RJ quase dobra número de casos de violência contra mulher em 4 anos; estupro cresceu 134%

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Os dados fazem parte do relatório ‘Elas Vivem: liberdade de ser e viver’, da Rede de Observatórios da Segurança. O trabalho monitorou os números sobre violência contra mulher entre 2020 e 2023, em 9 estados brasileiros. O RJ tem o maior número de mulheres mortas por arma de fogo. Violência contra a mulher, abuso, assédio sexual
Marcelo Camargo/Agência Brasil
Ameaças, agressões, torturas, ofensas, assédio, feminicídio. A cada 24 horas, ao menos oito mulheres foram vítimas de algum crime em 2023. No Rio de Janeiro, o total de casos de violência contra mulheres praticamente dobrou em 4 anos. Os casos de estupro cresceram 134% nesse período.
Os dados assustadores fazem parte do relatório ‘Elas Vivem: liberdade de ser e viver’, da Rede de Observatórios da Segurança, uma iniciativa do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC), que monitora os números sobre violência contra mulher entre 2020 e 2023, em 9 estados brasileiros.
A divulgação desses números nesta quinta-feira (7), véspera do Dia Internacional da Mulher, reforça a necessidade de conscientização contínua sobre os desafios e as injustiças que as mulheres ainda enfrentam no país.
Alta de 95% nos casos de violência
De acordo com o relatório, o estado do Rio de Janeiro registrou um aumento superior a 95% no total de casos de violência contra mulher, entre os anos de 2020 e 2023. Os registros passaram de 318 vítimas em 2020, para 621 casos de violência contra mulher, em 2023.

Segundo a pesquisadora Bruna Sotero, responsável pelo levantamento da Rede de Observatórios no Rio de Janeiro, os agressores são quase sempre pessoas conhecidas das vítimas.
“Após três edições do relatório ‘Elas Vivem’, o Rio de Janeiro permanece registrando consecutivo aumento nos números de violência contra mulheres. O perfil dos agressores, em sua maioria, já é conhecido: companheiros e ex-companheiros, namorados e ex-namorados ou pessoas do seio familiar das vítimas”, comentou Bruna no relatório.
Entre os dados apresentados, um chama atenção. O Rio de Janeiro é o estado que registrou o maior número de mulheres mortas por arma de fogo (30), ao contrário dos demais estados, que tiveram mais crimes praticados com armas brancas.
O Rio também é o estado com maior registro de feminicídios praticados por agentes de segurança do Estado (4).
“Ou seja, o contexto que defende a utilização de armas de fogo não está apenas matando com maior efetividade e rapidez nossas mulheres, como também é marcado pela participação de policiais na prática dessas violências”, acrescentou a pesquisadora.

Em todo o ano de 2023, o estado do Rio de Janeiro contabilizou 256 casos de tentativa de feminicídio, segundo o levantamento.
Já o próprio crime de feminicídio, ou seja, quando mulheres são assassinadas devido ao seu gênero, aconteceu 99 vezes no ano passado. Normalmente, esses crimes envolvem questões como violência doméstica, misoginia, controle e poder masculino sobre o corpo e a vida das mulheres.
Um em cada seis vítimas de violência no Rio de Janeiro tinha idade entre 18 e 29 anos.
Violência contra a mulher
G1
O relatório mostrou ainda que a capital fluminense concentrou os maiores números de crimes do RJ, em comparação com outras regiões do estado. Foram 206 vítimas de violência e 35 feminicídios, só em 2023.
Crime de estupro cresce 134%
A pedido do g1, a equipe da Rede de Observatórios da Segurança também apresentou a evolução dos números de três tipos diferentes de crimes, entre 2020 e 2023. Os resultados sobre agressão, feminicídio e estupro tiveram grande aumento.
No período de quatro anos, o número de mulheres vítimas de violência sexual ou estupro passou de 38 para 89, ou seja, um aumento de 134%.

O total de mulheres agredidas no Rio de Janeiro também teve um salto grande entre 2020 e 2023. No primeiro ano da série histórica, a Rede de Observatórios contabilizou 161 casos de agressão física contra mulheres.
No ano seguinte, 192 casos foram registrados. Em 2022, o estado contabilizou o maior número de mulheres agredidas da série, com 287 casos. No ano seguinte, uma pequena redução, com 256 mulheres vítimas.
Mais de 3 mil vítimas em todo Brasil
O trabalho realizado pela Rede de Observatórios mostra que os casos de violência contra mulheres cresceram em todo o país. Todos os 9 estados analisados mostraram o aumento dos eventos de violência contra mulheres entre 2022 e 2023.
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A cada 24 horas, ao menos oito mulheres foram vítimas de violência em 2023, em oito dos nove estados monitorados pela Rede de Observatórios da Segurança (BA, CE, MA, PA, PE, PI, RJ, SP).
Ao todo, foram registradas 3.181 mulheres vitimadas, representando um aumento de 22,04% em relação a 2022, quando Pará e Amazonas ainda não faziam parte deste monitoramento.
Os dados monitorados apontaram 586 vítimas de feminicídios no Brasil no último ano. Isso significa dizer que, a cada 15 horas, uma mulher morreu em razão do gênero. A grande maioria das mortes foi provocada pelas mãos de parceiros e ex-parceiros (72,70%), munidos de armas brancas (em 38,12% dos casos), ou municiados por armas de fogo (23,75%).
Cristiane dos Anjos Barbosa, de 30 anos, foi morta enquanto amamentava
Reprodução/TV Globo
Os pesquisadores da rede afirmam que “essas vidas poderiam ter sido salvas e os ciclos de violência interrompidos pela intervenção efetiva de um Estado que insiste em negligenciar os dados e dificultar o caminho das vítimas desde a conscientização à denúncia”.
Na visão dos especialistas, o Brasil ainda não aplica da forma correta a Lei 14.541/2023, que determina o funcionamento das delegacias de mulher por 24 horas, entre outras ações.
Os números reduzidos de delegacias especializadas e de locais de atendimento, além da falta de capacitação de agentes na condução e tipificação dos casos, são alguns dos outros problemas citados pelos pesquisadores.
“Existe uma sociedade que normaliza o ódio às mulheres, deslegitima suas dores e desencoraja a denúncia”, sentenciou um dos trechos do trabalho.

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