Mães solo compartilham sentimentos e dificuldades na criação dos filhos sem a presença do pai: ‘A cobrança fica sempre em mim’

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Mães contam que a maternidade já possui milhares de desafios, por uma questão de escolha ou não, e que estar sozinha gera responsabilidade ainda maior. Mães solo de Jundiaí dividem os sentimentos na criação dos filhos sem a presença paterna
Foto: Dayane Maretto/Arquivo Pessoal
“Ser mãe é maravilhoso, ser mãe solo é difícil”, são com essas palavras que uma mãe de Jundiaí (SP) define a realidade de uma rotina sem a presença paterna. Se a maternidade já possui milhares de desafios, por uma questão de escolha ou não, estar sozinha gera uma responsabilidade ainda maior. 
Após uma separação conturbada há três anos e mãe de dois filhos, Tatiana Maciel, divide ao g1 que se viu em uma situação em que sentia medo, pois havia entrado em uma relação sem filhos e teria que passar por algo novo.
“Acho que o primeiro sentimento que tive foi o medo, porque era um desconhecido. Até então, antes de eu entrar na relação, não tinha filhos. Tive medo, medo de não conseguir cuidar sozinha, medo de não dar conta, de não ser uma boa mãe. Então, tive muito esse sentimento”, explica.
Em uma situação diferente, Camila Gimenes, também mãe de dois meninos, ficou viúva há dois anos, porém, detalha que a criação dos filhos de forma solitária começou ainda na primeira gravidez, 13 anos atrás, quando viu que o marido não seria participativo.
“Quando percebi que ele não seria um pai que eu almejava para os meus filhos, que não era participativo o suficiente, falei: ‘vou ter que dar conta das coisas’. Eu não dirigia muito para lugares longes, comecei a dirigir mais, a me arriscar mais, porque se as crianças precisassem ir para um lugar mais longe, eu iria dirigir. Comecei a trabalhar mais, mesmo com eles em casa, assumi a responsabilidade de pai e mãe. Fiquei triste. A gente fica frustrada porque você tem um marido, você quer que ele seja seu companheiro, e, principalmente, que ele seja o pai presente”, conta Camila.
Segundo a psicóloga e especialista em neuropsicologia, Roberta Cibele Oliveira de Aguiar, alguns artigos apontam que as mães solo passam por muitos níveis de estresse que acabam trazendo diversos sentimentos. 
“Elas têm um estresse, principalmente quando o bebe é recém-nascido, equivalente quando um soldado está na guerra. Para ver o nível de estresse, de tensão, de nervosismo que elas acabam sofrendo. Essa mãe solo não é só uma mãe que não é casada, que não tem um companheiro. Muitas mães relatam que são casadas, que têm companheiro, têm namorado, o pai assumiu a criança, mas não assumiu a responsabilidade”, afirma. 
“A mãe nunca consegue se desligar. Isso acaba trazendo esgotamento mental. Muitas chegam na sessão e falam: ‘nossa, é o tempo que eu tenho pra ficar aqui e não pensar no meu filho’, não que isso seja ruim, mas é porque elas não têm tempo para se olhar. Elas chegam esgotadas emocionalmente. A fala é muito sobre solidão, abandono, impotência de não se sentir uma mãe boa o suficiente. Ela é responsável por assumir se essa criança não vai bem na escola, se não consegue por limite, é um peso muito grande. Quando a gente compartilha com a rede de apoio ou com os companheiros, fica mais leve, mais tranquilo”, diz a psicóloga.
Mãe solo há alguns anos, Dayane Maretto é mãe de um menino de 14 anos que passou por diversos desafios desde quando estava grávida. Além de um parto prematuro com 24 semanas de gestação e outras dificuldades, o filho teve hidrocefalia, que é uma doença onde tem um aumento da quantidade de liquor no cérebro, que tem como principal função fornecer barreira mecânica e imunológica ao sistema nervoso central. Ela conta que foi casada por três anos, mas que precisou seguir em frente. 
Mãe de Jundiaí passou por diversos desafios e conta sobre os aprendizados
Dayane Maretto/Arquivo Pessoal
“Arregacei as mangas , peguei meu filho nos braços e fui pra batalha. Quando estamos vivendo aquele momento difícil, queremos desistir, jogar tudo para o alto, sair correndo, gritar socorro. Faria tudo de novo, não me arrependo de nada. A canseira passa, a tristeza vai embora, o aprendizado vem chegando, as mudanças positivas vão ganhando seu espaço”, compartilha Dayane.
Cobrança será ‘eterna’
Para Tatiana, a cobrança depois que se torna mãe será eterna, sempre por uma coisa ou outra. “Acredito que hoje estou muito mais tranquila, consigo administrar toda situação. O medo foi embora, é muito tranquilo. Muito tranquilo saber administrar, mas não é fácil. É complicado com as crianças porque a cobrança fica sempre em mim. O professor vai me procurar, o rapaz do transporte escolar me procura, a minha demanda aumentou absurdamente porque agora eu não compartilho com ninguém.”
“Eu me sinto vitoriosa pelo aspecto de que eu estou dando, sempre dei conta das crianças e eles conseguem ver que a mãe é ‘pau pra toda obra’. Me vejo uma pessoa muito melhor do que eu era no começo, porque você se fortifica das coisas, você aprende. O mais velho fala: ‘você sempre foi minha mãe e meu pai”‘, afirma Camila sobre assumir os dois papéis.
Mãe diz que se sente vitoriosa por conseguir dar conta e os filhos reconhecerem
Camila Gimenes/Arquivo Pessoal
Camila ainda completa: “Ser mãe é maravilhoso, ser mãe solo é difícil. Não é uma mãe guerreira, não vejo assim. Eles acham bonito, principalmente os homens. Não, não acho. Acho que ela é responsável, acima de ser guerreira, acho que a gente é sobrecarregada, mas nós somos responsáveis. Eu brinco que a maior responsabilidade de uma pessoa é criar um outro ser humano. É uma missão difícil, gostosa mas é difícil.”
A psicóloga, Roberta Cibele Oliveira de Aguiar ainda pontua sobre como as pessoas podem ajudar uma mãe solo e tirar as frases de julgamento. “O primeiro passo é a gente não julgar. São desafios maternos. Cada criança é uma experiência, cada mãe é uma experiência. Tirar o julgamento e oferecer uma ajuda, isso já traz alívio, e escutar essa mãe quando ela precisar, no que ela quer, no que está acontecendo e trazer um acolhimento”.
“Lembrar sempre que ela tá fazendo o melhor que ela pode para o filho que ela tem, então tentar não se cobrar demais. Ela já faz o seu melhor todos os dias, na medida que consegue”, finaliza Roberta.
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