Ucrânia interrompe o fluxo de gás russo para a Europa. Veja quem está mais em risco

A Ucrânia interrompeu, no dia 1º de janeiro, o fluxo de gás russo para vários países europeus, pondo fim à dominação de décadas da Rússia sobre os mercados de energia da Europa.

A gigante energética estatal russa Gazprom confirmou que as exportações de gás para a Europa via Ucrânia foram interrompidas por volta das 8h (horário local) de quarta-feira.

A medida, amplamente esperada, marca o fim de um acordo de trânsito de cinco anos entre a Rússia e a Ucrânia, com ambos os lados sem disposição para firmar um novo acordo em meio à guerra em curso.

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskyy, afirmou no mês passado que Kiev não estava preparado para prolongar o trânsito de gás russo, acrescentando: “Não vamos permitir que bilhões adicionais sejam ganhos com o nosso sangue.”

Impactos

A Rússia, que transporta gás para a Europa via oleodutos ucranianos desde 1991, afirmou que os países da União Europeia serão os mais afetados pela mudança no fornecimento. Moscou ainda pode enviar gás através do oleoduto TurkStream, que conecta a Rússia à Hungria, Sérvia e Turquia.

A Ucrânia perderá até US$ 1 bilhão por ano em taxas de trânsito de gás da Rússia devido à interrupção, de acordo com a Reuters, enquanto a Gazprom está prestes a perder cerca de US$ 5 bilhões em vendas de gás.

A Comissão Europeia, braço executivo da UE, disse que está trabalhando com os estados-membros da União mais impactados pelo fim do acordo de trânsito de gás para garantir que o bloco de 27 países esteja preparado para esse cenário.

Eslováquia, Áustria e Moldávia estão entre os países mais expostos à interrupção. Eles foram os países europeus mais dependentes do volume de gás russo em trânsito em 2023, de acordo com a Rystad Energy, com a Eslováquia importando cerca de 3,2 bilhões de metros cúbicos naquele ano, a Áustria recebendo 5,7 bilhões de metros cúbicos e a Moldávia recebendo 2 bilhões de metros cúbicos.

A Áustria afirmou estar bem preparada para a interrupção, mas outros estavam muito mais preocupados.

O primeiro-ministro da Eslováquia, Robert Fico, alertou que a interrupção do acordo de trânsito de gás pela Ucrânia terá um impacto “drástico” na UE, sem prejudicar a Rússia. Fico também ameaçou cortar o fornecimento de eletricidade para a Ucrânia vizinha.

Fico, crítico ferrenho do apoio da UE à Ucrânia na guerra em curso, fez uma visita surpresa a Moscou para conversas com o presidente russo Vladimir Putin pouco antes do Natal.

A Moldávia, que não é membro da UE, declarou um estado de emergência de 60 dias no mês passado devido a temores sobre a segurança energética.

Um total de 56 parlamentares, dos 101 assentos do parlamento moldavo, votaram a favor de um estado de emergência nacional, o que, segundo o governo, permitiria ao país adotar uma série de medidas para prevenir e mitigar a ameaça de escassez de recursos energéticos.

‘Um evento histórico’

O ministro de Energia da Ucrânia, Herman Galushchenko, descreveu a cessação do fluxo de gás russo via Ucrânia como um “evento histórico”.

“A Rússia está perdendo mercados, sofrerá perdas financeiras”, disse Galushchenko via Telegram no dia 1º de janeiro, segundo uma tradução do Google.

“A Europa já decidiu abandonar o gás russo. E a iniciativa europeia Repower EU prevê exatamente o que a Ucrânia fez hoje”, acrescentou.

Separadamente, o ministro das Relações Exteriores da Polônia, Radek Sikorski, saudou o desenvolvimento como uma vitória política, acusando o presidente russo Putin de ter tentado “chantagear a Europa Oriental com a ameaça de cortar o fornecimento de gás.”

Os dados mais recentes compilados pelo grupo da indústria Gas Infrastructure Europe mostram que as instalações de armazenamento de gás da UE estão cerca de 73% cheias. Na Alemanha, a maior economia da Europa e maior consumidora de gás, os estoques estão atualmente perto de 80%.

“Sem Azerbaijão ou outro terceiro país realizando o trânsito de gás após um acordo de troca com a Rússia, a UE precisará de cerca de 7,2 bilhões de metros cúbicos de gás que deverão ser adquiridos no mercado de GNL”, disse Christoph Halser, analista de gás e GNL da Rystad Energy, em uma nota de pesquisa.

“Terminais na Polônia, Alemanha, Lituânia e Itália poderão encaminhar esses volumes para os países mais afetados, como Eslováquia e Áustria.”

Segurança energética da Europa

Henning Gloystein, chefe da equipe de energia, clima e recursos do Eurasia Group, afirmou que a decisão da Ucrânia de interromper o fluxo de gás russo para a UE não é surpresa, já que tanto Kiev quanto Moscou afirmaram por um longo período que não estariam dispostos a renovar o acordo sob as condições atuais de guerra.

Em uma nota de pesquisa, Gloystein disse que o fim do acordo não ameaça a segurança energética da UE durante o inverno, citando as medidas tomadas pelos importadores da UE para se preparar para o corte no fornecimento e o clima ameno visto na maior parte da Europa.

Gloystein, do Eurasia Group, afirmou que os movimentos dos preços do gás nos próximos meses provavelmente dependerão dos desenvolvimentos políticos na guerra entre Rússia e Ucrânia e das condições climáticas restantes durante o inverno.

“Na frente política, há negociações em andamento entre alguns membros da UE (por exemplo, Eslováquia, onde muitos dos oleodutos da Ucrânia entram na UE), Rússia e Ucrânia para encontrar um compromisso que permita algum retorno no fornecimento. No entanto, não houve progresso nas negociações ao redor da virada do ano”, disse Gloystein.

“Na frente do clima, as expectativas são de temperaturas acima da média para o restante do inverno na Europa, o que implica que o impacto dos cortes será limitado”, acrescentou.

O preço do gás para o mês de negociação no hub TTF da Holanda, um referencial europeu para o comércio de gás natural, foi visto com alta de 1,2%, a 49,49 euros (US$ 51,1) por megawatt-hora, na quinta-feira, segundo a Intercontinental Exchange de Nova York.

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