‘Justiça seria minha filha voltar, o que eu quero é reparação’, diz mãe de Kathlen, 2 anos após a morte

Designer de interiores de 24 anos estava grávida de 3 meses quando foi atingida por um tiro de fuzil no peito disparado por um PM. Próxima audiência está marcada para 7 de agosto. Dois anos da morte de Kathlen Romeu é lembrado em ato no Rio
A quinta-feira (8) marcou dois anos do assassinato da designer de interiores Kathlen Romeu, de 24 anos, atingida por um tiro de fuzil de um policial militar.
O tempo não foi suficiente para curar o coração dos familiares. A mãe, Jaqueline Oliveira, contou à TV Globo que seus dias têm alternado em fases de sofrimento, dor e resistência – e que sua vida se resume entre “trabalho e terapia”.
A próxima audiência está marcada para 7 de agosto. Mesmo que os acusados sejam condenados, Jaqueline não sente que esse processo fará a justiça merecida para esta situação.
“O que eu espero da Justiça é um reparo social. Justiça seria ela voltar. Bateu o martelo, e ela volta. Mas ela não volta! Os maiores condenados nessa história toda somos nós”, diz a mãe.
“O luto tem diversas faces. Tem dia que você chora muito, tem dia que fica revoltada, com muito ódio. Tem dia que você só fica vazia, tem dia que só quer se enfiar num buraco, que não quer falar com ninguém. Mas todos os dias a gente tem que seguir”, desabafa Jaqueline.
Parentes e amigos fizeram uma manifestação para cobrar respostas da Justiça
Em dezembro de 2021, cinco PMs passaram a ser réus depois que o Ministério Público do Estado (MPRJ) os denunciou por falso testemunho e fraude processual.
O julgamento mais recente aconteceu na última semana. Nesta etapa, que ainda vai durar mais alguns meses, o juiz Leonardo Rodrigues da Silva Picanço pretende ouvir testemunhas e os PMs acusados.
Vazio
O vazio deixado pela filha só pode ser preenchido pelas memórias, mas isso não é suficiente. O espaço que deveria ser o lar de Kathlen, hoje abriga seus pertences, sua história e suas recordações. O apartamento, que foi comprado pela própria designer, pouco antes de morrer, hoje é o retrato da vida de seus pais.
“Do mesmo jeito que isso aqui está vazio, nossa vida também está”, lamentou a mãe, que recebeu o RJ2 no apartamento.
Para o pai de Kathlen, sua vida foi brutalmente dividida pela violência. Ele diz sentir como se a história da sua família estivesse estagnada no mesmo ponto em que perdeu a filha.
“A minha vida se resumia antes do dia 8 de junho de 2021 e depois do dia 8, porque nesse dia, o tiro que minha filha tomou, eu e toda minha família tomamos também. A gente vive um dia de cada vez, mas a gente já foi condenado junto com ela. Executaram toda a minha família.”
Dois anos da morte de Kathlen Romeu é lembrado em ato no Rio
Manifestação por Kath
O longo período em que a família da moça espera por uma resposta da Justiça fez os parentes e amigos de Kathlen se reunirem em uma manifestação na quinta-feira no Leme, na Zona Sul do Rio, para cobrar solução.
“É uma coisa que ela sempre amou, sempre gostou, então, a gente escolheu – como esse é o dia 8 – em vez de ficar cada um na sua casa, a gente tá com os amigos juntos, com a família. Todo mundo unido pra poder fazer essa homenagem pra ela”, diz o tatuador e designer gráfico Marcelo Ramos, namorado de Kathlen e pai do filho que ela estava esperando.
Kathlen Romeu
Reprodução/Redes sociais
Vestidos com camisetas com a foto de Katlen grávida, amigos e parentes também levaram bandeiras e colocaram adesivos para falar do racismo. Eles também leram uma carta aberta.
A designer de interiores foi atingida durante uma operação da PM. Na época, os policiais militares alegaram ter revidado a um ataque de bandidos.
Os dois PMs acusados pelo homicídio da jovem são: Marcos Felipe da Silva Salviano e Rodrigo Correia de Frias. Eles patrulhavam a região onde a jovem foi baleada.
Kathlen Romeu morreu vítima de bala perdida na região da Grajaú-Jacarepaguá, na tarde desta terça-feira (8)
Reprodução redes sociais
Além de réus por homicídio, eles respondem, junto com mais três PMs, por fraude processual, já que são suspeitos de terem alterado a cena do crime.
“A gente não pode normalizar que uma mulher grávida seja assassinada numa guerra entre policial e bandido que só se justifica com corpos negros tombando corpos inocentes. Os assassinos tão soltos, vivendo a vida deles. Talvez curtindo um dia de sol com a família deles, e eu tô aqui com uma camisa, com uma bandeira (chora), com o resto que o estado me deixou”, diz a mãe de Katlen.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.