VÍDEO: Frentista é agredido na frente dos filhos pequenos por policial militar durante abordagem no interior de Roraima

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Frentista Fabricio da Silva, de 27 anos, registrou um boletim de ocorrência na delegacia de Polícia Civil de Iracema, onde o caso aconteceu. Agressão aconteceu depois que ele pediu que os policiais tivessem cuidado com as armas, pois os filhos poderiam se assustar. Policial agride homem durante abordagem no município de Iracema
Um frentista, de 27 anos, foi agredido por um sargento da Polícia Militar durante uma abordagem no município de Iracema, ao Sul de Roraima. A agressão aconteceu depois que o homem explicou que estava acompanhado dos dois filhos, sendo um deles autista, e pediu para os policiais tivessem cuidado com as armas na frente das crianças, que assistiram a agressão. O caso foi flagrado em vídeo (assista acima).
No vídeo, que passou a circular nessa terça-feira (17) nas redes sociais, é possível ver o momento em que o policial manda o jovem calar a boca e pergunta se ele é “o frentista lá do posto [de combustíveis]”. O caso aconteceu na noite do último sábado (14).
O sargento aumenta o tom de voz, questiona se o jovem irá ensina-lo a trabalhar e, mais duas vezes, manda o frentista calar a boca. Na sequência, enquanto o jovem mexe no celular, o PM dá um tapa no ombro dele e afirma que ele “é muito folgado”. Outros três militares apenas assistem a situação.
Durante o vídeo, é possível ouvir o momento em que o frentista diz que vai denunciar o sargento para a Polícia Civil. Em meio a palavrões, o PM afirma que ele deve ir denunciá-lo. Depois, o jovem é empurrado até o próprio carro.
“Quem que vai na Civil? Vai lá, entra no teu carro e vai lá, vai. Entra no teu carro e vai lá, entra no teu carro caralh* e vai lá, porr*. Vai, vai lá (sic)”, diz o sargento.
Ainda no sábado, o frentista registrou um Boletim de Ocorrência sobre o caso na delegacia de Polícia Civil de Iracema e fez um exame de corpo de delito. A reportagem procurou a corporação para saber se o caso é investigado e aguarda o retorno.
Jovem é agredido por sargento da PM em Iracema, ao Sul de Roraima.
Reprodução/Redes sociais
Ao g1, o frentista Fabricio da Silva contou que os policiais costumam abastecer a viatura no posto de combustíveis em que ele trabalha e que já havia passado por uma situação com o mesmo sargento, há cerca de duas semanas.
De acordo com o frentista, à época, o sargento solicitou o abastecimento da viatura e, enquanto Fabrício fazia isso, o PM foi até a motocicleta dele, ligou o veículo e questionou de quem era. O frentista afirmou ser o dono e, na ocasião, o sargento militar disse que iria prender o veículo.
“Ele disse que iria aprender e me botar uma multa de R$ 500. Eu falei que ele não poderia multar minha moto e nem levá-la presa, mas ele disse que levava porque era a autoridade. Aí eu falei: ‘pois o senhor especifique nessa multa o porque está prendendo ela, qual a infração dela. Porque ela está parada aqui no meu local de serviço e para o senhor fazer qualquer coisa com essa moto, ela tem que estar rodando’. O documento da minha moto está em dias e ela só não estava no meu nome porque estava em processo de transferência, eu sou habilitado. Com isso, ele não teve mais argumento e foi embora e vida que seguiu, eu não vi mais ele”, relembrou Fabrício da Silva.
Já no sábado (14), Fabrício seguia em direção ao local de trabalho com os filhos, uma menina, de 9 anos, e um menino autista, de 4 anos, onde iria pegar água de um poço artesiano. Durante o trajeto, o veículo foi abordado pela PM.
Na ocasião, os policiais pediram que o frentista saísse do carro e colocasse as mãos na cabeça. O frentista seguiu as ordens e, durante a abordagem, avisou que estava acompanhado dos filhos e que um deles era autista.
Com isso, um dos policiais ordenou que ele ficasse calado e o chamou de vagabundo, segundo o relato. Em seguida, com a arma em uma das mãos, o sargento foi em direção ao carro e Fabrício pediu que ele tivesse cuidado.
“Eu falei de novo para ele: ‘cuidado, meu filho está dentro do carro, ele é autista. Ele não gosta de ver arma e vai entrar em pânico dentro do carro’. E aí foi a hora que ele virou pra mim e gritou: ‘tu está querendo me ensinar a trabalhar, pô’ e ficou me xingando”, disse o frentista.
“Os outros policiais já tinham visto meus filhos gritando dentro do carro, em pânico já. Eles [os filhos] viram tudo, meus filhos viram tudo”, afirmou ele.
Após as agressões, o frentista seguiu para a delegacia. Durante o trajeto, ele foi seguido pelos policiais. Quando o jovem chegou a unidade policial, a viatura mudou de percurso.
Fabrício da Silva explicou que está triste com a situação, pois acredita que “o dever da polícia é proteger o cidadão”. A maior preocupação dele era com os filhos, que perderam a mãe há cerca de três meses.
“Eu estou muito triste, muito triste mesmo. Eu fico ainda mais triste pelos meus meninos, eles perderam a mãe deles não tem nem três meses, ela infartou na frente deles, e aí acontece uma situação dessa comigo também na frente deles. É a pior coisa, eu me sinto muito mal com isso”, disse Fabrício.
Ele informou que pretende denunciar o caso à Corregedoria da Polícia Militar e ao Ministério Público de Roraima (MPRR).
“Eu vou levar isso daí adiante, porque o que eu passei com meus filhos eu não quero que nenhum pai passe. Eu não estava armado, não reagi. Eu não iria fazer nada com eles por conta dos meus filhos, eu nem teria motivos” disse.
Em nota enviada à Rede Amazônica na noite dessa terça-feira (17), a Polícia Militar disse que “vai apurar, com legalidade, rapidez e transparência, os fatos relativos aos registros”. Caso o excesso da atuação dos policiais seja comprovado, eles serão responsabilizados.
“É importante destacar que a PMRR não difunde, orienta e tampouco adota procedimentos que ensejam em abusos ou excessos nos protocolos de atuação. E ressalta que repudia todo e qualquer ato de violência, assim como condutas ilícitas que transgridam os preceitos da ordem, da disciplina e da moral características da profissão de policial militar”, disse a corporação.
O caso mobilizou o prefeito de Iracema, Jairo Ribeiro (MDB), que afirmou não compactuar com as agressões. Ele informou ter entrado em contato com o comandante da PM em Caracaraí, com quem deve ter uma audiência, e disse que irá falar com o governador de Roraima, Antonio Denarium (PP).
“É muito triste ver uma corporação que é para proteger e servir a comunidade do nosso município, abordar um cidadão que todo mundo conhece em Iracema, do bem como é o Fabrício, um pai exemplar, ser tratado dessa forma. Eu não compactuo com isso, a gente vai resolver esse problema”, disse Jairo.
Este foi o segundo caso de agressão cometida por policiais militares em Roraima em menos de um mês. Em setembro, um policial do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) deu um soco no rosto de um homem e ele caiu desacordado no chão durante uma abordagem em Boa Vista.
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