Como a Uber fez do Brasil um “laboratório” para exportar inovação

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No ano passado, o CEO da Uber, Dara Khosrowshahi, resolveu tirar o figurino de executivo e virar um motorista de Uber para testar o aplicativo de uma visão diferente. No ano passado, ele fez mais de 100 viagens por São Francisco, onde fica a sede da companhia americana.

“Toda a experiência foi bastante desajeitada. Acho que a indústria como um todo, até certo ponto, não dá valor aos motoristas”, disse Khosrowshahi, comentando a experiência em entrevista ao The Wall Street Journal.

A experiência serviu para que a Uber começasse a fazer diversas modificações em sua plataforma, tocadas pelos seus 13 Tech Centers, uma espécie de laboratório que funciona como um centro de desenvolvimento de produtos, abriga profissionais de diferentes áreas que desenvolvem e testam novas ferramentas para o aplicativo

Um deles, no entanto, está ganhando cada vez mais espaço e protagonismo. Trata-se do Tech Center de São Paulo, o único da América Latina, onde a Uber já investiu R$ 250 milhões desde sua inauguração há cinco anos. Com 230 funcionários, a operação brasileira fica atrás apenas dos centros de Nova York, com 400 empregados, e de Hyderabad, na Índia, que tem 380.

É do centro tecnológico de São Paulo que saem as principais inovações em relação à segurança e que depois são “exportadas” para os mais de 80 países onde a Uber tem presença. “Avaliamos problemas de segurança em qualquer lugar, mas fazemos isso no Brasil com prioridade máxima”, diz Sachin Kansal, vice-presidente de gestão de produtos da Uber, em entrevista ao NeoFeed

Foi a partir de problemas observados no Brasil que a Uber desenvolveu recursos como a possibilidade de compartilhar o trajeto de uma corrida em andamento com outra pessoa pelo celular, gravar o áudio das conversas entre motoristas e passageiros e permitir que motoristas mulheres pudessem selecionar transportar apenas outras mulheres.

Depois de serem testadas, as inovações brasileiras foram levadas para o exterior. Questionado sobre quais países, Kansal afirmou que elas foram introduzidas em diversos mercados. E, em breve, novos recursos do Tech Center paulista devem ser “exportados”. “Não são desenvolvidas apenas soluções para questões específicas do Brasil ou da América Latina, mas produtos globais”, diz Kansal.

Nesta semana, a Uber realizou um evento no Brasil para mostrar mais ferramentas criadas por aqui que devem chegar a outras praças globais. Uma das novidades é a possibilidade de recurso de gravação de vídeo pelo celular na qual motoristas da plataforma vão poder registrar as viagens.

A empresa também apresentou um recurso que prevê que motoristas, a partir de categorias mais altas no aplicativo, possam receber solicitações de viagens que começam e terminam apenas em regiões específicas. Aliado a isso, a companhia também desenvolveu uma ferramenta que permite ao condutor identificar quais regiões apresentam médias maiores de ganhos por dia da semana.

Mas não só produtos que possam ser exportados que são desenvolvidos pela operação de São Paulo. Um exemplo está ligado a área de pagamentos. Foi a partir do trabalho realizado no Brasil que a companhia conseguiu oferecer a venda de gift cards com pagamento por PIX ou boleto – métodos de pagamentos que só estão disponíveis no País.

Problemas “low-tech”

Ao mesmo tempo que busca usar cada vez mais a tecnologia, a Uber enfrenta problemas que estão longe de serem high-techs, como a demora para encontrar motoristas, cancelamento de viagens e as taxas cobradas pela plataforma.

Kansal informou que houve um aumento no tempo médio em que o passageiro precisava esperar o motorista por conta de uma demanda maior de serviços do que a oferta durante os primeiros meses do pós-pandemia. Nos últimos meses, segundo a empresa, o tempo vem sendo reduzido gradativamente.

Sobre os cancelamentos, o executivo da Uber afirma que vem analisando a prática de perto. “Estamos trabalhando com conscientização e educação, enviando mensagens aos motoristas e explicando as consequências de seus cancelamentos”, diz Kansal. “E estamos tentando entender porque eles estão cancelando as corridas.”

A Uber fez também alterações em relação às solicitações das corridas no aplicativo. Antes, os motoristas não podiam ver com exatidão o endereço destino antes de aceitarem uma corrida. Com isso, os cancelamentos eram mais frequentes. Sabendo o destino, o motorista pode decidir com mais clareza se aceita ou não a viagem.

Já em relação aos ganhos dos motoristas, Kansal informou que vem implementando políticas para deixar mais transparente o quanto cobra e quais são as taxas dos serviços. De acordo com ele, em geral, mais de 80% do valor das corridas é repassado aos condutores.

Acelerando os números

Depois de sofrer durante a pandemia, a Uber vem recuperando seu negócio. No primeiro trimestre deste ano, a companhia americana registrou um aumento de 29% em sua receita, que somou US$ 8,8 bilhões no período. O Ebitda, por sua vez, cresceu mais de quatro vezes para US$ 761 milhões. Já o prejuízo caiu de US$ 5,9 bilhões para US$ 157 milhões no período de um ano.

A Uber reportou também aumento de 13% nos usuários ativos em suas plataformas (tanto o aplicativo de transporte como os serviços Uber Eats e Uber Freight). Agora 130 milhões ao redor do mundo. No Brasil, segundo dados divulgados no fim de outubro de 2022, a companhia tinha cerca de 30 milhões de usuários.

Avaliada em US$ 77,7 bilhões, a empresa não revela quantos motoristas possui atualmente. Em agosto do ano passado, no entanto, a companhia ultrapassou a marca de 5 milhões de condutores.

No Brasil, estimativas feitas pela Universidade Federal do Paraná apontam que cerca de 1,5 milhão de pessoas trabalhem com o aplicativo.

Fonte: Neofeed

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