção de roupas plus size registrou uma queda de 5,4% em 2022 em relação ao ano anterior, com aproximadamente de 178,2 milhões de peças fabricadas.

“Houve, por exemplo, todo o impacto da valorização das commodities, que se agravou em 2022 com a guerra na Ucrânia. Além disso, também houve um ajuste de preços, que veio atrasado após um longo período de redução do consumo por conta da inflação”, explica o diretor do IEMI, Marcelo Villin Prado.
Aumento de peso da população e novas demandas de mercado
Mesmo com a desaceleração do segmento por conta da pandemia, no entanto, o mercado plus size ainda coleciona bons números, tendo crescido 75,4% nos últimos 10 anos, de acordo a ABPS.
Para especialistas, parte do que explica esse avanço é o aumento de peso da população e, consequentemente, as novas demandas que esse público passa a ter no mercado. Dados da Federação Mundial da Obesidade projetam que a obesidade atinja 41% da população adulta brasileira em 2035.
Segundo o diretor executivo da Associação Brasileira do Varejo Têxtil (Abvtex), Edmundo Lima, as diversas configurações corporais da população brasileira ainda são um desafio para o segmento de vestuário, mas o mercado tem trabalhado para ampliar sua grade de tamanhos e adaptar coleções para atender as demandas que têm surgido no setor.
“Se há alguns anos isso era tratado como um nicho de mercado, hoje em dia é uma forma de inclusão. Essas pessoas também querem ter suas expectativas e necessidades atendidas, e as companhias têm começado a olhar para o desenvolvimento desse mercado”, afirma o executivo.
O papel das grandes varejistas
Parte desse movimento já pode ser visto nas grandes varejistas. De acordo com Lima, além da ampliação da grade de tamanhos, algumas dessas companhias já têm uma marca própria ou mesmo uma rede de lojas dedicada a comercializar produtos plus size.
Dentre as grandes consultadas pelo g1, a C&A e a Riachuelo informaram que mantém uma “escuta ativa” com seus clientes e que estão em uma “busca constante” para desenvolver produtos que atendam os diferentes públicos, tendo visto um crescimento significativo no segmento plus size.
“Executamos a graduação [de modelagem das roupas] respeitando as particularidades de um corpo plus e, para esse tipo de produto, priorizamos o conforto. Nosso esforço está em trazer representatividade e reforçar a quebra de padrões impostos, incentivando todos a aceitarem seus corpos e suas medidas”, diz a diretora de compras e estilo da Riachuelo, Claudia Albuquerque.
Entre as marcas criadas pela companhia para atender o público plus size, a Filipa atende os tamanhos GG ao XGG e do 46 ao 54. Já a Allman oferece peças do G1 ao G4 e do 54 ao 60.
Já a C&A informou em nota oficial que além de criar um “Conselho Fashion” – grupo composto por clientes e convidados para auxiliar os times da companhia a entenderem a expectativa do público para as coleções. Também mantém uma equipe multidisciplinar dedicada exclusivamente às clientes plus size, que contam com produtos do GG1 ao GG4.
Moda plus size democratiza acesso a todos os tipos de roupa
Pequenos empreendedores respondem por mais de 90% do mercado
Mas, mesmo com o avanço do segmento dentro dos grandes varejos de moda, especialistas contam que o volume de pessoas que continua sem encontrar roupas com o tamanho apropriado ainda é grande.
Não à toa, parte importante do crescimento desse mercado também vem da ascensão de empreendedores, muitos dos quais decidiram montar o próprio negócio porque também passaram pela dificuldade de não encontrar peças modernas que tivessem um bom caimento no corpo gordo.
“Exatamente por já terem sentido essa dor, muitos dos nossos empreendedores não eram originalmente da área de confecção, mas aprenderam a fazer roupas em tamanhos maiores para atender sua própria necessidade”, diz a presidente da ABPS, Marcela Elizabeth.
“Isso explica o porquê de, dentro da estatística nacional, mais de 90% do mercado plus size ser formado por pequenos empreendedores.”
É o caso de Rodrigo Santos, 39, fundador da marca Lambuzada. O empresário conta que, sem encontrar peças que o vestissem bem e se adequassem ao seu gosto, começou produzindo camisas para uso próprio – e a ideia da marca deslanchou em 2015, quando outros amigos gordos e pessoas na rua começaram a perguntar sobre suas roupas.
Rodrigo Santos, 39, fundador da marca Lambuzada.
Arquivo Pessoal/Rodrigo Santos
Mas apesar de a Lambuzada atender tamanhos do PP ao G8, Santos conta que a marca ainda deixa pessoas desatendidas, já que há pessoas que vestem peças maiores. Nesses casos, o empresário diz que produz peças personalizadas, feitas com base nas medidas de uma roupa que a pessoa já tenha e que a vista bem.
“Tem bastante empreendedor surgindo no setor, mas ainda temos muito a crescer. Até porque se nós, que vivemos nas grandes capitais já não encontramos opções, imagina aquelas pessoas que vivem em uma cidade pequena e que não têm acesso? Precisamos evoluir porque esse setor não trabalha apenas com a roupa, mas com a autoestima”, acrescenta o empresário.
Além disso, outro ponto que também deve começar a evoluir são os preços do setor. Santos conta que ainda é comum no mercado entrar em uma loja e encontrar peças plus size que são duas ou até três vezes mais caras do que aquelas de tamanhos convencionais.
“No caso da Lambuzada, hoje, a gente fica bem no limite [dos preços] porque eu também preciso trabalhar com um tecido de qualidade, que não vai encolher na lavagem e que fique confortável na pessoa gorda. Mas ainda tem lojas que ultrapassam muito esse valor não pela qualidade do tecido, mas porque acham que precisam aumentar o preço só pelo tamanho da peça. Isso precisa melhorar”, completa o empresário.

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