Pioneiro, laboratório de cannabis medicinal no litoral de SP já fez centenas de atendimentos; entenda como funciona

Entre abril de 2023 e fevereiro deste ano, já foram produzidos 287 óleos com substâncias da cannabis. Atendimento é direcionado a pacientes com dores crônicas, Alzheimer e outras doenças. Núcleo planta cannabis medicinal em São Vicente (SP)
Alexsander Ferraz/Jornal A Tribuna
Pioneiro na Baixada Santista, o laboratório do Núcleo de Atenção à Saúde e Cuidados Integrativos (Nasci) produz óleo à base de cannabis (maconha) medicinal em São Vicente, no litoral de São Paulo. De abril de 2023 até fevereiro deste ano, as equipes realizaram 595 atendimentos gratuitos para garantir mais qualidade de vida a pacientes com dores crônicas, Alzheimer e outras doenças.
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O Nasci pertence ao Instituto Articulação de Tecnologias Sociais e Ações Formativas (Adesaf). Com investimento próprio, estadual e federal, o local produz sete óleos medicinais à base de substâncias presentes na cannabis. Cinco são para pessoas, de 4 a 89 anos, mas há também dois direcionados exclusivamente a pets. O atendimento ainda inclui retornos médicos e oficinas.
Leonardo Ribeiro, farmacêutico responsável pelo laboratório do Nasci, considera a iniciativa muito importante para a saúde brasileira. A extração é feita a partir das mudas, que levam até seis meses para amadurecerem. Depois, o óleo é diluído e deixado na concentração correta.
“Todas as linhas vão ter tanto o THC [tetra-hidrocarbinol] quanto o CBD [canabidiol], que são os principais canabinoides usados hoje em dia clinicamente. A gente tem uma linha com o teor mais alto de CBD e a outra linha com o THC como canabinoide predominante”, explicou.
Quem pode tomar?
De acordo com o médico de família e comunidade Rafael Ferreira, parceiro do Nasci, atualmente há boas evidências do uso do cannabis medicinal para quadros neurodegenerativos como amiotrofia muscular espinhal – que leva à degeneração dos neurônios motores –, além de Parkinson, Alzheimer, dor crônica e depressão.
“Hoje, quanto a indicações médicas no Brasil, é importante ressaltar que os fitocanabinoides não são vistos como terapia de escolha para nenhum quadro, tendo então, o uso, tido como compassivo. Geralmente são pacientes que não responderam anteriormente a mais de um tipo de tratamento”, explicou o médico.
Segundo ele, há contraindicação para pacientes como gestantes e lactantes, além de pessoas com histórico ruim quanto ao uso do THC. Também há contraindicação referente a alguns tipos de medicamentos, como alguns anticonvulsivantes e antidepressivos.
Óleo é produzido a partir de substâncias presentes na maconha
Alexsander Ferraz/Jornal A Tribuna
Combate ao preconceito
O projeto nasceu com a proposta de democratizar o acesso a produtos a base de cannabis medicinal. No Nasci, há uma equipe multidisciplinar composta por um psiquiatra, biólogos, assistente social, farmacêutico e, é claro, quem colhe as plantas.
Ao g1, a diretora-presidente do Instituto Adesaf, Fernanda Gouveia, explicou que a produção do remédio atende a uma demanda espontânea. Segundo ela, um óleo rende até cinco vezes mais que um produto industrial similar.
Apesar de todos os benefícios, Fernada ressalta que o preconceito é histórico. Ela conta que foi necessário entrar na Justiça para garantir o funcionamento do laboratório. “Existe uma lenda que é falar que não existe pesquisa, o que não é verdade, até porque o Brasil é um dos países que mais têm pesquisa científica em relação aos benefícios da maconha”, disse Fernanda.
Resultados
As equipes produziram e encaminharam 287 óleos de maconha, sendo que 80% foram doados a pessoas em vulnerabilidade social e 20% foram custeados, parcialmente, por associados pacientes do Instituto.
O Nasci fica na Rua Guarany, 70, térreo, no Parque São Vicente. O funcionamento é de segunda a sexta-feira, nos dias úteis, das 9h às 12h e das 14h às 16h. Não é necessário fazer atendimento prévio. Para dúvidas e outras informações, o contato é (13) 99696-5550.
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