Fuga de Laguna até o Uruguai: Anita e Giuseppe lutam por ideais libertários na América do Sul

Fuga de Laguna até o Uruguai: Anita e Giuseppe lutam por ideais libertários na América do Sul – Foto: Divulgação

No último episódio da série de matérias que o ND Mais está fazendo sobre o fato histórico da tomada de Laguna (e o espetáculo teatral de mesmo nome) pelos farroupilhas republicanos e as lutas de Anita e Giuseppe Garibaldi, encerramos com a retomada da cidade do Sul de Santa Catarina pelas tropas imperiais.

Após ter sido declarada capital da República Catarinense, Laguna experimentou apenas quatros meses de emancipação do governo imperial brasileiro.

Se a chegada dos farroupilhas à cidade promete ser o ponto alto do espetáculo épico “A Tomada de Laguna”, a ser encenado no Centro Histórico em março deste ano, a partida dos revolucionários após perderem a batalha tende a ser o gran finale da obra.

Com cerca de duas horas de duração e 300 atores e figurantes em cena, a superprodução reconta parte da história do Sul do Brasil, das lutas por independência e do romance entre a lagunense Anita e o italiano Giuseppe Garibaldi, que serão interpretados pelos atores nacionais Thaís Melchior e Miguel Coelho.

Encenado ao ar livre e cheio de efeitos especiais, o espetáculo deve reunir cerca de 15 mil espectadores em nove apresentações, de 13 a 30 de março, com ingressos já à venda. Antes da peça começar, saibamos o que aconteceu com Anita e Giuseppe depois que deixaram Laguna.

De Lages ao Uruguai: o percurso de lutas por ideais libertários

Após a retomada de Laguna pelas tropas imperiais, o casal segue em luta por outras regiões – Foto: Divulgação

No final de novembro de 1839, Anita e Giuseppe partiram de Laguna rumo à cidade de Lages, onde passaram o Natal. Mas antes que terminasse o ano marcado por combates, junto de outros 500 farroupilhas o casal ainda enfrentaria mais uma batalha. Na região de Passo de Santa Vitória, na divisa entre Santa Catarina e Rio Grande do Sul, encararam uma tropa de cerca de 2 mil soldados imperiais. Mesmo em número bem menor, os farroupilhas ganharam a disputa. A revanche, entretanto, não tardaria a chegar.

Era 12 de janeiro de 1840 e aquele foi possivelmente o combate mais sangrento de toda a Revolução Farroupilha, ao longo de seus 10 anos de duração. A área onde a batalha foi travada, na atual cidade de Curitibanos, ficou conhecida como capão da mortandade, de onde menos de 100 farroupilhas saíram com vida.

Anita Garibaldi é rendida e feita prisioneira por soldados imperiais. A astúcia da revolucionária, entretanto, a fez conseguir escapar durante a madrugada. Montada em um cavalo, cruzou matas fechadas e atravessou rios a nado até chegar em Vacaria, cidade vizinha no Rio Grande do Sul. Sem saber do paradeiro de Giuseppe, foi ali que o reencontrou junto à tropa republicana sobrevivente.

Antes que decidissem partir para o Uruguai, o casal ainda travaria algumas lutas no Brasil. Em uma delas, em Porto Alegre, Anita carregava o primeiro filho na barriga quando se colocou na linha de frente do combate, recusando os reiterados pedidos de Giuseppe e Bento Gonçalves para que saísse dali.

O pequeno Menotti Garibaldi nasceu em agosto de 1840, na cidade gaúcha de Mostardas, e com apenas 12 dias de vida protagonizou com a mãe um ato de coragem surpreendente. Com a casa em que moravam cercada por imperiais e desesperada por estar sozinha com a criança – Giuseppe havia saído – Anita ainda de camisola monta em um cavalo. Em um dos braços, carrega o filho. Em uma das mãos empunha uma arma. E sai em disparada.

A cena é tão simbólica e representativa dessa mulher que se tornou escultura pública em uma praça na cidade de Roma, na Itália.

Após a fuga, mãe e filho passaram quatro dias escondidos na mata até que Giuseppe os encontrasse. Este episódio somado a tantos outros vistos e vividos durante os combates e a pouca esperança quanto aos resultados da Revolução Farroupilha fez com que Garibaldi pedisse dispensa do exército republicano em 1841. Partiram os três para o Uruguai.

Novas batalhas e uma perda dolorosa

Foi em Montevidéu, capital uruguaia, que Anita e Giuseppe puderam viver dias mais tranquilos em família. Foi ali que a heroína experimentou mais profundamente seu papel de mãe e dona de casa, embora em seu coração continuassem pulsando os desejos de lutar pelas causas republicanas.

Estavam no país estrangeiro porque Garibaldi iria participar da luta pela independência do Uruguai em relação à Argentina. Tão logo assumisse seu posto na defesa naval, Anita viveria momentos de bastante solidão pela ausência do marido em casa.

Embora vivessem juntos há alguns anos, os dois não eram oficialmente casados. Perante a lei, Anita tinha matrimônio com o sapateiro Manuel Duarte de Aguiar, que a abandonou em Laguna para se filiar às tropas imperiais.

Considerando o sumiço do primeiro esposo e a possibilidade de já estar morto, foi no Uruguai que Anita e Giuseppe formalizaram sua união. A cópia da certidão de casamento deles pode ser vista ainda hoje no museu “A Casa de Anita”, em Laguna.

Mas foi também no país estrangeiro que a heroína passou por um de seus mais dolorosos sofrimentos: a perda de sua segunda filha. Nascida uruguaia, Rosita tinha apenas dois anos de idade, em 1845, quando foi acometida por uma grave infecção que a tirou a vida. Meses antes havia nascido a terceira herdeira do casal, Teresa.

Enquanto lutava pelo Uruguai, Giuseppe organizou a chamada legião italiana, um grupo de intelectuais vindos da Itália e da França e exilados na América do Sul que se colocaram à disposição para lutar pela independência do país em que estavam. A casa do casal – que na verdade era um quarto de pensão – tornou-se então ponto de encontro.

Oficiais da marinha e do exército se reuniam ali com os voluntários internacionais para discussões e planejamentos. O mesmo pequeno espaço serviu para que os defensores da república começassem a desenhar o papel de Giuseppe Garibaldi nos movimentos de unificação da Itália, que até então era dividida em vários reinos.

Em 1846 se deu a última batalha em que Garibaldi participou pelo Uruguai. A partir daí, o revolucionário considerou que a independência do país dependia apenas de acordos diplomáticos e ele não teria mais serventia. Era hora de voltar à Itália.

Como havia sido condenado à morte em seu país, por ter participado de uma guerrilha secreta em prol de sua unificação, Anita foi à frente. Junto dos três filhos – até aí, Ricciotti já havia nascido – e com a condição de que Garibaldi trouxesse com ele os restos mortais de Rosita, a heroína desembarcou na Itália no começo de 1848.

Naquele solo, a lagunense revolucionária foi homenageada e é reverenciada até hoje. Foi ali que o casal se tornou heroína e herói de dois mundos. Assunto para o próximo episódio.

Ingressos à venda

Apresentação teatral multimídia retrata a história da lagunense revolucionária Anita Garibaldi, o romance com o italiano Giuseppe e fatos que marcaram a história do Sul do Brasil – Foto: Singular Vídeo

O espetáculo “ A Tomada de Laguna” será apresentado nos dias 13, 14, 15, 16, 21, 22, 23, 28 e 30 de março, sempre às 19 horas, junto às docas do Mercado Público, no Centro Histórico de Laguna.

Os ingressos estão à venda pelo site, onde é possível escolher as apresentações entre os dias 14 e 30 de março, já que o primeiro dia, 13, está reservado para uma ação solidária.

As entradas também estão à venda em 23 pontos de 17 cidades do Sul de Santa Catarina e também do Rio Grande do Sul. Em Laguna, há dois locais: a Recanto Surf, na localidade de Mar Grosso, e a Loja Recanto, no Centro.

“A Tomada de Laguna” é uma realização do Instituto Cultural Anita Garibaldi (CulturAnita), com patrocínio da Celesc, via Programa de Incentivo à Cultura (PIC), e apoio do Governo do Estado de Santa Catarina, Fundação Catarinense de Cultura, Prefeitura de Laguna e Fundação Lagunense de Cultura.

Onde fica e como chegar em Laguna

Laguna está localizada na região Sul de Santa Catarina, distante cerca de 130 quilômetros de Florianópolis. O aeroporto mais próximo da cidade é o Jaguaruna, a cerca de 50 quilômetros. Para quem for viajar de carro, acompanhe abaixo as distâncias entre diferentes regiões de Santa Catarina a Laguna e as principais vias de acesso.

Distância de Joinville a Laguna: 282 quilômetros. O principal acesso se dá pela BR-101, com pedágio pelo caminho.

Distância de Blumenau a Laguna: 252 quilômetros, via BR-101. Há pedágio pelo caminho.

Distância de Florianópolis a Laguna: aproximadamente 130 quilômetros. O principal acesso se dá pela BR-101, com pedágio pelo percurso.

Distância de Criciúma a Laguna: cerca de 95 quilômetros, via BR-101.

Distância de Lages a Laguna: aproximadamente 240 quilômetros. Os principais acessos são pela SC-114 e SC-390.

Distância de Chapecó a Laguna: cerca de 575 quilômetros. O principal acesso no momento é pela BR-282.

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