Justiça suspende exercício da medicina por cirurgião plástico investigado por problemas em operações em Porto Alegre

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Imóveis de Leandro Fuchs foram alvo de mandados de busca e apreensão da Polícia Civil. Ele teve o passaporte apreendido, e a Justiça determinou que ele não pode sair da Capital, onde reside. Cirurgião plástico Leandro Fuchs, em foto no seu perfil no Instagram
Redes sociais/Reprodução
A Justiça do Rio Grande do Sul determinou, nesta sexta-feira (16), a suspensão do exercício da medicina pelo cirurgião plástico Leandro Fuchs, investigado pela Polícia Civil por lesões corporais gravíssimas em pacientes após problemas em operações. Além disso, o judiciário gaúcho proibiu o médico de sair de Porto Alegre, onde reside. Ele também teve o passaporte apreendido.
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O g1 entrou em contato com as assessorias de comunicação do médico e do Hospital Ernesto Dornelles na manhã desta sexta. As duas devem se posicionar a respeito do que aconteceu posteriormente.
Também nesta sexta, imóveis de sua propriedade, bem como o hospital onde trabalhava e do qual está afastado, foram alvo de mandados de busca e apreensão cumpridos pela Polícia Civil por determinação judicial. Foram eles:
Residência onde vive em Porto Alegre
Apartamento em Capão da Canoa, no Litoral do RS
Consultório médico
Hospital Ernesto Dornelles
“O objetivo da ação foi a coleta de documentos, mídia, dados relacionados às pacientes vítimas dessas cirurgias que ele havia feito. Ele é suspeito de crimes de lesão corporal grave a gravíssima. Houve pacientes que ficaram com deformidades permanentes decorrentes das cirurgias. Investigamos, agora, se foi de forma dolosa ou culposa. Dependemos de perícias técnicas. Prontuários médicos e o Instituto-Geral de Perícias vão ajudar a esclarecer”, explica o delegado Cléber Lima, responsável pela investigação.
Denúncias
Já foram registradas junto à Polícia Civil 25 queixas, além de haver mais quase 20 processos judiciais contra ele. Oito mulheres ouvidas pelo g1 contaram terem feito procedimentos com o profissional entre 2020 e 2023: são histórias de procedimentos sendo realizados por médicos residentes, falta de atenção e acolhimento durante a recuperação depois da cirurgia, sangramentos, infecções, mutilações e deformações (leia mais abaixo).
RELEMBRE O CASO
Cirurgião plástico é investigado por problemas após operações em Porto Alegre
‘Tenho raiva e vergonha do meu corpo’, diz paciente de cirurgião
Sobe número de denúncias contra cirurgião
Cirurgião plástico pede afastamento de hospital após denúncias
Leandro Fuchs, cirurgião plástico em Porto Alegre, em foto em seu perfil nas redes sociais
Redes sociais/Reprodução
As denúncias
“Só inchaço”
Uma das ex-pacientes de Fuchs, que preferiu não se identificar, conta que consultou com o médico em novembro de 2020.
“Disse que eu ficaria uma Barbie, que tiraria toda a gordura do meu tronco, prometeu que eu ficaria do jeito que eu queria”, lembra.
A cirurgia aconteceu em fevereiro de 2021 e custou R$ 25 mil. Para ela, um sonho de 11 anos que se concretizava. Ela viu que tinha algo errado quando foi chamada para a sala de operação: ele não estava lá. As marcações em seu corpo que indicavam os locais em que haveria intervenções foram feitas por uma médica residente.
“Ele apareceu somente quando eu já estava toda riscada e, aí, viu que algumas marcações estavam erradas. Na mesa de cirurgia, ele rabiscou por cima”, diz.
Durante alta hospitalar, ela diz que o médico não estava e quem deu a liberação foi a residente. Durante a recuperação, teve complicações, mas ele estava viajando e quem atendeu foram residentes. “Eles diziam que era só inchaço”, conta.
“Minha lipo ficou mal feita mesmo após o reparo. Minha cicatriz da abdominoplastia é totalmente torta, parece que foi dado um bisturi com alguém com tremedeira nas mãos. Tive de tatuar nos flancos, pois me atormentava a vergonha de por um biquíni e aquilo aparecer. Meu seio, que ele prometeu ficar no lugar por 10 anos, caiu em 6 meses”, diz.
“Quase morri”
Katiane da Silva conta ter feito o implante de silicone com o cirurgião no ano passado, mas a recuperação do procedimento teve complicações.
“Precisei fazer o explante, pois estava com uma grave infecção. Fui para o Hospital de Clínicas, estava séptica. Muita dor, febre e com a pressão extremamente alta”, conta.
Katiane é enfermeira com um carreira de 20 anos. Jamais pensou que passaria por uma situação como essa.
“Quase morri. Perdi meu emprego, pois eu era PJ (pessoa jurídica). Estou há 7 meses assim”, afirma, dizendo que nunca teve um retorno do médico.
“Torta tu já era”
Ana Cláudia Siqueira relata ter sido operada por Fuchs em 2020 e pagou R$ 19 mil pelos procedimentos. A plástica era na região do abdômen. Hoje, diz estar “completamente frustrada, com baixa autoestima, deprimida e decepcionada”.
“Eu era sacoleira, vendia roupa, calçado, almejava muito, sonhei muito e guardava cada centavo para pagar a cirurgia. Mas deu tudo errado”, conta.
Ana relata que foi pedir satisfações ao médico por conta de como havia ficado o seu corpo. Disse que se via “completamente torta” e ele respondeu “Torta tu já era. Tu estava acima do peso quando te operei”.
“Então por que operou? Ele me disse ‘tu vai ficar maravilhosa, esbelta, linda, perfeita’. Então, ele vendia aquele sonho. Hoje, eu sou completamente torta, tenho raiva e vergonha do meu corpo, dificilmente tenho relação [sexual] e, quando tenho, é no escuro completo para que não vejam meu corpo. Tenho baixa autoestima e pavor do meu corpo. Ele acabou comigo”, conta.
“Se abrir de novo vai ser uma ‘cacaca’”
Outra paciente que não quis se identificar relata que, ao procurar Fuchs após não gostar do resultado da cirurgia estética que havia feito nos seios, ouviu que se abrisse de novo “vai ser uma cacaca”. Disse que, passando mais tempo, poderia fazer o reparo.
Ao g1, a paciente disse que seus seios foram mutilados, que foi abalada psicologicamente, se separou e não tem condições de fazer um reparo, pois é uma cirurgia cara, e não confia em Fuchs para o procedimento.
Residentes faziam cirurgias
Outra paciente, que também não quis se identificar, passou por uma abdominoplastia e lipoaspiração em janeiro de 2023. O custo foi de R$ 18,6 mil. Ela disse que foi operada por dois médicos residentes. Após os procedimentos, teve duas infecções e seus pontos começaram a se abrir.
“Ele me disse que era normal, que tudo ia ficar bem”, conta.
A situação não melhorou e ela procurou outro hospital e outro médico. Passou por tratamento e só voltou a trabalhar em maio.
“Pretendo processar”, afirma.
Outra paciente conta que acredita que o médico marque muitas cirurgias para o mesmo dia, razão pela qual residentes acabam assumindo.
“Pude perceber porque ele está sempre no consultório e tem agenda fácil para operar, marca muita cirurgia no mesmo dia, uma cirurgia que leva horas, não daria para se fazer tantas”.
Paciente mostra cicatriz após a cirurgia
Reprodução/RBS TV
“Estava me cuidando errado”
Luana Machado Fantinel passou por cirurgia com Fuchs há um ano. Hoje, sente vergonha de usar biquínis ou roupas curtas.
“Minha cicatriz começou a alargar demais. Ele falou que era normal. Ele até arruma, segundo ele, porém isso tem custo e não tenho como. Além disso, tenho medo. Quando estive no escritório dele, logo que começou, falou que estava me cuidando errado. Mandou eu repousar mais. Que ficaria bom e me mandou fazer curativo. Nunca ficou”, conta.
Outra paciente relata que está com a “cicatriz torta, lipo mal feita, seio que caiu porque ele disse que meu seroma era só inchaço. Mas eu estou sem dinheiro pra pagar advogado. Falas dele: ‘é reação do teu corpo’, ‘olha como você era antes e agora’, ‘tem que esperar desinchar’, ‘continua as drenagens’, ‘daqui a seis meses volta para avaliarmos’”
Luana Fantinel relata que ficou com problemas na cicatriz após passar por cirurgia plástica
Reprodução/RBS TV
Relembre abaixo reportagem com as denúncias contra o médico
Polícia investiga denúncias contra médico por negligência em atendimentos
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