Sánchez luta para frear a guinada conservadora na Espanha

Partido Popular lidera pesquisas, mas precisaria se aliar ao Vox, de extrema direita, para formar governo. Posteres de candidatos à presidência da Espanha
Jon Nazca/Reuters
A Espanha se vê diante do risco de ter um partido de extrema direita como parceiro no governo, pela primeira vez desde a redemocratização do país, há quase meio século. Tudo indica que para obter a maioria no Parlamento, o Partido Popular, que está à frente dos socialistas nas pesquisas de opinião sobre as eleições deste domingo, se aliaria naturalmente ao Vox — legenda nacionalista, eurocética e contrária à imigração, ao combate às mudanças climáticas e à igualdade de gênero.
É na ameaça de concretização desta dobradinha partidária que o atual premiê socialista, Pedro Sánchez, concentrou a sua campanha. Diante da derrota nas eleições regionais, em maio passado, ele se arriscou a antecipar um novo pleito, para unificar a esquerda e tentar se manter, após quatro anos, no poder.
O jogo ainda não está perdido para Sánchez, cinco pontos atrás do líder do PP, Alberto Núñez Feijóo. Os dois dependem de aliança partidária para formar governo. O Sumar — coligação de 15 partidos mais à esquerda do PSOE — ganhou protagonismo na reta final e disputa com o Vox o terceiro lugar.
É comandado pela popular vice-presidente espanhola e atual ministra do Trabalho, Yolanda Díaz, com quem Sánchez conta para alcançar o número mágico: as 176 cadeiras que asseguram a maioria parlamentar. No debate final da campanha, ela deixou clara a aproximação com o atual premiê e a disposição para um acordo, mas à sua maneira, insistindo na redução da jornada de trabalho e em melhorias nos salários.
O crescimento do Sumar nas pesquisas é a esperança do PSOE para manter-se no governo e compensar a desvantagem em relação ao PP. Tanto que Sánchez deixou Yolanda Díaz assumir o protagonismo no debate, e ela soube retribuir: “Pedimos o voto em Sumar porque é a força decisiva para termos um governo de coalizão progressista. Vou governar com Pedro Sánchez” , atestou. Ao que o cauteloso premiê recrutou: “Sim, mas temos que manter os pés no chão.”
O objetivo de ambos é minar a presença do Vox nas decisões políticas. A ascensão do partido ao Executivo ameaça revogar, como antecipou seu líder, Santiago Abascal, uma série de conquistas do governo socialista, que apoiou o combate à violência de gênero, com leis contra o estupro e que flexibilizaram também as restrições ao aborto e à mudança de sexo.
À frente nas pesquisas, Feijóo pulou fora do último debate. Sua ausência foi encarada como instinto de preservação e receio de ter que aparecer, na reta final, junto a Abascal. Faz sentido. Uma pesquisa realizada há dez dias pelo Instituto Ipsos e divulgada pelo jornal “La Vanguardia” revelou que mais de 60% dos entrevistados se preocupam com a possibilidade de o Vox dividir o poder com o PP e gerar o governo mais conservador desde a morte do ditador Francisco Franco.
A campanha demonstrou a importância dos extremos. Tanto Sanchez quanto Feijóo não se cacifam sozinhos. Ambos estão dependentes de Abascal e Diáz para governar.
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