Patrimônio imaterial de Palmeira, pão no bafo resgata heranças culturais de imigrantes

Iguaria fez parte da infância de chef que resgatou a receita e ajudou o prato a ganhar destaque no Paraná. Agora, objetivo é conseguir o reconhecimento nacional. Prato típico de Palmeira conta a história de imigrantes russos-alemães
Divulgação
Costelinha suína fresca e defumada, repolho ou chucrute e pãozinho fermentado que cozinha no vapor da carne. Essa é a combinação necessária para o pão no pafo, receita centenária que virou símbolo de Palmeira, nos Campos Gerais do Paraná.
Siga o canal do g1 PR no WhatsApp
Siga o canal do g1 PR no Telegram
Uma das principais responsáveis por tornar o prato o primeiro patrimônio cultural imaterial do município foi a chef Rosane Radecki, que administra junto com a mãe administra um restaurante na cidade.
Ela conta que em 2015 foi convidada a participar do projeto Gastronomia Paraná, iniciativa do governo estadual que busca fortalecer e divulgar o trabalho de chefs paranaenses e a comida regional.
Ao ser desafiada a preparar um prato significativo para a cidade, ela se lembrou da receita que fez parte da sua infância e era consumida na casa de uma amiga descendente de russos-alemães. “Foi um sucesso”, relembra.
Na sequência vieram mais eventos nos quais a chef sempre trazia a iguaria. Determinada a exaltá-lo cada vez mais, ela manteve contato com gestores municipais para ajudar o prato a ganhar mais destaque. Deu certo: ainda em 2015 veio o reconhecimento como patrimônio imaterial de Palmeira.
Leia também:
Riqueza paranaense: ‘É como se comparássemos um Fusca a uma Ferrari’, brinca pecuarista sobre superioridade de raça de gado desenvolvida no estado
Delícia: Produtores de Carambeí querem que tortas típicas da cidade recebam certificação nacional
Aprenda receitas: Cracóvia criada na cidade com maior comunidade ucraniana do Brasil busca selo de reconhecimento
Pelas mãos da chef Rosane Radecki, o Pão no Bafo extrapolou os limites de Palmeira
Redes sociais
Receita traduz mistura étnica
O pão no bafo é um exemplo de como a alimentação ajuda a contar histórias.
“Comida não é só sabor e nutrientes, ela conta histórias e ajuda a contar quem somos e de onde viemos, e é isso que o pão no bafo faz para a gente, ele conta a história da trajetória e do deslocamento desses imigrantes”, defende o historiador Felipe Pedroso.
Conforme o especialista em cultura alimentar, os imigrantes, nesse caso, são os russos-alemães, ou alemães do Volga, que se estabeleceram em Palmeira por volta de 1878.
O historiador cita que, muito provavelmente, o prato surgiu na Alemanha, mas com o deslocamento dos alemães para a Rússia, a receita ganhou novas camadas.
“Junta-se o chucrute alemão ao pão no vapor, que se relaciona ao conhecimento dos russos com a produção de trigo, e mais a carne suína, principal fonte de proteína animal nessa região, e tem-se um prato com a identidade característica desses grupos, justamente porque carrega traços culturais das regiões pelas quais o prato passou”, detalha.
Se interessou? Leia mais da série Agro Riqueza dos Campos Gerais
Atrativo turístico
Hoje, além do Restaurante Girassol, administrado pela chef Rosane Radecki, outros oito restaurantes servem a iguaria na cidade, segundo a prefeitura.
“Já sirvo o prato há bastante tempo, e ele sai bastante todos os dias, muita gente vem de fora da cidade e do estado para experimentar, também ofereço a versão congelada para finalizar a preparação em casa”, complementa.
O historiador destaca que a chef teve um papel importantíssimo na recuperação da receita.
“Foi fundamental, porque acabou difundindo o prato para paladares muito diferentes daquela cultura, a iguaria passou a ser consumida por outras etnias, caiu no gosto popular”, defende Felipe.
Mais do que uma valorização da ancestralidade e uma forma de recuperar as diferentes identidades étnicas de uma região, o pão no bafo também beneficia o turismo local.
“Uma maneira espetacular de trazer a história de outras pessoas para o presente é através do alimento. Isso agrega muito ao turismo, valoriza a cidade”, finaliza o historiador.
Além de Palmeira
Agora, o próximo passo é levar a iguaria centenária ainda mais adiante. A chef adianta que estão no início do trabalho para pedir o reconhecimento da Indicação Geográfica do prato pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI).
“Ainda estamos bem no começo, precisa formar uma associação para desenvolvê-lo, mas até dezembro é para o pedido de IG já estar protocolado junto aos órgãos responsáveis. Vamos poder chamar o prato de ‘pão no bafo de Palmeira’, vai dar ainda mais notoriedade à receita”, diz a chef.
Os vídeos mais assistidos do g1 PR:
Leia mais reportagens do Agro Riqueza dos Campos Gerais.

The post Patrimônio imaterial de Palmeira, pão no bafo resgata heranças culturais de imigrantes first appeared on Jornal Floripa.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.