‘Cação é tubarão’: pesquisa mostra que 54% dos brasileiros desconhecem a origem da carne


Feito em agosto deste ano, levantamento da Sea Sheperd Brasil traz preocupações sobre a falta de identificação de espécies comercializadas. Segundo Natthalie, Brasil recebe partes de tubarões que não são consumidas por outros países
Todd Southgate / Sea Shepherd Brasil
Um levantamento feito pela organização sem fins lucrativos de proteção à vida marinha Sea Sheperd Brasil, em agosto de 2023, mostrou que 54% da população brasileira desconhece a origem da carne de cação. Embora o consumo humano do produto seja comum no país, especialmente em regiões costeiras.
De acordo com a presidente da organização Nathalie Gil, a falta de informação nos mercados sobre a espécie comercializada levanta preocupações sobre a conservação de alguns tubarões. Ela afirma que a carne nomeada como “cação” pode ser qualquer espécie de tubarão e, inclusive, de raia.
“Isso gera uma grande desinformação para as pessoas, que acham que cação pode ser uma espécie específica ou um tipo de tubarão, essa impressão de que não são todas as espécies de tubarão sendo vendidas como tal”, explica.
Segundo Nathalie, o Brasil recebe a carne de tubarões de países que comercializam apenas as barbatanas em seu território, “reaproveitando” as partes que eles não querem. Esses animais, pescados mundo a fora, chegam aqui sem identificação da espécie. Apenas com o nome “cação”.
“Na importação e exportação não é obrigatório ter o nome da espécie, o que traz outro agravante ao problema. A gente pode estar recebendo tubarões de diversas espécies, alguns até ameaçados de extinção, sem saber. Isso porque estamos recebendo como cação, apenas”, afirma a presidente.
“Cação” é o nome geralmente dado à carne de pequenos tubarões
Sea Sheperd Brasil
A espécie mais comum e consumida no Brasil é a tubarão-azul (Prionace glauca), entretanto, espécies em risco de extinção também são vendidas no Brasil, como o tubarão-martelo (Sphyrna) e o cação-viola (Squatina argentina). Outros tubarões, que não estão classificados como ameaçados, também são consumidos, como é o caso do tubarão-tigre (Galeocerdo cuvier).
Desde 2021, a Sea Sheperd Brasil realiza a campanha de conscientização “Cação é tubarão”, pela qual veiculam informações na mídia, realizam e divulgam pesquisas sociais, fazem palestras junto às escolas, entre outras ações para conscientizar a população.
Por meio da pesquisa, a presidente da organização conta que muitas pessoas, ao se darem conta de que a carne de cação é uma espécie de tubarão não identificada, mudam de opinião quanto ao consumo.
A carne de tubarão muitas vezes é disfarçada em pratos genéricos de peixe, já que o “cação” é um alimento barato e sim espinhas. A organização de conservação marinha informou que não tem dados referentes à pesca de tubarões no Brasil.
“A carne de cação está cada vez mais valorizada no Brasil, está se tornando um mercado por si só. E é algo que a gente quer resolver, porque não pode ter a valorização de uma carne que não tem um direcionamento de pesca, não tem gestão e não deveria ter mesmo, porque não existe sustentabilidade na pesca do tubarão e também porque faz mal à saúde”, diz a presidente.
De acordo com ela, no Brasil, a pesca industrial está relacionada à questão do cação, pois se trata de uma pesca, de certo modo, disfarçada e pouco regulamentada. Isso sem falar da pesca ilegal.
Outro problema é que essas espécies podem concentrar contaminantes e metais pesados que são prejudiciais à saúde humana.
Carne de cação é popular no país devido ao baixo custo
Todd Southgate / Sea Sheperd Brasil
*Texto sob supervisão de Giovanna Adelle
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