Mães que perderam filhos montam projeto para acolher mulheres em luto, em RR: ‘União para ajudar’

maes-que-perderam-filhos-montam-projeto-para-acolher-mulheres-em-luto,-em-rr:-‘uniao-para-ajudar’

maes-que-perderam-filhos-montam-projeto-para-acolher-mulheres-em-luto,-em-rr:-‘uniao-para-ajudar’


A estudante de medicina, Jade Forechi, de 28 anos e a fotógrafa, Yasmin Denizard, de 30 anos, idealizaram o “Filhos Invisíveis” para acolher mães que vivem o luto. O projeto já conta com 10 voluntários para ajudar outras famílias. Projeto ‘Filhos Invisíveis’ faz roda de conversa para ajudar mães.
Arquivo Pessoal
Mulheres, mães e agora, parceiras de luta. Elas têm muito em comum, inclusive uma bagagem pesada: a dor do luto. Com isso em vista, a estudante de medicina Jade Forechi, de 28 anos e a fotógrafa Yasmin Denizard, de 30, decidiram unir suas dores, transformar a palavra “luto” em verbo e acolher outras mulheres que passam por perdas semelhantes as delas em Roraima, fundando o projeto “Filhos Invisíveis”.
Com o objetivo de dar espaço de fala e ouvir as mães que vivem o luto logo no início da vida dos filhos, o projeto existe desde outubro de 2023. De acordo com Jade, a ideia nasceu “inesperadamente”, quando ela procurou Yasmin para produzir um vídeo de lançamento de um livro.
“Eu procurei ela [Yasmin] para fazer um projeto pessoal meu que eu vou lançar um livro. Onde fala sobre a perda dos meus filhos também […] daí eu descobri que ela também tinha uma história, da filha dela, e a gente teve uma troca muito especial no dia desse encontro, onde a gente reuniu vontades iguais, e começou a entender que pouco se falava sobre a perda gestacional neonatal”, explicou a estudante sobre o início do projeto.
Participe do canal do g1 Roraima no WhatsApp! 📲
E foi durante uma conversa em um café da manhã que o projeto ganhou vida. Jade e Yasmin decidiram então levar juntas para outras mães uma forma de encontrar no luto maneiras de ressignificar a dor.
A primeira roda de acolhimento do projeto aconteceu no dia 8 de outubro de 2023. Com 10 voluntários o projeto leva acolhimento e conversas com psicólogas para as famílias que estão lidando com o luto.
‘A ideia é criar uma rede de apoio’
Mães que perderam filhos montam projeto para acolher outras mulheres em luto em RR
A história de Jade deixou marcas para toda a vida. Ela perdeu três filhos e agora usa sua dor para acolher outras mulheres.
Ela engravidou pela primeira vez em 2016. A pequena Ágata nasceu de um parto prematuro, de 25 semanas, e após a experiência, Jade viu que a equipe médica não tinha um preparo adequado para tratar da morte de um bebê prematuro.
“Faltou uma abordagem adequada para aquele momento de despedida, e ao mesmo tempo eu vi que os profissionais que tanto cuidam da vida, muitas vezes não são capacitados e preparados a cuidar da morte de uma pessoa que a gente ama” relatou Jade.
Em 2018, Jade engravidou do Pedro, que foi diagnosticado com síndrome de Down e era cardiopata. Devido complicações no quadro clínico ele morreu 7 dias antes de completar um ano de vida.
Jade engravidou novamente em fevereiro de 2023, de Miguel, que também nasceu de um parto prematuro, com 22 semanas, mas devido a uma condição rara, as chances do bebê sobreviver eram pequenas. Jade deixou claro para a equipe que queria segurar o bebê nos braços e coletar lembranças com o filho.
“Eu já tinha muito claro o que eu queria na hora da despedida e o que era importante para mim. Isso me ajudou muito na hora do nascimento do Miguel, eu deixei claro para a equipe que o que eu queria era segurar no colo, ter uma foto, pegar o carimbo das mãos e dos pés do Miguel para guardar tudo isso para mim depois” relatou Jade.
Rodas de conversa procuram ouvir e dar local de fala para as mães.
Arquivo Pessoal
Já Yasmin engravidou em 2022. A pequena Cecília foi diagnosticada com síndrome de Turner, uma condição cromossômica que afeta apenas meninas, causando infertilidade, malformação cardíaca e baixa estatura. A bebê morreu devido uma hidropisia fetal, quando o corpo da criança enche de líquido.
“A gente tinha a vontade de ajudar outras mães que passaram pelo mesmo que vão passar pelo mesmo, infelizmente, mas a gente queria ressignificar essa dor e dar voz a essas mães” disse.
“Eu e meu esposo ficamos muito abalados lógico, mas a gente viveu o restante das semanas. A gente fez chá revelação, fez foto da barriga, contamos para os familiares, e vivemos. Vivemos tanto o luto antecipado, quanto celebramos a vida dela” relatou Yasmin.
Para Jade, é necessário um espaço onde mães possam falar sobre a perda prematura do filho, pois é algo “difícil” que nenhuma mãe está preparada para passar.
“A gente precisava desse espaço de fala ao mesmo tempo que é difícil encontrar quem saiba ouvir, muitas vezes a gente não precisa de um acolhimento por palavras, e só alguns ouvidos atentos e um um abraço carinhoso. A partir disso a gente viu que faltava essa forma de acolhimento para essas famílias” disse.
Filhos Invisíveis
Projeto “Filhos Invisíveis” ajuda mães a passarem por luto em Roraima
Rede Amazônica
O projeto segue com voluntários, mães unidas e, claro, muito espaço de fala. Para Jade, ver o “Filhos Invisíveis” dando espaço para mulheres de todas as idades e condições é algo que a inspira a seguir em frente.
“No ano passado foi uma roda assim muito potente onde a gente recebeu mães que precisavam desse espaço de escuta. Recebemos inclusive até um tio de uma criança, que faleceu. O tio passou o encontro todo muito emocionado, ele não falou nenhuma palavra, mas teve esse espaço de acolhimento em silêncio” explicou Jade.
A psicóloga Girlene Souza, especializada no atendimento de mulheres para planejamento familiar, parto e pós-parto, explica que buscar formas de acolhimento durante o luto é sempre bem-vindo, tendo em vista que é um processo doloroso e demorado.
“Com o luto, o casal vai passar por diversos desafios, e é importante que eles possam falar sobre o que estejam sentindo com alguém que possam confiar. É uma abertura para falar do que se está sentindo. Mas tudo isso não anula a importância de procurar uma ajuda profissional neste momento, mas buscar locais seguros de fala ajuda e muito”, explica a psicóloga.
Para Yasmin é uma honra dar para as mães algo que é sempre necessário em momento de dor: acolhimento.
“Existem rodas de acolhimento para essas mães, pais, irmãos, sobrinhos, várias pessoas não só as mulheres, mas a gente sabe que as mulheres acabam indo mais do que os outros familiares” explicou.
Mais de 10 voluntários ajudam no projeto.
Arquivo Pessoal
O acolhimento acontece a qualquer momento da gestação. Se a mãe receber o diagnóstico de que a vida do bebê será breve, pode entrar em contato com o projeto, para que eles planejem fotos, memórias e tornem aquele momento menos doloroso.
Para aqueles que precisam do auxilio, ou que desejam ser voluntários, podem entrar em contato através do Instagram.
Leia outras notícias do estado no g1 Roraima.
*Estagiária sob supervisão e edição de Caíque Rodrigues.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.