De paralisia facial a hemorragia: saiba os riscos que recordista ‘Caveira’ assumiu ao queimar rosto com ferro de soldar

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Fernando Franco de Oliveira, de Tatuí (SP), que detém o título de homem mais tatuado do Brasil, já fez diversas modificações corporais, entre elas, a escarificação de parte do rosto – que consiste em desenhar formas na pele através de queimaduras. Recordista de tatuagens queima pele do rosto em novo procedimento em Tatuí
Fernando Franco de Oliveira/ Arquivo Pessoal
Motivo de abominação para alguns e admiração por outros, o morador de Tatuí (SP) que já ganhou o título de homem mais tatuado do Brasil em 2014 chamou a atenção ao queimar parte do rosto para formar o desenho de um arranhão.
Apesar do procedimento ser naturalmente invasivo, os riscos submetidos pelo homem “Caveira” ao realizar a “escarificação” foram potencializados pela forma inadequada como a técnica foi reproduzida. Sem uso de anestesia e com um ferro de soldar, o recordista poderia ter contraído infecções e até perdido parte do movimento do rosto, explicou a dermatologista Ana Helena Martins.
“O risco que ele assumiu foi muito grande. Sem assistência e de forma improvisada, ele poderia ter contraído uma infecção e até uma hemorragia, caso atingisse um vaso sanguíneo”, explicou Ana Helena, médica especialista em dermatologia clínica, cirúrgica e estética.
Originária dos povos indígenas, a “escarificação” consiste em queimar ou utilizar lâminas para cortar parte da epiderme a fim de formar desenhos. No caso do Fernando Franco Oliveira, nome verdadeiro do “Caveira”, o processo foi ainda mais invasivo, já que ele atingiu o tecido celular subcutâneo – a terceira camada da pele.
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Um vídeo gravado pelo recordista mostra, em detalhes, a cicatriz e explica que o procedimento foi feito por ele mesmo, no estúdio de tatuagens dele, localizado em Tatuí (assista acima).
“Os perigos vão além, porque a queimadura foi profunda. Se ele atingisse o músculo, certamente, teria perdido o movimento do rosto. É uma perda irreparável! Fora isso, o procedimento foi feito por ele mesmo, sem anestesia. A dor é muito grande! Ele poderia ter tido uma queda de pressão e não receberia ajuda, já que estava sozinho. Passou da coragem pro arriscado”, ressaltou a dermatologista.
Apesar da gravidade, o Caveira contou ao g1 que sabia dos perigos que poderiam ocorrer e que, por isso, pesquisou sobre anatomia humana com médico especializados e até em filmes.
“Sobre a hemorragia, vi que o ferro quente cauteriza o vaso sanguíneo. Não sou médico, mas foi isso o que eu vi nos filmes e com médicos, né? (…) Agora, sobre o músculo, sabia que era uma possibilidade. Porém, não sabia do risco da paralisia facial. Fiquei chocado!” afirmou Caveira, que já pensa em realizar a escarificação em outras partes do corpo.
Questionada sobre a automedicação, a dermatologista afirmou que cada tipo de procedimento deve ser tratado de forma única e a medicação só deve ser indicada por um profissional habilitado.
“É uma técnica originária dos povos indígenas e tem sido resgatada nos últimos tempos. Assim como todo procedimento, é necessário pesquisar bastante e garantir que tudo seja feito em um local correto e com um profissional habilitado”, completou.
Queimadura profunda
O tatuador explicou ao g1 que, ao utilizar um ferro de soldar, ele acabou queimando o tecido celular subcutâneo – a terceira camada da pele.
“Foi bem louco! Passei a fazer essas modificações porque não tenho mais espaço no corpo pras tatuagens e os implantes não param na minha cabeça. Vi a técnica e estudei a anatomia do rosto pra fazer o ‘bagulho’ no meu estúdio. Eu mesmo fiz! Olha, sou resistente pra dor, mas doeu demais. Não é qualquer um que aguenta”, contou Fernando, que é dono de um estúdio de tatuagem em Tatuí.
Morador de Tatuí, no interior de São Paulo, tem 99% do corpo tatuado
Fernando Franco/Arquivo pessoal
“A dor é extrema. Tem que ser bem doido pra fazer um negócio assim. Fora isso, foi tranquilo! Tô usando anti-inflamatório e, dessa vez, não fui parar no hospital. Estou satisfeito com o resultado. Ficou daora! É ainda mais legal ver a reação das pessoas”, comentou Fernando.
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Para o tatuador, que se declara como budista, as tatuagens e modificações corporais são apenas expressões artísticas e não têm relação com crenças e religiões. Ele ressalta que, apesar dos julgamentos, não bebe, não fuma ou usa drogas.
“Tem gente que se assusta, admira, fica curioso e também as ‘tiazinhas’ que falam: ‘Sai pra lá Satanás’. Eu não ligo para as críticas e até gosto das reações”, revelou o “Caveira”.
Nariz de caveira, língua bifurcada e dentes de vampiro
Além da escarificação, o “Caveira” tem as orelhas cortadas como a de um orc, criatura de contos de fantasia medieval.
“Eu tenho língua bifurcada, orelha de ‘orc’, dentes de vampiro e implantes de chifres na cabeça. E agora a última que eu fiz, para assustar de vez, foi o nariz. Mutilei para ficar com cara de caveira, com um cara que faz modificação corporal”, contou Fernando ao g1, quando cortou o nariz.
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Homem mais tatuado do Brasil
A primeira tatuagem do “Caveira” foi feita aos 14 anos: um tribal na perna, que já foi coberto com novos desenhos. Em 2014, Fernando já tinha o corpo completamente tatuado e ganhou o título de “homem mais tatuado do Brasil”, no RankBrasil.
“Até hoje o título é meu. Mais tatuado que eu só se a pessoa começar a tatuar por dentro, no fígado e tudo mais”, afirmou o Fernando, que tem 99% do corpo tatuado, com exceção das solas dos pés.
Fernando, de Tatuí (SP), ganhou título de homem mais tatuado do Brasil
Fernando Franco/Arquivo pessoal
“Tenho tudo tatuado, só falta a palma das mãos e a sola dos pés. Eu paguei pelas minhas tatuagens, mas se eu ‘encano’ com algum desenho, eu mesmo retoco. Eu gosto muito da dor da agulha, eu sou viciado, aí de vez em quando sinto a necessidade de retocar porque não tenho mais espaço no corpo”, completou.
Família e profissão
Apesar da aparência “incomum”, Fernando leva uma vida normal no interior de São Paulo. Ele é casado há 27 anos e a mulher não tem nenhuma tatuagem. O casal não tem filhos.
“Ela me respeita e eu respeito ela. Ela não gosta dessas coisas de reportagem, diferente de mim. Eu não posso ver uma câmera que pulo na frente”, disse.
Antes de ser tatuador, Fernando era soldador em Tatuí (SP)
Fernando Franco/Arquivo pessoal
Antes de ser tatuador, o morador de Tatuí trabalhava como soldador, mas sofreu um acidente de trabalho e se aposentou. Desde então, ele passou a trabalhar como tatuador e montou o estúdio.
“Antes das tatuagens, eu era um alcóolatra. Foi durante o período de reabilitação que encontrem nelas um válvula de escape. Me fascinou. Sou um apaixonado pelas agulhas”.
Fernando Franco já fez uma série de modificações corporais em Tatuí
Fernando Franco/Arquivo pessoal
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