Mesmo com chuvas além do esperado, nível do Rio Acre tem redução de 1,6 metro em maio e especialista alerta para seca intensa

Acumulado de chuvas na capital acreana até esta quarta-feira (31) chegou a 182,6 milímetros, enquanto o aguardado para o mês era de 102,8 milímetros. Rio Acre teve cheia histórica entre março e abril, mas chega ao fim do mês com menos de 5 metros. Após enchente no mês de abril, Rio Acre segue abaixo dos 5 metros até esta quarta-feira (31)
Arquivo/Defesa Civil de Rio Branco
O nível do Rio Acre apresentou redução de 1,58 metro entre o primeiro dia de maio e esta quarta-feira (31). Segundo o monitoramento da Defesa Civil de Rio Branco, as águas iniciaram o mês em 6,33 metros, e na medição das 6h do dia 31 marcou 4,75 metros.
A redução ocorre apesar do acumulado de chuvas na capital acreana ter chegado a 182,6 milímetros. O total é 77% maior do que o esperado para o mês, que era de 102,8 milímetros.
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O dia 5 de maio teve o registro de maior volume de chuvas em Rio Branco, com 49,3 milímetros em 24 horas. Foram 14 dias sem registro de chuvas na capital acreana, segundo o monitoramento.
Nos primeiros 9 dias de maio, já havia chovido 92,12% do esperado para todo o mês, com 94,7 milímetros. Em abril, Rio Branco teve um volume de chuva 28,9% maior do que o esperado, alcançando 252,6 mm, sendo que a expectativa era de 195,9%.
Do final de março ao início de abril, Rio Branco passou pela terceira maior enchente da história e milhares de famílias foram afetadas. Cerca de 75 mil pessoas foram atingidas pela enchente do Rio Acre e mais de 15,4 mil que tiveram que deixar suas casas.
Ao todo, a cheia atingiu 42 bairros da zona urbana de Rio Branco. Além disso, 27 comunidades rurais ficaram isoladas, com 7,5 mil pessoas de mais de 1,8 mil famílias.
Seca intensa
O doutor em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da Universidade Federal do Acre (Ufac), José Genivaldo do Vale Moreira, afirma que a partir desta época do ano, durante o chamado verão amazônico, é esperado que ocorra estiagem intensa. Porém, ele alerta que institutos de pesquisa apontam para tendência de maior intensidade em todo o mundo este ano.
“É uma fase quente das águas do Pacífico, que já está em curso, e isso movimenta a circulação atmosférica de todo o planeta. Aqui na Amazônia, o período apresenta uma característica de menores índices pluviométricos e, consequentemente, os nossos rios mais secos”, analisa.
Após o evento extremo de cheia ocorrido entre março e abril, o especialista vê um cenário em que a seca se estenda por um longo período.
“A expectativa é também que esse período seja um pouco mais prolongado, por conta desse evento que está em curso. Como já foi visto em outras situações, isso causa algumas perturbações, como dificuldades no abastecimento de água e tantos outros, como registro de focos de incêndio e queimada de vegetação. Então, tudo isso são eventos mais comuns de ocorrer no período de estiagem, em que é registrado a presença do El Niño”, ressalta.
Perigo de ‘cota zero’
Em setembro do ano passado, o Rio Acre registrou três vezes cotas históricas durante a seca. Especialistas ouvidos pelo g1 à época chamaram atenção para estudos que apontam que, futuramente, o Rio Acre registre inclusive, cota zero em algumas regiões.
Em abril, Moreira ressaltou ao g1 que eventos extremos estão sendo registrados em maior proporção, e é preciso a adoção de medidas para gerenciamento de impactos. À época, a cheia do Rio Acre atingia diversos pontos da capital acreana.
Moreira também destacou fatores antrópicos, como ocupação urbana em áreas suscetível aos impactos dos fenômenos naturais como determinantes na extensão dos efeitos desses eventos.
Na avaliação do professor, Rio Branco está inserida em um contexto geográfico típico que sofre consequências da variabilidade acentuada nos processos hidrológicos. Com isso, é comum a ocorrência de extremos, tanto de cheias quanto de estiagem cujos impactos são acentuados, sobretudo à população de menor renda.
“Neste sentido, é importante trazer à tona o relatório ‘Emergência climática: estratégias subnacionais na Amazônia’, publicado em 2021, que apresentou, como parte de suas conclusões, que nenhum dos estados da Amazônia Legal possui sistemas de alerta e planos de contingência permanentes para eventos como inundações, secas, incêndios florestais e outros”, ressalta.
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