Drag queens enfrentam o preconceito e a falta de espaços para viver da arte em Maceió


No Dia Internacional da Drag Queen, o g1 conta algumas histórias de superação de artistas que vivem da arte drag na cidade. Dia Internacional da Drag Queen, Alagoas
Arquivo Pessoal
A arte drag queen é uma expressão artística utilizada por artistas que se vestem e se apresentam como personagens do sexo oposto ou de um gênero diferente. “drag queen” é um termo inglês que siginifica “Rainha do Arrasto” que, por sua vez, tem a ver com os vestidos enormes usados pelas damas que chegavam a se arrastar no chão.
A arte drag vem se tornando uma arte plural. Antes apenas os homens gays se montavam de Drag Queen. Hoje em dia, tanto homens e mulheres heterossexuais, homens e mulheres transexuais, e travestis, ou pessoas queers, podem se montar de drag.
Essas transformações alegóricas e exuberantes, com belas roupas e maquiagens, podem ser vistas em teatros, boates, festas, casas de show, eventos culturais, com a finalidade de animar, conscientizar e entreter o público.
Mas nem tudo são flores e purpurina. Em Maceió, muitos artistas ainda enfrentam o preconceito, a família que não aceita ou a falta de espaços e de apoio para trabalhar. No Dia Internacional da Drag Queen, celebrado nesta terça-feira (16), o g1 traz algumas histórias de superação de artistas que insistem em movimentar a arte e a cultura na cidade.
O artista por trás da drag
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Bruno Borges tem 26 anos e é o artista, que há nove anos, dá vida à Skarllet Fuck’sia, drag queen conhecida nas boates e espaços culturais de Maceió por sua personalidade forte, magnética. Ele também é bailarino, cantor, peruqueiro, DJ e costureiro. No futuro, ele pensa em empreender abrindo a sua própria loja para atender o público drag.
O artista mora no bairro Petrópolis em uma casa comum, ao lado de seus pais e de seus pets, e se monta em um quarto pequeno que serve também como ateliê e camarim. No local, há diversas perucas suspensas, adereços, muito brilho, muita maquiagem, além de looks atraentes, todos feitos por ele mesmo.
Apesar da alegria que sente ao se montar, Bruno contou que nem sempre foi assim. Parou até de trabalhar por um ano devido à opressão de um ex-namorado, que não queria que ele se montasse de Skarllet.
“Quando eu voltei a me montar, eu fui recebida por ele com muitas agressões físicas, emocionais e verbais, ele me xingava e me batia. Levo sequelas até hoje”, relatou Bruno.
As agressões feitas pelo namorado deixaram sequelas em seu maxilar, além de afetar a arcada dentária, entortando alguns dentes.
Em 2022, Bruno conta que sofreu outra violência. Ele estava montado de Skarllet em um aniversário, em um bar, dançando e se divertindo com amigos. No momento que ele abaixou a cabeça, durante a sua apresentação, uma mulher que estava na festa deu um chute em seu rosto, fez vários xingamentos e saiu. “Eu endoidei, parei a música, berrei com ela. É muita falta de respeito e preconceito”.
Drag queens enfrentam falta de espaços para viver da arte em Maceió
O que a Skarllet passou não desmotivou Bruno, que continuou se apresentando em shows, festas, ballroons e em grupos de dança. Bruno foi dando seus primeiros passos como a personagem em 2015 e assinava seu personagem como Keyla Trovoada. Foio no ano seguinte, que mudou o nome para Skarllet Fucksia, depois da ideia de um amigo.
“Skarllet é um alterego muito corajoso, é muito impulsiva, quando acontece alguma coisa assim eu de Bruno costumo pensar duas vezes antes de agir, a Skarllet não, ela é muito certeira, aconteceu alguma coisa ela já vai lá e resolve. E o Bruno não, é muito diferente, eu vou pensar se vale a pena, muitas vezes eu quero ficar no meu canto, porque eu sou uma pessoa mais reservada”, explicou.
Sobre a orientação sexual, o bailarino contou que já demonstrava na infância que era gay. “Minha mãe um dia veio me dizer que sabia que eu era gay desde os meus dois anos. A aceitação por parte da família foi tranquila, mas demorou um pouco para eles se acostumarem com o meu trabalho de Drag”, disse.
Como drag, Borges já lançou uma música chamada “Balla Halls”, junto com Aretta Candelari e Gina Kynnors. O single está disponível nas plataformas digitais. Para este ano, ele deve lançar outra música com participação especial da Drag Gigis Banks.
Local onde Bruno Borges dá vida a DRag Queen Skarllet Fuck’sia
Jamerson Soares/Arquivo Pessoal
Um espetáculo alagoano
Outra Drag Queen que vem se destacando nos últimos anos em Maceió e fora da cidade é a Leviathan. Dona de uma personalidade incomum, original e excêntrica, sua presença nos palcos de festas e eventos impacta o público, tanto é que venceu o concurso da Drag Oficial da 13ª Marcha LGBT de Maceió, em maio deste ano.
A artista por trás da personagem se chama Leviathan Cavalcante, tem 24 anos, é DJ, costureira, designer, estilista e trabalha como Drag há sete anos. Suas apresentações são sempre regadas de referências dos anos 80 e 90, especialmente do cinema, acessórios inusitados, ombreiras, visuais elegantes com um tom mais punk rock e pop.
“A Leviathan é uma extensão de mim mesma, é um espaço onde coloco minhas ideias. Por exemplo, eu assisto algum filme e gosto de algo alegórico e conceitual, me atrai visualmente, e daí tento imprimir na drag. Costumo dizer que Leviathan é um megazord que está baseado na cultura pop. Às vezes traz um ar mais clássico, mas sempre olhando para o futuro”, explicou a artista.
Leviathan é filha adotiva de uma tia-avó e mora no bairro de Ponta Grossa, em Maceió, com seus pais adotivos. O pai é militar aposentado e a mãe biológica mora na Itália com mais duas filhas, irmãs mais novas de Leviathan.
Ainda segundo a artista, o nome da sua drag veio do livro “Leviathan”, de Thomas Hobbes, que traz a figura bíblica do mar como um monstro marinho que Deus criou para ser indestrutível e ser usado como prova que Deus criou coisas inquebrantáveis.
“Só que isso se prova o contrário quando um anjo com uma espada mata Leviathan. Então Hobbes traz no livro o conceito de que quando a gente nasce, a gente já tem um contrato social assinado, ou seja, já nascemos a mercê das regras do sistema, do governo, e o que resta é lidar com isso. E eu gostei do nome pela sonoridade, por ser um nome forte”, contou.
A família da artista inicialmente não aceitava o trabalho dela como drag e a sua identidade de gênero. “Tratavam meu trabalho como um hobby, mas depois perceberam que era um ganha-pão de fato a partir do momento que eu comecei a viajar para outras cidades para me apresentar.” Ela contou que já foi expulsa de casa três vezes por sua identidade e por causa da drag, mas conseguiu reverter a situação através do diálogo.
Leviathan DRag Queen, Alagoas
Arquivo Pessoal
‘Quando comecei eu precisei criar espaços para a Gigis aparecer”
Com apenas 20 anos, o DJ, produtor cultural, hitmaker, dançarino e cantor Giseldo Carlos já tem marcado sua drag Gigis Banks na noite maceioense, como também o artista que anda movimentando a arte e a cultura ballroom na cidade. No camarim da Escola Técnica de Artes (ETA-Ufal), Giseldo se maquiava para dar vida à Gigis enquanto conversava sobre sua trajetória pessoal e artística. Na mesma noite estava se produzindo para tocar em mais uma edição de ballroom.
Gigis Banks surgiu através de um projeto realizado na ETA, em que ele foi produtor. O evento consistia em uma semana acadêmica do curso de dança, dois dias de apresentação.
“Foi no segundo dia que decidir por para fora essa vontade de performar como Gigis. Ali ela nasceu. E é uma data marcante para mim porque também se comemorava o Dia Internacional da Dança”, contou Giseldo. Ele também disse que o que o motivou a seguir carreira drag foi a vontade de querer ser artista, de estar sempre produzindo, estar nos holofotes.
O nome da sua drag é resultado da junção de um apelido que davam para ele na escola “Gigis” e do sobrenome da personagem do jogo The Sims “Giovana Banks”. O “Banks” também é relacionado a glamour, dólar, dinheiro. “Gigis é uma válvula de espace para fugir da realidade, porque não é fácil sobreviver de arte em Maceió e no Nordeste no geral”, comentou.
Ele relatou que as maiores dificuldades durante o processo da construção da drag foi a não aceitação da mãe e a falta de espaços para se apresentar.
“Eu sofria bullying na escola, a repulsa da minha mãe sobre a minha sexualidade, minha família pedia até para eu orar para que Deus mudasse minha cabeça. Tinha vez que eu escondia as perucas, as roupas e os sapatos debaixo da cama, era tudo escondido.”
Tendo como referências Lady Gaga, Beyoncé, Wanessa Woolf e a Blogueirinha, Gigis acredita que o Dia da Drag Queen é importante porque exitem outras gigis por aí lutando para resistir, só querendo fazer arte. “Enquanto estamos aqui tem várias outras pessoas lgbts que estão sendo caladas pela família e que não têm nenhuma expectativa e perspectiva de vida.”
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