Quem é a brasileira que mudou postos de controle viário de Angola ao denunciar corrupção de policiais


Letícia Pavim é formada em relações internacionais, cofundadora de uma empresa de desenvolvimento de jovens para o mercado e criadora de conteúdo. Aos 24 anos, ela concilia o trabalho na internet com empresa. Letícia Pavim é empresária e criadora de conteúdo
Arquivo Pessoal
Após denunciar o golpe do policial corrupto em Angola e ser responsável por mudanças nos postos de controle viário do país, a brasileira Letícia Pavim viralizou nas redes sociais.
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A criadora de conteúdo de 24 anos cresceu em Ribeirão Preto (SP) e se formou em Relações Internacionais pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Ao g1, ela contou que a viagem para o continente africano tinha o objetivo de divulgar o turismo local e influenciar mulheres que viajam sozinhas.
Mensagem que ela compartilha para mais de 77 mil pessoas no TikTok e quase 30 mil no Instagram.
Com 24 países na bagagem, línguas inglesa e espanhola fluente e mandarim com nível intermediário, o principal objetivo é mostrar que viajar sozinha é uma ótima opção.
“Eu quero compartilhar as vivências, eu quero quebrar esse estereótipo, eu quero impulsionar mais mulheres a viajarem sozinhas. A maioria das pessoas tem medo, falta coragem, claro que tem a questão financeira, mas tem muito essa questão da coragem”, diz.
Letícia Pavim durante sua viagem para o continente africano
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Sonho antigo de conhecer o mundo
Letícia lembra que desde pequena, quando perguntavam seu sonho, a resposta era sempre a mesma: viajar o mundo. Influenciada pela mãe, que tinha uma agência de turismo, até os 18 anos ela foi com a família para Argentina, Chile e Disney.
As viagens só fizeram aumentar o desejo da jovem de realizar um intercâmbio, mas apesar de uma vida confortável, as condições financeiras foram um empecilho na época. Aos 17 anos, Letícia entrou na faculdade e usou sua paixão pelo mundo para escolher o curso.
“Eu vou fazer Relações Internacionais, vou fazer pós em Comércio Exterior e depois trabalhar em uma multinacional, para mim era esse o plano, mas a vida aconteceu nesse caminho”.
Na época, Letícia conta que o pai foi contra sua decisão da escolha do curso, já que ele era engenheiro, assim como o irmão da jovem e a outra irmã arquiteta. Apesar da opinião do pai, ela insistiu em fazer Relações Internacionais.
Foi quando ela se mudou para São Paulo, consolidou sua independência e decidiu participar de todas as organizações da Universidade. Em uma delas ela entrou para a área de marketing e desenvolveu habilidades com programas de imagem.
“Eu comecei a ser freelancer de artes digitais, era aniversário de alguém, eu fazia o flyer, fazia banner, redes sociais da mãe de um amiga, costureira do meu bairro. Eu falei ‘eu quero fazer o intercâmbio então vou fazer acontecer’ e consegui pagar metade da minha viagem para a Espanha”.
Letícia Pavim no seu primeiro intercâmbio na Espanha
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Em 2018, ela conquistou seu primeiro intercâmbio e passou um mês na Espanha para aprender o idioma.
Quando voltou, a partir de um presente que recebeu de um a amiga na viagem, ela desenvolveu seu próprio negócio em uma matéria da faculdade que foi um sucesso e conseguiu financiar todos os custos do seu próximo destino.
Dessa vez o Egito foi o local escolhido. Letícia foi trabalhar em uma start-up e lembra do choque cultural que sentiu naquele momento, mas nada abalava a vontade de conhecer a cultura daquele país.
“Todo mundo me passou mesmo, falando que ia morrer, falando as piores coisas do mundo e aí obviamente eu fiquei tensa, mas eu queria muito ir. Até aquele momento foi a experiência mais incrível da minha vida, foi extraordinário”.
Letícia Pavim viajou para o Egito
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Reviravolta
A viagem para o Egito rendeu bons amigos e ajudou Letícia a fortalecer a imagem de que uma jovem, mulher, pode visitar os mais diferentes lugares. No entanto, ela ainda não compartilhava esses conteúdo nas suas redes sociais.
Quando voltou para o Brasil ela decidiu trabalhar em uma multinacional enquanto ampliava o seu próprio negócio que começou na faculdade. A vida estava caminhando bem, quando no final de 2020 ela foi para Recife (PE) visitar sua família e seu sobrinho que tinha nascido.
“Todo mundo pegou covid, até meu sobrinho de seis meses. No dia 31 de dezembro meu pai foi internado e no dia 7 de fevereiro ele faleceu. A minha toda desmoronou, por completo, meu pai era realmente minha base, ele cuidava, me protegia, era meu porto seguro”.
Após a perde do pai, já em Ribeirão Preto, a mãe da Letícia entrou em depressão e aquela se tornou sua prioridade. Ainda em 2021, a jovem perdeu seu cachorro e decidiu que era o momento da mãe voltar para Recife onde estava toda a família.
Após tantas perdas, ela decidiu se organizar financeiramente, sair da multinacional e encerrar sua empresa criada na universidade. Naquele momento, focou em abrir um negócio que estava nos papéis com um amigo que fez durante a viagem pro Egito, voltar a viajar e compartilhar seu conteúdo.
Letícia Pavim durante sua viagem pela Índia
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O destino dessa vez foi a Índia, um sonho antigo que ganhou mais sentido após ficar amiga de indianos no Egito. Letícia acionou seus contatos, arrumou as malas e partiu para a nova aventura.
“Eu fiquei três meses lá, organizei tudo, fui para 20 cidades sozinha, escalei o Himalaia por seis dias, fiz um retiro de dez dias no topo das montanhas, fiquei em hostel de empreendedores, foi uma loucura. Eu já fui com a cabeça de criar conteúdo, eu queria compartilhar sobre viajar sozinha.”
Depois da Índia, Letícia foi para o Sri Lanka e viajou também pela Europa. Foi a partir da Índia que Letícia começou a publicar em suas redes sociais e começou a ver seu público crescer e se identificar com suas experiências.
Comunidade
Após entender que criar conteúdo fazia sentido na sua vida, ela decidiu conciliar a vida de empreendedora com a de criadora de conteúdo. Atualmente Letícia é cofundadora de uma empresa de desenvolvimento de jovens para o mercado de trabalho e produz mídia sobre viagem nas redes sociais.
Uma das inúmeras amizades que Letícia fez durante as viagens contou que era possível viajar trabalhando para o Ministério de Turismo dos países. Ela enxergou nisso um grande negócio e conseguiu a primeira parceria em março de 2023, com o governo de El Salvador.
“Eu fiz uma viagem de uma semana, 100% patrocinada, passagem, comida, hotel, tudo do mais alto nível. E aí eu compartilho minhas vivências e consigo ao mesmo tempo trabalhar na minha empresa”.
A brasileira Letícia Pavim visitou a Etiópia
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Após essa primeira experiência, ela decidiu que era hora de planejar sua viagem para o continente africano com a parceria de alguns ministério de turismo. A jovem foi para Etiópia, Malawi, Moçambique, Angola e Tanzânia.
Para Letícia, nada vale mais do que ver os comentários em suas redes sociais das pessoas que ela conseguiu impactar com os seus conteúdos.
“Uma menina que foi para o Sri Lanka me mandou ‘nossa, eu ví seus vídeos, me ajudou muito’. Recentemente uma menina foi para Índia, ela estava com muito medo e eu dei todos os direcionamentos, até na escolha de roupas. Pra mim é muito feliz ver isso, é um retorno muito bom”.
Golpe em Angola
Durante sua viagem pelo continente africano, Letícia foi para Angola e viu de perto o poder dos seus conteúdos nas redes sociais. No seu primeiro dia no país, ela passou por pelo menos sete postos polciais, sendo que em todos foi solicitado algum tipo de pagamento para o motorista.
Indignada com a situação, a jovem decidiu compartilhar um vídeo nas suas redes sociais relatando o que tinha presenciado. O vídeo viralizou e repercutiu em diversos sites.
Brasileira sofre golpe do policial corrupto em Angola e causa mudanças no país
Com a exposição, Letícia recebeu diversos avisos de angolanos orientando ela a apagar o vídeo pois ela poderia receber algum tipo de repressão policial. A jovem acionou a embaixada brasileira e recebeu suporte de Rafael Vidal, embaixador do Brasil na Angola.
Após o conteúdo viralizar, o governo angolano suspendeu os postos de controle por 24 horas e, depois, diminuiu a quantidade deles nas estradas permanentemente. Nos sites de notícias locais, a decisão foi associada ao vídeo.
*Sob supervisão de Helio Carvalho
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