Manipulação de jogos: Mensagens apontam que zagueiro do Bragantino aceitou R$ 70 mil para receber cartão e perguntou: ‘Mas é tudo legal?’

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Investigação apontou que Kevin Lomónaco recebeu R$ 30 mil antes do jogo entre o Red Bull Bragantino e o América-MG. Atleta aceitou acordo de não persecução penal e não responderá criminalmente. Mensagens apontam que zagueiro Kevin Lomónaco, do Red Bull Bragantino, aceitou R$ 70 mil para receber cartão em esquema de manipulação de resultados de jogos
Reprodução/MPGO e Ari Ferreira/Red Bull Bragantino
Conversas obtidas pelo Ministério Público de Goiás (MPGO) mostram um diálogo entre Luís Felipe Rodrigues De Castro, acusado de integrar grupo que manipulava resultados de jogos, e o jogador Kevin Lomónaco, do Red Bull Bragantino. Os prints indicam que o atleta aceitou R$ 70 mil para receber cartão amarelo durante uma partida, mas questionou se Luís também ganharia algo com isso e sobre a legalidade do pedido.
“Irmão, mas é tudo legal? Não acontece nada, né?”, disse Kevin.
O g1 não localizou as defesas de Kevin e Luís Felipe para ter um posicionamento até a última atualização desta reportagem.
O jogo em questão era entre o Bragantino e o América-MG. Um comprovante bancário mostra que Kevin recebeu R$ 30 mil adiantados. Segundo o MPGO, na partida, o atleta de fato recebeu o cartão amarelo. Conversas mostram que Luís chegou a tranquilizar o jogador dizendo que não era legal, mas era seguro (veja detalhes abaixo).
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O MPGO apurou também que em outro jogo, desta vez do Bragantino contra o Portuguesa, Kevin recebeu a proposta de R$ 200 mil por uma expulsão, mas negou.
Kevin aceitou um acordo de não persecução penal, proposto pelo MPGO. Por isso, o atleta admitiu a participação para receber o cartão amarelo e, no processo, é enquadrado como “testemunha e informante” e não sofrerá ações penais no processo. O ge mostrou que o jogador já havia sido afastado pelo Bragantino.
Kevin Lomónaco, zagueiro do Bragantino.
Ari Ferreira/Red Bull Bragantino
Diálogos
As conversas entre Luís e Kevin aconteceram entre 26 de outubro e 5 de novembro de 2022, segundo o MPGO. No primeiro contato, Luís se apresentou e disse que tinha jogadores no Bragantino para participar do esquema, mas eles estavam no banco reserva e ele precisava de um jogador para garantir um cartão amarelo no primeiro tempo da partida.
Luís explicou que outras pessoas disseram que Kevin era de confiança, por isso estava entrando em contato com ele. Logo após, ofereceu R$ 60 mil e explicou que uma parte seria paga antes do jogo.
As mensagens não foram respondidas pelo atleta, mas o acusado continuou enviando mensagens em outubro e reforçou o pedido: “Bora fechar aquela proposta? O que você acha? Pra tomar cartão amarelo no jogo essa semana, irmão, a gente paga um valor legal pra você aí, é só você garantir esse cartão pra gente. O que você, acha?”.
Poucos dias depois, já em novembro, o jogador respondeu, mas aparentava não entender muito bem a proposta.
“Irmão não sei se você entendeu. A gente paga pra você R$ 70 mil pra tomar cartão amarelo no primeiro tempo […] Isso a gente faz com vários jogadores da Série A, entendeu? A gente faz com vários jogadores da Série A. A gente paga pra eles pra vocês ‘tomar’ cartão amarelo, só isso”, explicou Luís Felipe.
Depois, Kevin perguntou o que aconteceria se ele não recebesse o cartão amarelo. Veja a conversa:
Luís Felipe: “Não irmão, mas você só precisa fazer o certo. Você precisa levar o cartão amarelo. Não pode ter erro, tem que ser seguro”
Kevin: “E se não faz cartão amarelo, o que acontece?”
Luís Felipe: “Não pode acontecer isso, nós perde dinheiro, irmão”
Kevin: “Ah, por isso, por isso vocês estão me enganando. Isso que eu tô te falando”
Luís Felipe: “Por que assim, irmão, a gente vai entrar com cinco jogadores, entendeu? No caso, por exemplo, você e mais quatro jogadores, pra tomar cartão, da Série A, se caso, os outros quatro tomarem e você não, aí a gente vai perder, e os caras que tomou vão querer receber, porque eles estão sendo pagos pra isso, entendeu?
Luís Felipe: “É muito seguro, irmão, muito. Pero, não pode ter erro […] Mas você pode ficar tranquilo, questões de segurança, fica muito, muito tranquilo”
Depois dessa conversa, os dois falam sobre quais jogadores do Bragantino também estariam envolvidos no esquema e Luís garante que ia pagar o PIX. No dia 5 de novembro, o comprovante do pagamento de R$ 30 mil foi enviado ao atleta, que confirmou o recebimento.
Luís chegou a pedir indicação de outros atletas que poderiam entrar no esquema, mas Kevin disse que não sabia. Durante a partida, o acusado mandou mensagem pedindo para que o jogador não recebesse o cartão, porque Eduardo Bauerman, do Santos, não havia recebido a penalidade. Como as apostas eram combinadas, tudo deveria ocorrer como o planejado.
Mas como Kevin estava em campo, ele não viu a mensagem e recebeu o cartão. Depois do jogo, Luís garantiu que o jogador receberia o dinheiro.
“Eu ia falar pra cancelar se você conseguisse ver o celular, entendeu? Porque o jogador dos Santos que é nosso, não tomou, mas sem problemas, como você tomou sem problemas, você vai receber normal, entende?”, disse.
Nos dias seguintes, Luís mandou várias mensagens tentando convencer Kevin a fazer outra jogada para o esquema, mas o jogador disse que não aceitaria enquanto não recebesse os R$ 40 mil restantes. Pelo diálogo é possível ver que o acusado insistiu e chegou a explicar sobre a confusão em que Bauerman estava envolvido por não ter feito o que tinham combinado.
O clube
No dia 18 de abril, em uma nota publicada no site, o Red Bull Bragantino informou que tomou conhecimento da operação envolvendo esquemas de manipulação em jogos da Série A do Brasileiro e de campeonatos estaduais, e da presença do atleta entre os investigados.
O clube afirmou que “tem tolerância zero com qualquer atitude que possa ferir a idoneidade do esporte e vá contra os valores e dignidade de todos que aqui estão”. Além de se colocar à disposição das autoridades durante a investigação.
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