Corte estrutural ou dívida explosiva? Bruno Musa alerta sobre o futuro fiscal do Brasil

O economista e sócio da Acqua Vero, Bruno Musa, trouxe para o último BM&C News, uma análise detalhada sobre os desafios fiscais enfrentados pelo Brasil, destacando a urgência de reformas para evitar um colapso econômico. A entrevista expôs como os gastos atrelados à arrecadação e à correção do salário mínimo aumentam o endividamento público e pressionam a economia. Musa destacou vários pontos fundamentais ao discutir o fiscal do Brasil.

“Não é apenas uma questão de cortar pequenos benefícios. Precisamos revisar estruturalmente a forma como gastamos”, alertou Musa, referindo-se à indexação dos gastos públicos e ao modelo atual que vincula despesas de saúde e educação ao aumento da arrecadação.

Armadilha da indexação dos gastos públicos

Segundo Musa, a regra que atrela os gastos públicos ao crescimento da receita intensifica o problema fiscal do Brasil. “Quando o governo arrecada mais, ele precisa gastar mais, o que aumenta o endividamento”, explicou. Com um novo recorde de arrecadação em R$ 203 bilhões no último mês, os gastos seguem em alta, colocando pressão sobre a dívida pública.

O economista criticou ainda a indexação de benefícios sociais ao salário mínimo, que passou a ser corrigido pelo INPC somado à variação do PIB. “A correção do salário mínimo acima da inflação, sem ganho de produtividade, gera um custo insustentável para as empresas, que acabam optando pela demissão e pela informalidade”, pontuou Musa.

Pressão sobre a dívida pública e alta do dólar

Bruno Musa destacou como a falta de reformas aumenta a instabilidade no mercado financeiro. Com o dólar futuro alcançando R$ 5,79, ele alerta: “Esse movimento reflete a perda de poder de compra e a necessidade de o governo elevar a taxa de juros para atrair capital.” Metade da dívida pública do Brasil já está indexada à Selic, o que amplia o custo da dívida com cada aumento na taxa de juros.

A curva de juros, atualmente em 13%, representa um desafio adicional para o governo, que precisa honrar seus compromissos financeiros enquanto a dívida cresce de forma acelerada. Musa apontou para a crescente rigidez do orçamento brasileiro, em que 95% das despesas estão comprometidas com gastos obrigatórios. “Se nada for feito, até 2034, 100% do orçamento será consumido pela manutenção da máquina pública, sem espaço para investimentos”, afirmou.

Para ele, seria necessário um corte de cerca de 2% do PIB, equivalente a R$ 200 bilhões, para equilibrar as contas públicas. No entanto, ele destacou que essa solução exigiria mudanças constitucionais, que dependem de apoio no Congresso – um cenário politicamente complexo.

O mercado reflete o risco real da economia

Musa alertou que a falta de ação pode levar a uma crise ainda maior. “O mercado financeiro não é composto por um pequeno grupo de pessoas. Ele reflete a percepção de milhões de investidores que avaliam os riscos do Brasil”, explicou. Apesar de alguns momentos de alívio, como a elevação da nota de crédito pela Moody’s, os ganhos no mercado são rapidamente revertidos diante da ausência de reformas concretas.

“A valorização do real e a alta da bolsa duraram apenas um dia. No dia seguinte, os ativos devolveram todos os ganhos, e a situação piorou”, concluiu Musa, enfatizando que sem cortes estruturais, o mercado continuará pressionado e a economia brasileira pode enfrentar dificuldades ainda maiores. A situação fiscal do Brasil continua a impactar todos os movimentos do mercado.


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