Homem apontado como ‘maníaco’ durante 18 anos pelo estupro e assassinato de 5 mulheres é absolvido em MG: ‘Esperança e fé’


Eurípedes Martins, foi chamado de Maníaco de Araguari e era o único suspeito de matar 5 mulheres na cidade, entre 2004 e 2006. No entanto, 18 anos depois, ele foi absolvido dos crimes por falta de provas. Eurípedes Martins, Euripão, Maniaco de Araguari
TV Integração/Reprodução
Apontado como o “Maníaco de Araguari” após uma série de assassinatos na cidade do Triângulo Mineiro, Eurípedes Martins, o Oripão, de 58 anos, foi absolvido dos cinco crimes dos quais era acusado há quase duas décadas.
A última absolvição foi definida através de júri popular realizado em Uberlândia, em julho de 2024, cinco anos após o primeiro julgamento.
Dezoito anos após estampar as páginas policiais do Triângulo Mineiro, Eurípedes vive em uma casa de apoio e sobrevive com a ajuda da comunidade após passar por cirurgia e outros tratamentos de um câncer que teve na cabeça.
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“Esperança, fé e alegria”
Eurípedes, sente que um peso foi tirado das costas após tantos anos sendo apontado como o criminoso. Em entrevista à TV Integração, ele afirmou que, de agora em diante, espera esquecer os anos como suspeito.
“Esperança, fé e alegria. Vida nova, nova história e novo caminho”, afirmou.
Após a última sessão, que o absolveu dos 3 últimos casos, Eurípedes demonstrou gratidão pelo resultado.
“Agradeço muito a Deus por trazer a verdade e a minha inocência, e aos advogados por nunca terem me abandonado durante esse longo sofrimento”, disse.
Também à TV Integração, o advogado de Oripão, que cuida do caso desde o início, explicou que não haviam ligações entre as vítimas e o cliente, que alegou nunca tê-las conhecido.
“Nós não sabemos porque ligaram o Eurípedes a esses casos, mas a gente sabe muito bem que a sociedade precisava de uma resposta. Acho que acabaram chegando nele, uma pessoa simples e humilde, porque alguém disse na cidade que a pessoa teria algumas características que poderiam parecer com as dele”, explicou.
“Não existem provas nos autos que levassem realmente à condenação do Eurípedes, porque na verdade não foi ele que cometeu nenhum desses delitos”.
Eurípedes Martins após ser absolvido dos crimes em julho de 2024.
Divulgação
As absolvições
Eurípedes foi acusado do assassinato de cinco mulheres em 2006. Ele foi preso na época, mas solto em 2007 e, desde então, aguardava o julgamento em liberdade.
Os julgamentos começaram apenas em 2019, inicialmente em Araguari, quando Oripão foi absolvido do homicídio da adolescente Lara Rodrigues Caetano, de 13 anos, e morta em agosto de 2004. Pelo mesmo número de votos, o carroceiro foi absolvido da acusação de ocultação de cadáver.
À época, o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) apresentou a confissão feita por ele ao ser preso suspeito do crime em 2006. Segundo a defesa, contudo, ele foi coagido na época da prisão a confessar.
A defesa alegou, ainda, que por conta de problemas físicos, Eurípedes não teria condições de cometer o crime.
Após o julgamento, o Ministério Público de Minas Gerais protocolou recurso, porém, em 2022, a absolvição de Eurípedes foi mantida pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais.
Os julgamentos dos outros crimes foram transferidos para a cidade vizinha, Uberlândia, por meio de um processo de desaforamento, onde o julgamento de um crime passa para outra comarca, em vez de ser realizado na comarca de origem. A justificativa para a medida foi de garantia da idoneidade do julgamento, a segurança do acusado e o interesse público.
“Os julgamentos vieram parar em Uberlândia após um pedido do Ministério Público de Araguari. Tinha um entendimento na comunidade local de que o senhor Eurípedes não era o autor daqueles crimes”, contou promotor Genney Handro à TV Integração.
Handro foi um dos quatros promotores a atuarem no caso em Uberlândia em 2024. No primeiro caso analisado, o de Amanda Aparecida de Sousa, também de 13 anos, os promotores pediram a absolvição por falta de provas. Nos outros três, relativos às mortes de Rejane Maria Fonseca, Michele Monteiro Silva e Edma Maria Guedes Batista, ocorreu situação semelhante: a absolvição.
Falta de provas
Para o promotor, o processo de investigação, especialmente na fase policial, teve falhas processuais.
“Foi extremamente atabalhoada. A prova unânime, desde o início, seria a confissão do senhor Eurípedes e em uma reconstituição que foi feita com base nessa confissão. Confissão esta que foi colhida também em um dia de domingo e de maneira bastante suspeita. Ela estava totalmente destoante do próprio laudo pericial da vítima”, disse.
“Por isso o entendimento pelos promotores de Uberlândia de que há uma insuficiência de provas para a condenação.”
Segundo a juíza Danielle Louise Rutkowski Dias, a denúncia do caso foi considerada improcedente. Ela também concedeu o direito ao réu de aguardar quaisquer recursos em liberdade.
“Submetido a julgamento pelo Tribunal do Júri nesta data, o Conselho de Sentença afirmou, por maioria, a materialidade de todos os delitos, e em seguida acatou a tese sustentada em plenário de ausência de autoria”, disse.
À TV Integração, o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) informou que até o momento não há informações relacionados a novas investigações.
‘Maníaco de Araguari’ vai a júri popular por morte de adolescente em 2004
Caso ‘Maníaco de Araguari: Justiça mantém absolvição de Eurípedes Martins
Eurípedes Martins durante um dos julgamentos
Reprodução/TV Integração
As mortes
Segundo a investigação da Polícia Civil, entre 2004 e 2006 vários restos mortais como crânios e arcadas dentárias com sinais de violência foram encontrados em várias partes da cidade. À época, aulas noturnas foram paralisadas como medida de proteção.
Eurípedes foi apontado como suspeito de cometer cinco assassinatos, sendo que as vítimas tinham entre 13 e 41 anos.
Lara Rodrigues Caetano, 13 anos;
Amanda Aparecida De Souza, 13 anos;
Michele Monteiro Da Silva, 24 anos;
Rejane Maria Fonseca, 27 anos;
Edma Maria Guedes Batista, 41 anos.
Ele foi preso após a Polícia Civil identificar as características físicas dele a partir de um retrato falado feito por uma pessoa que teria fugido após ser abordada pelo então suspeito. Na casa dele foi encontrada uma calcinha, que foi identificada pela filha de uma desaparecida.
Após ser preso, Eurípedes chegou a confessar os crimes, mas passou a negá-los afirmando que teria sido influenciado para assumir a responsabilidade pelos assassinatos.
De acordo com o delegado Wagner Pinto de Souza, da Divisão de Crimes Contra a Vida, que conduzia o caso à época, o responsável pelas mortes agia sempre da mesma maneira. Ele vigiava as vítimas enquanto andava de bicicleta pela cidade e aguardava a oportunidade de convidá-las para um passeio.
Depois de levar as vítimas para matagais na área rural, o criminoso as espancava utilizando pedras e pedaços de madeira e as estuprava após a morte.
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