Mossoroense que lapidou canções junto com Belchior lança livro de cancioneiro em Natal

O mossoroense José Gomes Neto, linguista, professor aposentado da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e amigo pessoal de Belchior (1946-2017), chega ao Belch Bar, em Natal, para compartilhar memórias. No sábado (3), a partir das 19h30, ele apresenta o livro Cancioneiro Belchior. A casa recebe também o músico Jô Bay para tributo.

A obra, publicada em 2021 pela editora Vitelli, não foi distribuída por todo o Brasil e acompanha o autor em suas viagens. O volume tem 283 páginas e absolutamente todas as letras de Belchior e seus parceiros. Um deles, Jorge Mello, é responsável pela Apresentação do livro.

Já José Gomes Neto não assinou nenhuma das canções com Belchior, mas era responsável por lapidá-las com o artista. Ele fez também um estudo introdutório à obra que sempre considerou “de primeira grandeza pela densidade poética” e merecedora de ser “enfeixada em um livro” se contrapondo à dispersão dos encartes de vinis.

Fotografias feitas na casa de José Gomes Neto

“Eu era companheiro na hora de elaboração das letras, dava pitacos, mas nunca me envolvi com parceria, embora muitas vezes ele quisesse minha participação. Eu insistia em ficar limitado ao meu papel de linguista, estabelecendo o texto”, conta, ao explicar que o recurso é conceituado pela Linguística e pela Filologia, áreas pelas quais Belchior tinha interesse.

“Não era um estudioso como eu, que era professor de universidade, mas tinha profundo interesse por Literatura e por esses elementos que dão brilho ou legitimam o texto quando às vezes a própria autoria é discutida”, detalha, salientando que não se trata de revisão, porque isso implicaria em correção.

“O nosso trabalho era estabelecer o texto. Esse estabelecimento não foi feito por mim isoladamente, era feito com o Belchior do lado discutindo cada sinal que seria posto. Nada mais é do que comparar versões, estabelecer qual versão deve prevalecer.”

O professor destaca que a mesma letra interpretada por diferentes cantores gera diferentes versões não só da melodia. As letras também são alteradas. É o que aconteceu com o clássico “Como nossos pais”.

A letra original é:

“Hoje eu sei que quem me deu a ideia de uma nova consciência e juventude tá em casa, guardado por Deus, contando os seus metais.”

Elis Regina cantou:

“Guardado por Deus
Contando o vil metal”

“Belchior nunca achou que o dinheiro fosse vil. A Elis, interpretando em sua magnitude, achou pertinente passar esse esculacho no capitalismo.”, constatou, sem reclamar da mudança, atendo-se ao fato.

E dá outros exemplos de mudanças, como quando mulheres cantam a letras masculinas (ou vice-versa) e trocam gênero das palavras. Ou ainda a apresentação das letras nos discos, algo sem tanta importância para uma leitura desatenta.

“O compositor grava e entrega as letras para a gravadora. O sistema quase sempre iniciava cada verso com letra maiúscula [como na citação acima]. Mas nosso interesse era criar um texto. Tirávamos a letra maiúscula quando era parte do verso anterior. O grande interesse era dar vida própria à letra, fazendo com que o texto em si tivesse o seu peso e o seu valor independentemente do aparato musical.”

É assim que as canções se reúnem agora no livro que prometeu ao amigo publicar. “Disse que se ele morresse antes, eu me comprometia a isso.”, revela José Gomes e faz as contas da última vez que viu o compositor. Uma semana antes do seu exílio no Uruguai, em 2007, esteve na casa do companheiro de escrita para se despedir. “Parece que foi ontem.”

 

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