Dia do Marabaixo: conheça história de ancestralidade e manifestação cultural no Amapá

Manifestação cultural amapaense é celebrada no dia 16 de junho. Marabaixo é a principal manifestação cultural do Amapá
Aydano Fonseca/Tambores e Bandeiras
Cores, dança, gengibirra, música e expressão cultural amapaense. São alguns dos significados do Marabaixo, que tem um dia especial comemorado nesta sexta-feira (16), regulamentado pela Lei Estadual nº: 1521/2010, de autoria do deputado Dalto Martins, já falecido.
O Marabaixo também é reconhecido como patrimônio imaterial pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) desde 2018, com o título de Expressão Cultural Amapaense. O fato é uma vitória para as comunidades, grupos festeiros de Macapá, Mazagão, Campina Grande, Ilha Redonda, que em 2009, protestaram contra a falta de apoio do poder público ao Ciclo do Marabaixo.
Ciclo do Marabaixo
Gabriel Penha/G1-AP
Anualmente, nos meses de maio, junho e julho, nos bairros do Laguinho, na Favela e na comunidade do Curiaú acontecem os festejos em Macapá.
Pesquisa de doutorado
Célia Souza faz parte do grupo de Marabaixo, Santa Lúzia do Maruanum.
Célia Souza / Arquivo Pessoal
A amapaense Célia Souza, doutora em educação pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná- PUCPR, trouxe para sua pesquisa informações detalhadas sobre o Marabaixo e curiosidades pouco divulgadas.
Ela destaca que o Marabaixo é um movimento de resistência que nasce e é organizado dentro das comunidades além de ser também um movimento de educação popular.
“Dentro das comunidades também existem atos de solidariedade, empoderamento e organização social”, pontuou.
Célia acredita que para realizar uma pesquisa, é preciso estar próximo e vivenciar o tema. Por isso, hoje, ela faz parte do grupo de Marabaixo, Santa Lúzia do Maruanum.
“As minhas pesquisas e atividades de extensão são escolhidas de acordo com o mundo da vida. E no Amapá, esta é a nossa maior tradição, ele nos representa, nos constitui como ser amapaense e ressalta nossa história. Por isso decidi pesquisar o marabaixo, as comunidades quilombolas, os movimentos de educação popular , porque acredito que a pesquisa nada mais do que o mundo da vida revelado”, contou.
“O marabaixo é nosso! É tipicamente amapaense, corre nas nossas veias, nosso patrimônio”.
“É importante que a população pare de demonizar, pois não é uma religião, é um movimento amplo de empoderamento das comunidades quilombolas. Uma construção histórica e que vem sendo “tecido” pela comunidade para a comunidade. Precisamos acolher esse patrimônio”, concluiu.
Registros na história e na literatura
Escritor Fernando Canto com o novo livro “O Centauro e as Amazonas”
Coletivo Juremas/Divulgação
A história do Marabaixo também foi registrada em obra literária, pelo escritor Fernando Canto, que lançou em 2017, “O Marabaixo através da História”. O g1 também conversou com o autor sobre o processo de construção da publicação.
De acordo com o autor, o livro surgiu por conta da falta de informações oficiais a respeito do Marabaixo, com linguagem acessível e didática, para minimizar especulações e disponibilizar materiais para pesquisas.
Fernando Canto utiliza artigos e publicações desde 88, para falar sobre a manifestação para que estudantes também tenham acesso.
“O leitor poderá encontrar uma leitura agradável e bem explicativa. Claro que não tem todas as características, mas, como ele nasceu de uma palestra, ele foi abordado da forma mais pedagógica possivel para entender o que é marabaixo no Amapá. Outras informações ficam por conta de quem quiser pesquisar mais a fundo, já que existem mais publicações sobre o tema”
Canto também adianta que será lançado em breve, a 3ª edição do livro “Água benta e o diabo”, que conta sobre o conflito entre os manifestantes do marabaixo e a igreja católica.
Contexto histórico do Marabaixo
Ciclo do Marabaixo no barracão da Tia Gertrudes
Carlos Alberto Jr/G1
Com dados do IPHAN, quanto a origem do nome Marabaixo, existem várias versões atribuindo significados à palavra. A mais conhecida é que negros escravizados na travessia do Atlântico cantavam nos navios negreiros, “mar acima e mar abaixo”. Outra versão é que Marabaixo é originado do Morabit ou Mourabut significando “sacerdotes dos vales”; ou ainda está ligado ao Marabutoou Marabut, do árabe Morabit “sacerdote dos malês”. Os Malês foram negros escravizados de origem islâmica que também foram transportados para o Brasil para servir aos interesses da exploração.
De acordo com o Instituto, a autoria do Marabaixo está atribuida aos negros escravizados por meio do sincretismo religioso, quando começaram a fazer promessas aos santos e assim que a graça era alcançada, para comemorar faziam um Marabaixo.
“fruto da organização e identificação predominante entre as comunidades negras do Amapá, o Marabaixo é uma expressão cultural de devoção e resistência que representa tradições e costumes locais”.
No Amapá, as comunidades marabaxeiras atribuem o significado da dança a memória do sofrimento de negros jogados dos navios negreiros “Mar-a-abaixo”. Assim, o Marabaixo surge como uma herança da formação de comunidades afro e como um movimento de resistência cultural.
Acesse o artigo sobre a história do Marabaixo aqui
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