Existe vida após a morte? Pesquisadores defendem que sim

Embora tratadas como antagonistas ao longo do último século, a ciência médica e a espiritualidade têm pontes de contato e poderiam se desenvolver mutuamente se a parceria não fosse um tabu. Isso é o que defende o livro “Ciência da vida após a morte”, que será lançado dia 26/5 durante o 4º Conupes (Congresso Internacional de Ciência e Espiritualidade), em Juiz de Fora, Minas Gerais.

O livro foi escrito pelos psiquiatras Alexander Moreira-Almeida e Marianna Costa e pelo filósofo Humberto Schubert Coelho, todos eles do Núcleo de Pesquisas em Espiritualidade e Saúde da Faculdade de Medicina da UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora).

Na obra, os pesquisadores reuniram 150 trabalhos científicos feitos ao redor do mundo sobre temas que, usualmente, são considerados sobrenaturais. Os artigos tratam de estudos de caso de memórias de vidas passadas, mediunidade, vivências fora do corpo e experiências de quase morte.

Umas das evidências apresentadas sobre a possibilidade de uma consciência após a morte é um estudo realizado nos Estados Unidos em 2001 com pessoas que tiveram paradas cardíacas e, em seguida, foram “ressuscitadas”. De acordo com o trabalho, cerca de 10% delas relataram experiências de quase morte sobrenaturais. Alguns pacientes relataram essas experiências em detalhes mesmo tendo passado oito anos desses eventos.

Em entrevista ao Metrópoles, os autores do livro falaram sobre os principais temas da obra e a importância de as ciências também se debruçarem sobre aquilo que não tem explicação fora do campo do mistério.

Segundo os autores, as pesquisas reúnem evidências de que a mente humana pode existir para além da parte biológica e química do cérebro, existindo até uma consciência pós-morte.

Ciência e espiritualidade são temas divididos por um muro ou conectados por uma ponte?

Moreira-Almeida: “O livro não trata de religiões, mas de como mais de 150 artigos acadêmicos entenderam o tema da espiritualidade. Se estamos diante de experiências humanas que sugerem uma independência da mente em relação ao cérebro, temos que nos perguntar se é fraude, se é o inconsciente, se é alucinação… E se não é nada disso, devemos estar abertos a outras respostas do que seria.”

Marianna: “A separação é fruto de uma visão moderna. Acho que, especialmente, a partir de Freud, quando ele faz uma contraposição forte à religiosidade, passa a haver uma confusão entre religião e espiritualidade, mas, nos últimos 200 anos, vários cientistas se dedicaram a estudar fenômenos espirituais com o rigor científico necessário.”

Coelho: “A espiritualidade no mundo contemporâneo é associada a um pensamento irracional, sem critério, e isso faz com que as pessoas pressuponham que a fé é uma antítese da ciência. O conceito de espiritualidade, porém, evoluiu muito com o tempo e acho que vamos ter mais abertura para discutir isso cientificamente nos próximos anos.”

Experiências mediúnicas deveriam ser consideradas pela ciência mais seriamente?

Moreira-Almeida: “Observamos que esse tipo de experiência já é estudada, nosso livro não traz novos estudos, só reúne várias publicações, mais de 150 feitas ao longo de dois séculos. O que falta é que parte da ciência abra os olhos para estes estudos como tem sido feito nas mais prestigiosas universidades do mundo. Oxford, por exemplo, já tem núcleos que pesquisam estas temáticas.”

Marianna:“Certamente. São fenômenos que existem e sempre existiram em diferentes épocas e civilizações. Como qualquer fenômeno da natureza, merece uma atenção por parte da ciência.”

Coelho: “Esse tipo de experiência deveria ter uma maior consideração da ciência, um tratamento respeitoso, protocolar. Os fenômenos devem ser estudados conforme são. Até o descarte de uma ideia só pode ser feito com base no exame científico.”

Como esta conexão com a espiritualidade pode ajudar o trabalho terapêutico?

Moreira-Almeida: “Temos que entender do que é feita a mente, que ela pode ser mais do que simples química e biologia. Sou psiquiatra, uso medicações o tempo todo em meus pacientes, sei do aspecto químico e de sua importância, mas também tenho olhos atentos para entender que não são só as substâncias que alteram a mente, mas que o contrário também ocorre.”

Marianna: “Acho importante por que, do ponto de vista terapêutico, os profissionais da saúde tem de estar prontos para acolher as questões espirituais de seus pacientes. Além disso, estes estudos avançam em entendimentos da natureza da mente humana e essa inquietação não deve ser menosprezada.”

Coelho: “Toda ciência pode ajudar no trabalho terapêutico. A espiritualidade trata de questões muito fundamentais para os pacientes, do que é sagrado para eles, do que ultrapassa o valor do indivíduo. Seria presunçoso se ignorássemos o que o paciente diz que é determinante para ele.”

Como surgiu em vocês o desejo de investigar o tema?

Moreira-Almeida: “Quisemos fazer um levantamento sistemático de fontes para entender como estes fenômenos foram tratados pela ciência. Trabalho com essas temáticas há mais de 25 anos e sempre me aproximei delas de forma respeitosa. Temos que ter o rigor científico tanto para analisar um objeto como para refutá-lo.”

Marianna: “Muitas pessoas já viveram experiências anômalas na população em geral. Uma pesquisa com 256 mil pessoas de 52 países, por exemplo, encontrou que pelo menos 12,5% das pessoas afirmou já ter vivido algo anômalo. Isso é algo que desperta nossa curiosidade para entender esses fenômenos.”

Coelho: “Nunca tive uma experiência espiritual no sentido que o livro analisa, mas tenho uma vivência espiritualizada. Acho que justamente por isso, estou em uma posição de alguém que pode manter o interesse pelo tema, mas o afastamento necessário para entendê-lo como pesquisa.”

Serviço: “Ciência da Vida após a Morte”, de Alexander Moreira-Almeida, Marianna Costa e Humberto Schubert Coelho. R$ 55, à venda na loja da Editora Ampla.

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