Funcionários de terceirizada que atende O Boticário relatam descaso com segurança

Trabalhadores relatam desde falta de equipamentos mínimos de segurança na operação de máquinas até casos de assédio moral e humilhação. 

Núcleo UP São José dos Pinhais (PR)


BRASIL – Enquanto promete proteger o patrimônio e as mercadorias de seus clientes milionários, a Porto Seguro Cosméticos LTDA sequer garante o mínimo de segurança física e mental para seus trabalhadores. Atuando sob o nome Leclair Cosméticos, a empresa realiza o envase da produção da fábrica do gigante Grupo Boticário em São José dos Pinhais (PR).

Sem botas, luvas térmicas ou máscaras, funcionários relataram ao Jornal A Verdade a situação precária em que cumprem sua jornada de trabalho. Aqueles que ocupam os cargos mais baixos da produção são os mais precarizados. “Não fornecem botinas para nenhum auxiliar de produção, apenas gestores, líderes de produção e operadores recebem as botinas”, relata um trabalhador.

As luvas térmicas, que são necessárias para realização do trabalho, são fornecidas em tamanho grande, dificultando a realização do serviço e do uso da proteção. Luvas para material cortante, também não são fornecidas, gerando risco diário ao trabalhador que atua com as embalagens de vidro. Algumas amostras ainda têm o risco de serem espalhadas com a pressão, não é incomum cortes nas mãos e no rosto dos trabalhadores e os óculos de proteção ainda são insuficientes e não garantem a proteção completa dos olhos dos operadores.

Outro problema é a falta de treinamento e acompanhamento do serviço após o período de integração. “Somos apenas deixados na linha de produção sem ter uma explicação da função. Nossos próprios colegas, por sua boa vontade, são nossos guias e explicam o que devemos fazer. Essa falta de assistência e de padronização na forma como devem ser realizadas as funções levam a erros e reprovação da produção. Nesse momento, sofremos forte repressão às reprovações, sendo que elas foram ocasionadas, muitas vezes, à falta de conhecimento do colaborador na forma correta de produzir determinado produto”, explica o trabalhador.

Nem mesmo o revezamento dos postos de trabalho é respeitado, o excesso de tempo na função causa LER e estresse psicológico aos trabalhadores. “No final do ano passado e início de 2024, foram transferidos e demitidos metade dos funcionários, o que agora é usado como forma de justificar esse não revezamento, porém isso acontecia mesmo antes de estar nessas condições de escassez de funcionários”. A falta de equipamentos adequados também afeta a ergonomia, gerando ainda mais chances de desenvolver LER. “Existem funções em que devemos ficar em pé por 2h ou mais se o revezamento não for adequado, já que pode acontecer de revezar para outra função em que também ficará em pé, as cadeiras não são pensadas para a função, e também causam dores nas costas”, diz.

Além da falta de segurança na realização do trabalho, o assédio moral, o desrespeito e as humilhações públicas são comuns. “Houveram mudanças mínimas no final do ano passado em relação ao comportamento dos operadores de linha. Até então havia incentivo para que gritassem e expusessem os colaboradores ao ridículo”, conta um trabalhador.

Apesar de tais práticas terem sido reprimidas, os trabalhadores descrevem que a liderança ainda incentiva a humilhação, desde tirar sarro do uniforme dos funcionários até questionamentos inconvenientes sobre a vida pessoal.

“Existe uma mistura entre pessoal e profissional muito grandes, mesmo havendo regras explícitas e palestras de que não devemos fazer brincadeiras entre os colegas, pois podem levar a uma situação incômoda. Como isso vem da liderança, nos força a aceitar as falas e o comportamento indevido, por conta de sua posição na empresa e as possíveis consequências que teríamos se questionassem esse comportamento”, relata.

O resultado desse ambiente tóxico de trabalho é devastador: muitas operadoras relatam ter crises de ansiedade. “Isso é comum em linha também, além do estresse no serviço devido muitas vezes as condições insalubres de falta de EPI’s, ventilação adequada. Ventiladores insuficientes para o número de linhas, além do mau posicionamento, a falta de revezamento, de treinamento e as mãos machucadas por excesso de frascos fechados manualmente geram mais desgaste físico e mental”, desabafa.

Tais condições precárias de trabalho são cada vez mais comuns no Brasil, sobretudo após a implementação da Reforma Trabalhista em que o trabalhador é submetido a retirada de direitos e precarização, sem ao menos ter a chance de se defender com o apoio de seu sindicato.

Diante destes desmandos o único caminho para emancipar a nossa classe é por meio da luta e da organização. Conscientizar nossos colegas de trabalho, ocupar nossos sindicatos e mobilizar greves nos deixará um passo à frente do patrão e mais perto da revolução socialista, a solução definitiva para fazer nossos direitos prevalecerem sobre a lógica do lucro e da exploração.

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