Opinião: “Lula precisa deixar a teimosia de lado e cair na real”

O Brasil mudou muito nos últimos anos, mas o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não parece ter percebido o calibre dessas mudanças, embalado pela própria eleição em 2022. Lula foi eleito (por uma margem inferior a dois pontos percentuais) porque uma parte da sociedade rejeitou os supostos exageros de seu antecessor, Jair Bolsonaro – não por concordar com uma agenda econômica ultrapassada e perigosa promovida pelo PT.

A sociedade brasileira, hoje, sabe que gastos públicos em demasia podem gerar inflação e juros altos. Nem todos podem ter uma noção exata de como uma coisa leva à outra, mas já se pode dizer que há uma reprovação geral ao Estado que produz déficits gigantescos. Além disso, a atuação dos agentes financeiros é atualmente muito mais percebida pelo cidadão comum, que fica preocupado a cada vez que o dólar dispara a partir de uma declaração das autoridades.

A recente alta da moeda americana provocou um susto no Planalto. Foi o resultado de uma afirmação do ministro Fernando Haddad, que não soube dizer quando iria anunciar medidas para conter os gastos públicos, pois aguardava a orientação do presidente Lula, a quem municiava frequentemente com dados sobre a administração federal.

Depois do pulo nas cotações do dólar, Lula convocou Haddad e o próximo presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, para uma reunião no Palácio do Planalto. A pauta era dar mais rapidez à divulgação de um plano fiscal para mostrar à chamada Faria Lima de que existe preocupação com os efeitos do déficit estatal na curva inflacionária.

Mas Lula precisa entender de uma vez por todas que não pode agir como em seus primeiros mandatos – ou melhor, como agiu Dilma Rousseff, pilotando de forma irresponsável a máquina que levou o país à estagnação econômica e à inflação descontrolada.

As urnas deram um recado ao presidente: os eleitores não estão contentes. Boa parte desse descontentamento está relacionado com a percepção de que Lula está à frente de uma proposta anacrônica, que turbina a economia através do consumo e da verba pública.

Já vimos esse filme durante o governo Dilma e, por pouco, não morremos no final. Apesar do fracasso retumbante de sua colega de partido, Lula foi convencido de que Dilma foi vítima de uma injustiça. Além disso, a ex-presidente teria sofrido a ação de um complô armado pelos empresários, que deixaram de investir e provocaram uma recessão.

Ora, os empresários podem até não gostar do PT – e por razões óbvias. Mas não têm por hábito rasgar dinheiro. E é exatamente o que fariam se resolvessem provocar deliberadamente uma queda na atividade econômica apenas por birra. Está na hora de cair da real. Os empresários são uma peça importantíssima para a geração de riquezas e não podem ser alvo constante de ataques ou desconfianças.

Enquanto o presidente continuar a patrocinar um conflito de classes apenas para ganhar aplausos da claque esquerdista, pior será para todos os brasileiros. O tal pacote fiscal será anunciado a toque de caixa, pois o dólar assustou as autoridades. Daqui para frente, no entanto, o governo deveria se render às evidências e não apenas ceder aos humores do mercado financeiro.

A sociedade não é mais a mesma do início dos anos 2000 e clama por mudanças. Se o PT não se reciclar nos próximos meses, corre o riso de entrar em parafuso, perdendo as próximas eleições presidenciais e encolhendo substancialmente.

 Para aqueles que duvidam das previsões mais sombrias, basta ver o que aconteceu com o PSDB. Quando ele deixou de ser a antítese do PT, desmontou. Hoje, a esquerda é a oposição à direita radical. Mas os resultados do último pleito mostraram que o centro surge com força total para tomar o protagonismo que hoje está na mão dos petistas.

Caso insista em uma visão ultrapassada para o país, Lula encerrará sua carreira política de forma melancólica e isso pode ser o início do fim para o PT.

Coluna escrita por Aluizio Falcão Filho jornalista, articulista e publisher do portal Money Report, Aluizio Falcão Filho foi diretor de redação da revista Época e diretor editorial da Editora Globo, com passagens por veículos como Veja, Gazeta Mercantil, Forbes e a vice-presidência no Brasil da agência de publicidade Grey Worldwide

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