Região de Campinas tem 28 casos de feminicídios com condenações desde 2015, quando crime foi tipificado

Levantamento do TJ-SP a pedido do g1 aponta 66 processos sentenciados em primeira instância na área de cobertura do g1 Campinas. Advogada destaca importância da punição, mas também do conhecimento para evitar novos casos. Pistola usada em feminicídio ocorrido em condomínio de luxo de Campinas foi apreendida pela polícia.
Reprodução/EPTV
Um levantamento do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) a pedido do g1 mostra que desde 2015, quando o crime de feminicídio foi tipificado no código penal, 66 casos já foram sentenciados em primeira instância em comarcas da região de Campinas (SP). Desses, 28 são condenações.
Dados do Portal da Transparência da Secretaria de Segurança Pública (SSP) de São Paulo apontam o registro de 92 ocorrências como feminicídio nos 31 municípios da área de cobertura do g1 Campinas entre 2015 e 2022. Neste ano, a região já contabiliza 12 vítimas – veja um perfil dos casos abaixo.
Para a advogada Fabia Cristina de Almeida Bigarani, presidente da comissão de Combate à Violência Contra a Mulher da OAB Campinas, a punibilidade para os autores é mais do que necessária, mas é importante que a sociedade discuta cada vez mais o assunto. O conhecimento é, para a especialista, uma forma de combater o crime.
“O conhecimento salva vidas. Por isso me chamarem para palestrar, conversar, eu vou, porque as pessoas se aproximam de você, tiram dúvidas, esclarecem preconceitos que têm em relação às delegacias, ao judiciário, medos e receios que muitas vezes impedem denúncias. Muitas temem retaliação, por isso é importante o conhecimento, saber de todas as medidas, todas as ações que podem ser tomadas, a quem pedir ajuda”, explica Fábia.
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Crime premeditado
A advogada conta que ao acompanhar julgamentos relacionados a feminicídios, muitos dos autores costumam vender a ideia de uma impulsividade para justificar o crime, quando na verdade todos os sinais indicam que a maioria das mortes é premeditada.
“Quando você começa a ver os detalhes, tudo diz que a pessoa premeditou. Chamou a vítima para um lugar ermo, ou foi na casa da vítima à noite, inventa ou justifica qualquer acerto para ser feito pela separação, como móveis, roupas ou dinheiro. Em alguns casos coloca o som elevado para ninguém ouvir a discussão”, detalha.
“Você vê que não é um crime de momento de ímpeto. Em sua maioria é premeditado. Ele já tem em mente que vai acabar com a vida daquela mulher. E muitas vezes já enviou mensagens anteriores, ligações ou mesmo aparecendo trabalho em algum lugar que ele já ameaçou a vida daquela mulher”, completa Fabia.
Feminicídios em 2023
Campinas (SP) é a cidade da área de cobertura do g1 Campinas que mais registrou ocorrências de feminicídio em 2023, com cinco casos. Mogi Guaçu (SP) e Sumaré têm dois casos cada neste ano, enquanto Indaiatuba (SP), Monte Mor (SP) e Hortolândia (SP) têm um cada.
E as ocorrências notificadas mostram que a violência contra a mulher não tem idade. Com 19 anos, a influenciadora digital Micaelly Lara foi a vítima mais jovem de feminicídio neste ano, enquanto Vera Lúcia Tezzaro Momesso, de 69 anos, a mais velha.
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Reprodução
Veja, abaixo, um resumo dos feminicídios na região de Campinas em ordem cronológica.
Regina Lima da Silva Costa, de 40 anos, foi a primeira vítima de feminicídio na região em 2023. Ela foi morta a facadas e marteladas pelo marido e seu corpo foi encontrado dentro de um tanquinho de lavar roupas na casa onde morava, no distrito de Barão Geraldo, em Campinas, no dia 2 de janeiro. O autor foi preso e confessou o crime.
Georgeliana de Lima, de 38 anos, foi morta pelo companheiro em 12 de janeiro, no Jardim Eulina, em Campinas. Segundo o registro da ocorrência, o homem disse que discutiu com a mulher sobre ela usar drogas enquanto ele estava no trabalho. Durante a briga, ele pegou uma faca e esfaqueou a vítima. Ele foi preso em flagrante.
Luana Bezerra de Souza de Lima, de 29 anos, foi encontrada morta na casa onde morava, no Jardim Bela Vista, em Sumaré, no dia 22 de janeiro. De acordo com a polícia, o corpo da vítima tinha sinais de sufocamento. Ex-companheiro, Jorge Diniz Andrade confessou o crime e foi preso.
Maria Aparecida Soares Mendes de Oliveira, de 25 anos, foi morta a facadas pelo companheiro no bairro Igaçaba, em Mogi Guaçu (SP), em 13 de fevereiro. Ela estava com a filha no colo e a entregou para a sogra antes de ser assassinada na própria casa. O autor, Caio Renan Mendes de Oliveira, de 27 anos, tentou se matar depois do crime.
Roberta Rodrigues dos Santos Correia, de 30 anos, foi morta a facadas por Cleverson da Silva Correia, de 39 anos, no distrito de Barão Geraldo, em Campinas, na noite de 21 de fevereiro. Ela foi agredida pelo companheiro em casa enquanto um dos dois filhos do casal dormia em um quarto. Segundo uma amiga, a vítima havia pedido o divórcio.
Stefani Cardoso dos Santos, de 20 anos, foi morta a tiros pelo ex-companheiro no bairro Jardim São Clemente, em Monte Mor, no dia 20 de abril. A jovem chegou a ser socorrida e levada ao hospital, mas não não resistiu aos ferimentos. Ela tinha uma medida protetiva contra o ex, que chegou a fugir, mas foi preso.
Vera Lúcia Tezzaro Momesso, de 69 anos, foi morta com um tiro pelo marido dentro da casa onde eles moravam, no bairro São Carlos, em Mogi Guaçu, na noite de 30 de abril. Jairo Momesso, de 77 anos, foi preso em flagrante na residência e confessou o crime. Eles estavam juntos há 52 anos, segundo relato do filho à polícia.
Lenita Maria Furlan, de 26 anos, foi morta a pauladas junto de um rapaz de 23 anos, dentro de uma cara no Jardim Juscelino Kubitschek, em Indaiatuba, no dia 5 de maio. Suspeito do crime, namorado da vítima se entregou e foi preso em flagrante.
Micaelly dos Santos Lara, de 19 anos, foi morta com um tiro pelo ex, dentro do carro dele no Jardim Santa Clara do Lago II, em Hortolândia, na noite de 15 de maio. David Aparecido da Silva Alves, que tinha cadastro como Colecionador, Atirador Esportivo e Caçador (CAC).
Dalila Mosciati, de 37 anos, foi levada morta ao hospital Samaritano, em Campinas, com sinais de estrangulamento. O caso ocorreu no dia 17 de maio. O marido, Eduardo Vieira Cintra, foi preso em flagrante pelo crime, registrado como feminicídio. Um parente da vítima alegou que Eduardo tinha problema com drogas e era uma pessoa frustrada financeiramente.
Fabiana Alves Gastardão, de 43 anos, foi morta com golpes de faca e martelo pelo ex-companheiro no Jardim Aeroporto, em Campinas, no dia 22 de maio. O autor cometeu suicídio na sequência. A vítima tinha uma medida protetiva contra o ex, por agressão. Segundo parentes, o casal ficou junto por 25 anos e estava separado havia um mês, mas ele não aceitava o fim do relacionamento. Fabiana deixou dois filhos.
Cristiane Pereira, de 52 anos, foi morta pela namorada com uma facada na região do tórax, na noite de 23 de maio, na Vila Operário, em Sumaré (SP). De acordo com a Polícia Civil, a autora confessou o crime e foi presa. O motivo do crime seria uma discussão por ciúmes. A vítima havia registrado, dias antes, um boletim de ocorrência contra Eliane Américo Pereira, de 56 anos, após levar uma facada no pescoço. Mesmo se tratando de uma relação homoafetiva, o caso se caracteriza como feminicídio – entenda.
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