‘Sempre vai ter uma coisa que vai ser a 1ª vez sem o Anderson’, diz viúva de motorista ao desabafar sobre luto em júri


Ágatha Arnaus foi a quarta a depor, logo depois da viúva Mônica Benício. Ela lembrou como foi encarar o luto com um filho especial de menos de 2 anos. ‘Sempre vai ter alguma coisa sem o Anderson’, diz Agatha Reis, viúva de Anderson Gomes
A advogada Ágatha Arnaus, viúva do motorista Anderson Gomes, lembrou como foi o último dia de vida do marido e como foi enfrentar o luto em seu depoimento no júri popular que julga os assassinatos do marido dela e da vereadora Marielle Franco, nesta quarta (30).
A viúva contou que Anderson se preparava para uma vaga de mecânico de aviação, formação que ele tinha e queria seguir. No tribunal, o promotor mostrou áudios do homem em sua última conversa com a esposa e um vídeo dele descobrindo que seria pai: um dos seus maiores sonhos.
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Ágatha lembrou que o filho era desejado desde a época do namoro, e que Anderson sofreu ao saber que ele teria uma condição especial rara, mas que não perdeu a fé e sempre deu apoio à mulher. Para ela, o filho sofreu consequências psicológicas no desenvolvimento por conta da morte do pai.
Arthur, que tinha 1 ano e 8 meses, teve ainda um exame genético prejudicado pelo crime pois dependia da coleta de Anderson. O exame fazia parte da investigação do diagnóstico do menino.
“Eu nunca tinha feito nada sem o Anderson, sempre tive ele ao meu lado. Eu tinha 27 anos e não consegui processar tudo. Eram várias coisas para equilibrar, não sabia se voltava a estudar, queria fazer algo pra mim. Eu lembro de uma frase que meu pai me disse: ‘tudo que eu fizesse a partir dali seria a 1ª vez sem o Anderson’”, relembra ela.
“Eu quis fazer tudo rápido, achei que ia doer rápido e ia passar. Não vai passar nunca. Sempre vai ter alguma coisa que é a 1ª vez sem ele, a primeira vez que o Arthur andou ou falou mamãe, a primeira vez que ele foi para uma escola nova ou teve um coleguinha. A primeira vez de tudo. Sempre vai ter”, desabafa em meio a lágrimas.
Ela lembrou também da cirurgia que o filho precisou fazer apenas 6 meses após o assassinato.
“Pior momento que eu vivi com meu filho. Os médicos chegaram a falar que ele não aguentaria. Foi a única vez que eu achei que ele não aguentaria. Cheguei a achar que, sem o Anderson, eu também ficaria sem o Arthur e que a minha família tinha acabado”, destaca.
“Eu espero que as pessoas que me tiraram o Anderson, que tiraram o pai do Arthur, que elas paguem pelo que elas fizeram”, completa ela.
Ágatha depôs logo após a também vereadora Mônica Benício (Psol), que disse que Marielle não tinha relatado medo de um atentado. Muito emocionada, a parlamentar afirmou ainda que uma dessas pautas era a questão fundiária — relacionada a ocupação do solo urbano e moradia — e que isso pode ter sido uma das causa da morte da companheira.
Ela foi a terceira a prestar depoimento como testemunha de acusação no júri dos ex-policiais militares Ronnie Lessa e Élcio Queiroz.
“Com toda certeza ela tinha a preocupação da defesa da cidade” diz Mônica Benício
“Com toda certeza ela tinha a preocupação da defesa da cidade. Como era uma pauta que me interessava, eu sempre acompanhei de perto. Ela tinha uma arquiteta urbanista que estava no mandato dela para discutir a cidade de maneira interseccional. A gente pensa a cidade de muitas frentes. E como a Marielle defendia a questão da moradia de forma digna, da favela e periferia, isso era um debate”.
Ao seu questionada sobre quem era Marielle, Mônica chorou e foi assistida por uma advogada de defesa.
Mônica Benício e Marielle Franco
Divulgação
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